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Outra visão do 9 de julho: ‘movimento armado paulista’

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Pesquisadores aponte que o movimento teve ‘viés legalista’ e queria a volta do predomínio de SP e MG na política nacional; 3 mil pessoas teriam morrido.

Desde 1997, o estado de São Paulo recorda, em todo 9 de julho, o movimento constitucionalista de 1932. Embora o movimento tenha envolvido outros estados, somente os paulistas conceberam um feriado para celebrar a data. Historiadores apontam para um número de 3 mil mortos, o que torna o episódio no mais sangrento conflito em território brasileiro no século 20.

Também chamado de “guerra civil” e “revolução”, o movimento armado paulista pretendia destituir Getúlio Vargas da presidência do país. O gaúcho assumira o poder em 1930, após um golpe de Estado que colocou por terra a República Velha e retirou de São Paulo e Minas Gerais o protagonismo na política nacional.

A elite paulista, liderada pelos setores cafeicultor e industrial, organizou o levante para garantir a retomada dos privilégios. Outra demanda era a abertura de uma Assembleia Constituinte, o que explica o nome do movimento.

“As piores acusações que o movimento enfrentou em seu período de gestação (e nos debates historiográficos) era o caráter separatista e regionalista do movimento, assim como sua função estritamente política de restabelecer o controle político federal (perdido com a Revolução de 1930), que permitia a São Paulo garantir sua desejada autonomia. Para contrapor a acusação do caráter estritamente político do levante, o discurso paulista era sempre recheado de argumentos morais. Não se lutava para retomar a hegemonia, mas sim pela civilidade, pela liberdade e pela honra de São Paulo”, aponta o historiador Francisco Quartim de Moraes, em sua pesquisa de mestrado “1932: a história invertida.”

Ao reivindicar a autonomia paulista, integrantes e apoiadores do movimento lançavam mão, diversas vezes, de discurso xenófobo e racista. Os nordestinos, por exemplo, era comum que fossem chamados de “cabeças chatas”, como lembra Quartim de Moraes. “Não é a toa que uma das organizações de apoio ao levante armado de 1932 se chamava ‘Liga pela Constituição e pela Ordem, de paulistas de nascimento’. O principal argumento dos que sustentavam essa visão era seu pujante desenvolvimento econômico em oposição ao atraso dos outros estados”, lembra.

O conflito teve início em 9 de julho de 1932 e só terminou em 2 de outubro do mesmo ano. São Paulo foi o centro da revolta e o campo de batalha com  as tropas federais, mas o movimento teve apoio de outros estados: parte de Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia e Amazonas enviaram apoio para a luta.

Nas ruas de São Paulo, o levante também ganhou a adesão significativa da população, como explica Quartim de Moraes.

“Os defensores do levante paulista de 1932 costumam exaltar a unanimidade do movimento. De fato, independentemente dos métodos de convencimento, o apoio à luta armada foi bastante generalizado em São Paulo. Pessoas das mais diferentes posições políticas, classes sociais e origens se manifestaram a favor do levante. Porém, ainda que minoria, não faltaram os que se opusessem a guerra”, explica o historiador em seu livro.

Estima-se que 35 mil paulistas lutaram contras 100 mil homens das forças federais. Getúlio Vargas seguiu no poder até 1945. Em 1934, uma nova Constituição foi elaborada, principal reivindicação do levante de 1932.

A tese “1932: a história invertida”, do historiador Francisco Quartim de Moraes se tornou um livro, publicado pela Editora Anita Garibaldi.

De BrasildeFato