Maia cita Venezuela ao comentar fala de Carlos
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta terça-feira (10) que não cabe num país democrático a declaração do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) segundo a qual, por vias democráticas, não haverá as mudanças rápidas desejadas no país.
“Eu preferia nem comentar esse assunto, porque é uma declaração que não cabe num país democrático”, disse Maia a jornalistas ao chegar à Câmara. “Mas a gente viu o que aconteceu com a Venezuela, são mais de mil venezuelanos todos os dias passando a fronteira para o Brasil, pessoas passando fome, necessidade. É isso que deu a pressa da Venezuela sem um sistema democrático”, afirmou.
Na segunda-feira, em postagem alvo de críticas de políticos e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Carlos escreveu: “Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!”
“Frases como essa devem colaborar muito com a insegurança de empresários brasileiros e estrangeiros”, afirmou Maia. “A gente tem que tomar cuidado com as nossas narrativas porque muitas vezes são além de frases mal colocadas, causam danos ao povo mais carente brasileiro.”
Para o presidente da Câmara, é preciso que figuras públicas prestem mais atenção às falas. “A conta das nossas frases quem paga é o povo mais pobre”, disse.
Maia tem evitado bater de frente com o governo de Jair Bolsonaro neste segundo semestre, e não havia se pronunciado até a tarde desta quarta sobre a declaração de Carlos.
O entendimento de aliados do presidente é de que rebater declarações aumenta a visibilidade do vereador. O presidente tem adotado postura de não polemizar com as falas do Planalto. No caso da Amazônia, por exemplo, ele buscou se distanciar de Bolsonaro sem fazer ataques diretos ao presidente.
A postagem inicial de Carlos Bolsonaro recebeu uma série de críticas. Além de Rodrigo Maia, falaram a respeito o presidente interino, Hamilton Mourão (PRTB), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o governador paulista, João Doria (PSDB).
Segundo pesquisa Datafolha feita no mês passado, 70% da população diz acreditar que os filhos de Jair Bolsonaro mais atrapalham do que ajudam seu governo.
Nesta terça, Mourão defendeu a importância do regime democrático e disse que é possível aprovar medidas com mais celeridade negociando com o Poder Legislativo.
O general da reserva salientou que, se não fosse o regime democrático, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não teria chegado ao comando do Poder Executivo e afirmou que o atual sistema político representa um dos “pilares da civilização ocidental”.
Para o presidente do Senado, as declarações como a de Carlos Bolsonaro merecem desprezo porque a democracia está fortalecida. “O Senado Federal, o Parlamento brasileiro, a democracia estão fortalecidos. As instituições todas estão pujantes, trabalhamos a favor do Brasil. Então, uma manifestação ou outra em relação a este enfraquecimento tem, da minha parte, o meu desprezo”, reagiu Davi Alcolumbre.
Já Ciro Gomes cobrou uma declaração pública do presidente Jair Bolsonaro em relação à frase de seu filho, enquanto Doria disse pensar o oposto de Carlos.
Diante da repercussão, Carlos Bolsonaro justificou nesta terça-feira (10) sua afirmação de um dia antes.
O vereador chamou jornalistas de “canalhas” por terem, segundo ele, interpretado de forma equivocada a frase postada por ele na segunda-feira (9). Disse ainda que a declaração sobre democracia se trata de uma justificativa aos que pedem mudanças urgentes, e não uma defesa dele da ditadura militar (1964-85).
“O que falei: por vias democráticas as coisas não mudam rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram mudanças urgentes. O que jornalistas espalham: Carlos Bolsonaro defende ditadura. CANALHAS! “, tuitou.
As postagens de Carlos foram feitas enquanto seu pai está internado em São Paulo após passar por cirurgia no domingo (8), a quarta decorrente da facada que levou há um ano durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
Carlos Bolsonaro pediu licença não remunerada da Câmara Municipal do Rio de Janeiro no último dia 6 de setembro. A comunicação foi publicada nesta terça-feira no Diário Oficial da Casa. Desde sábado (7) acompanhando o pai, ele tem dormido no Hospital Vila Nova Star, na zona sul de São Paulo.
OUTRAS POLÊMICAS DE CARLOS BOLSONARO NO TWITTER
Demissão de Bebianno
Em fevereiro, Gustavo Bebianno foi demitido da Secretaria-Geral da Presidência após uma crise desencadeada por uma postagem de Carlos. O filho do presidente postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera, negando a turbulência política causada pelas denúncias das candidaturas laranjas no PSL. O post foi reproduzido na página de Bolsonaro.
Críticas a Mourão
Nas redes sociais, Carlos já fez diversas críticas ao vice-presidente, o general Hamilton Mourão. Em abril, quando o vice foi convidado a dar uma palestra nos EUA e foi anunciado como “uma voz de razão e moderação, capaz de orientar a direção em assuntos nacionais e internacionais”,Carlos escreveu um comentário recheado de ironias e disse que o jogo de Mourão estava muito claro.
Ele também disse que o general tinha um estranho alinhamento com políticos que detestam o presidente, em referência a um comentário de Mourão lamentando a decisão de Jean Wyllys de deixar o Brasil e não tomar posse como deputado federal.
Em outro episódio, desta vez em junho, quando Bolsonaro estava em visita oficial na Argentina Carlos escreveu que tinha saudades do presidente de verdade “pró-armamento da população e contra o aborto”.
Demissão de Santos Cruz
Carlos foi acusado pelo general Carlos Alberto Santos Cruz, então chefe da Secretaria de Governo, de ter promovido um ataque virtual ao ministro. O caso aconteceu em maio, e a hashtag #ForaSantosCruz ficou entre as mais populares do Twitter. A disputa teria sido motivada pelo descontentamento de Carlos com a estratégia de comunicação da Presidência, a cargo do general. Em junho, Santos Cruz foi demitido.
De FSP