Efeito Bolsonaro: TO perde 500 hectares de área preservada

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Foto: WWF-Brasil/Bruno Taitson

Uma área de quase 500 hectares (5 quilômetros quadrados) na municipalidade de Rio Sono, no Tocantins, foi devastada em menos de dois meses pela ação irregular de supostos agricultores. Um levantamento feito pela plataforma MapBiomas, com fotos de satélite fornecidas pela empresa Planet, flagrou a atividade ilegal na região mais bem preservada de todo estado. A suspeita é de que o terreno tenha sido convertido para a plantação de soja.

Rio Sono registrou um dos maiores alertas consolidados pela MapBiomas neste ano. A plataforma cruza dados do Deter, o sistema de monitoramento utilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com informações fundiárias e de fiscalização. O levantamento é refinado com imagens em maior resolução, fornecidas pela Planet — a mesma que foi elogiada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em entrevista a VEJA.

O desmatamento não autorizado ocorreu entre 29 de janeiro e 21 de março. Rio Sono, caracterizado pela vegetação de Cerrado, está localizado nas cercanias do Parque do Jalapão. “Historicamente, a região apresentava pouco desmatamento, mas parece estar despontando como uma nova fronteira”, afirma a diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Ane Alencar, que analisou as imagens a pedido de VEJA.

A agricultura em larga escala é recente na cidade, mas as imagens apresentam fortes indícios de que a área foi desmatada para receber o plantio de soja. VEJA apresentou o estudo a outro especialista na região que, em anonimato, apontou para a presença de leiras de limpeza características em plantações desse tipo.

A presença do cultivo nesta área consolidaria a formação de um novo centro de produção. A reportagem apurou no município que houve um aumento na procura de terras para plantar soja, com foco voltado para exportação. Os preços baixos na região, de 15.000 reais a 18.000 reais por alqueire (4,84 hectares), têm atraído produtores de fora do estado.

O Naturatins, órgão responsável pela política ambiental do Tocantins e pela fiscalização das áreas preservadas, não comentou o caso específico das terras desmatadas. O órgão divulgou nota dizendo que todas as “autorizações para a conversão do uso do solo para áreas no município de Rio Sono foram emitidas seguindo a legislação ambiental vigente no país”. O Naturatins disse também que autorizou a conversão do uso do solo de 171 hectares em 2019.

Reportagem publicada por VEJA mostra que as bravatas do presidente Jair Bolsonaro e as ações do governo relacionadas a temas como o desmatamento da Amazônia arranharam a imagem do Brasil no exterior e podem gerar perdas importantes na economia. Sinalizações dos riscos ao país foram emitidas nos últimos dias. Os governos de Alemanha e Noruega cancelaram repasses milionários para programas de preservação da floresta amazônica sob alegação de que o Brasil não demonstra comprometimento para evitar crimes ambientais.

Da Veja