Damares exonera servidora crítica à Reforma da Previdência

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Foto: JORGE WILLIAM 22/05/2019 / AGÊNCIA O GLOBO

Em ato unilateral e sem consulta prévia, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos exonerou nesta terça-feira a coordenadora-geral do Conselho Nacional de Direitos Humanos(CNDH), Caroline Dias dos Reis, que é servidora na pasta. A medida foi o estopim para uma manifestação dura da entidade contra a titular do ministério, Damares Alves.

Segundo nota divulgada, Damares teria agido de forma arbitrária e desrespeitado a autonomia e independência administrativa do Conselho, que diz estar “sob intervenção” e “ataques” do governo. A pasta nega, afirmando que o cargo é de “livre nomeação e exoneração”, sendo “ato discricionário da Administração”.

O CNDH é um conselho setorial, paritário (tem representantes em igual número do governo e da sociedade civil) e tem a função de fiscalizar e contribuir para as políticas públicas de direitos humanos no país. A exoneração de Caroline pegou os conselheiros de surpresa, que já oficializaram um pedido a Damares para que reveja o ato. Na solicitação, a entidade afirma que a medida contraria as recomendações feitas ao Brasil pelas Nações Unidas em torno da independência da entidade.

A exoneração veio menos de 24 horas após Damares travar uma briga pública com o CNDH. Na segunda-feira, nas redes sociais, ao compartilhar uma notícia sobre posição contrária à reforma da Previdência do conselho, apresentado na reportagem como “ligado” a ela, a ministra disparou: “Não, jornalista. Este Conselho não é ligado a mim. Atua de forma independente. Aliás, recomendo que ignorem as manifestações ideológicas deste colegiado, que está longe de se preocupar com direitos humanos”.

Na nota, o conselho lembrou o episódio, ressaltando que a exoneração da coordenadora, eleita em dezembro do ano passado, ocorre um dia depois de Damares “realizar ataque público ao CNDH”. O colegiado afirmou também que desde ontem está sendo impedido de divulgar suas recomendações, decisões e resoluções no site da pasta. Segundo a entidade, o governo conduz um “um processo de inviabilização de suas atribuições”, com cortes de orçamento e insuficiência de pessoal.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos informou, em nota , que a alegação de “interferência nos trabalhos da Comissão” é “inverídica e insustentável, sem qualquer fundamentação legal ou documental”. Informou que a indicação para cargo em comissão é, segundo a Constituição, ato discricionário do governo, que não precisa de motivação.

“Portanto, as eventuais mudanças no quadro de provimento independem de justificativa e são caracterizados como ato discricionário da Administração”, destaca a nota. A pasta afirmou ainda que “a servidora continuará exercendo seu cargo efetivo. E que, por ocupar cargo desta natureza, possui vínculo com a Administração, e não com a referida Comissão.” O Ministério afirmou que “outro servidor com comprovada capacidade técnica será nomeado para a vaga” e que continua “dando ao CNDH toda a autonomia que a legislação exige para que cumpra o seu papel institucional”.

De O Globo