Livro que será distribuído para escolas prega liberalismo e meritocracia

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Todos os dias, o Rei do Churros acorda bem cedo, compra seus ingredientes, prepara os doces, coloca em seu carrinho e anda muito até a porta de uma escola para vendê-los para a criançada.

Ele nunca os distribui de graça, porque isso seria recompensar quem não está dando duro para ganhar seu sustento. Também está sempre empenhado em que seus churros sejam deliciosos, para que as crianças não parem de comprar dele e mudem para o Rei do Picolé.

O Rei do Churros é uma metáfora para crianças de um dos clássicos do liberalismo, “As Seis Lições”, de Ludwig von Mises, um dos pais da chamada Escola Austríaca, defensora do Estado mínimo e da primazia do mercado.

A adaptação da obra de Mises para linguagem infantil está para ser lançada em livro pelo Instituto Liberdade e Justiça, que se dedica ao liberalismo com foco na educação e tem sede em Goiânia (GO).

A obra tem o título de “Antônio e o Segredo do Universo em Seis Lições” e sairá com uma tiragem de 2.000 exemplares, que serão distribuídos para escolas, ONGs e bibliotecas de Goiás e outros estados.

Antônio, o personagem principal, fica curioso para saber como o Rei do Churros, um vendedor que aparece todo dia na frente de sua escola, ostenta esse título tão grandioso. Quem explica é Ludovico (referência ao primeiro nome de Mises), um adulto amigo de sua família.

“A história é uma forma de trabalhar questões de produtividade, de que as coisas não acontecem por acaso. Ele não é o rei porque tem um castelo, é porque faz bem o churros”, diz Giuliano Miotto, 46, presidente do instituto e principal roteirista da história.

Principal, mas não único, ele frisa, porque a revisão fica a cargo de sua filha de 9 anos, Sofia. “Ela que me diz se o livro está claro para uma criança”.

A história do Rei do Churros é a segunda que Miotto lança para apresentar ideias liberais para crianças. No ano passado, saiu “Anya e o Mistério do Sumiço de Galt”, cuja referência é o clássico “A Revolta de Atlas”, da russa Ayn Rand.

Se no original o Estado totalitário oprime os amantes da liberdade e do empreendedorismo, que fogem do país, na versão infantil o cãozinho Galt se refugia numa caverna de “um rei malvado que gostava de tomar as coisas das pessoas”.

Formado em direito, Miotto diz que sempre teve interesse por literatura, especialmente autores russos. Já participou de coletâneas de contos e poesias. Em 2015, fundou o instituto, em meio à proliferação de entidades liberais pelo país que coincidiu com o desgaste do governo do PT.

Mas enquanto a maioria dos institutos côngeneres prioriza a economia, ele preferiu dedicar-se à difusão do liberalismo por meio da educação. Daí veio a ideia de criar uma coleção de livros infantis, que ganhou o nome de Turminha da Liberdade.

A educação é uma das novas trincheiras dos liberais, que consideram ser necessário reduzir o que veem como monopólio das ideias de esquerda no sistema de ensino brasileiro. “A educação hoje é muito focada em enfraquecer o indivíduo em prol de um projeto coletivo. Indivíduos fracos fazem um coletivo fraco”, afirma ele.

Para Miotto, a ênfase no papel social da criança não vem acompanhada dos valores de responsabilidade individual. “A criança aprende muito sobre cidadania, cuidar de meio ambiente, mas não aprende a arrumar o quarto, a ter respeito pelo professor”, afirma.

Os livros da Turminha da Liberdade não têm apoio público e são feitos com dinheiro 100% privado, diz Miotto. O custo de cada exemplar chega a cerca de R$ 17. Com a tiragem de 2.000 livros prevista para a história do Rei do Churros, o investimento total, portanto, é de R$ 34 mil, bancados por empresas e escolas particulares.

“Já tivemos contato de pessoas interessadas no livro no Uruguai, na Espanha e na Argentina. Temos planos de traduzir para espanhol, alemão e inglês”, diz.

O terceiro livro da série já está nos planos. Será uma adaptação infantil de “Beleza”, do filósofo britânico conservador Roger Scruton, e terá uma crítica sutil às polêmicas exposições de arte que contêm elementos como nudez e ataques à religiosidade.

“A arte precisa ser bela, precisa transmitir valores importantes para o engrandecimento da alma das pessoas”, afirma Miotto.

Da FSP