‘Óleo é da Venezuela”, diz Salles

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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse nesta quarta-feira (9) que o óleo derramado em praias do Nordeste é de origem, “muito provavelmente, da Venezuela”, atribuindo a informação a relatório elaborado pela Petrobras.

Um laboratório da estatal analisou 23 amostras do resíduo recolhido no litoral. Os técnicos compararam as moléculas com o material produzido pelo Brasil. Segundo relatório, o óleo encontrado não é produzido, comercializado e nem transportado pela estatal, mas uma mistura de óleos venezuelanos.

Segundo o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, ainda não é possível dizer de onde o óleo veio. Segundo Castello Branco, há três hipóteses: um navio afundado, um acidente durante a passagem de óleo de um navio para outro ou despejo criminoso.

“Esse petróleo que está vindo, muito provavelmente da Venezuela como disse o estudo da Petrobras, é um petróleo que veio de um navio estrangeiro, ao que tudo indica, navegando próximo à costa brasileira, com derramamento acidental ou não, e que nós estamos tendo uma enorme dificuldade de conter”, disse o ministro durante audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.

Ainda que um suposto navio tenha derramado o óleo, essa embarcação não é necessariamente venezuelana. Pode ser um navio com bandeira de outro país transportando petróleo venezuelano.

A participação do ministro se deu em meio à contaminação de praias do Nordeste por manchas de petróleo. Desde setembro, pelo menos 138 locais em 62 municípios de 9 estados foram atingidos – Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

 

O ministro foi convidado pelo colegiado para prestar esclarecimentos sobre o desmatamento da floresta amazônica.

Inicialmente, o requerimento, de autoria do deputado Chico D’Angelo (PDT-RJ), era para uma convocação – o que obrigaria Salles a comparecer – mas foi convertido em convite ao ser aprovado pelos parlamentares.

A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS), que também assinou o requerimento de convite ao ministro, foi uma das parlamentares que questionou o ministro sobre medidas do governo para conter o vazamento.

“Poderia lhe perguntar, e acho que é muito importante, as medidas emergenciais diante desse vazamento de óleo que já atinge 138 pontos em 9 estados do Brasil. Mas eu não tenho ilusão com as suas respostas”, disse. “Sério, ministro, eu lhe peço por escrito. Tanto o plano de combate ao desmatamento quanto ao plano emergencial agora para conter esses vazamentos.”

Salles afirmou que o Ibama e o ICMBio estão “trabalhando incessantemente desde o dia 2 de setembro”. Segundo ele, foram mais de 110 horas de voo de avião com sensoriamento remoto do Ibama desde o início do acidente, além de 80 horas de voo de helicóptero para reconhecimento aéreo.

O ministro também afirmou que já foram recolhidas 100 toneladas de óleo por essas equipes.

O presidente Jair Bolsonaro não quis comentar o estudo da Petrobras quando questionado por jornalistas nesta quarta (9).

“A Petrobras disse, perguntem para o [Roberto] Castello Branco [presidente da Petrobrás]”, disse a jornalistas, na saída do Palácio da Alvorada.

O presidente já havia dito, nesta terça-feira, que investigadores já consideram um país onde o óleo foi extraído, mas não citou qual seria. Bolsonaro disse que “não poderia acusar um país”.

O ministro foi questionado pelo deputado federal Julio Delgado (PSB-MG) sobre o leilão de sete blocos marítimos que ficam no litoral da Bahia, marcado para esta quinta-feira (10). O parlamentar alega que isso poderia causar danos ambientais ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos.

“Vai ter plataforma de petróleo muito nas proximidades de Abrolhos. E não vai ser um óleo cru que vai derramar de navio, não. Se tiver um vazamento lá, acabou a maior reserva ambiental do Atlântico Sul”, disse o deputado, cobrando medidas do governo.

Delgado citou decisão da Justiça Federal da Bahia desta terça-feira (8) para permitir o leilão desta quinta-feira, mas deixá-lo sub judice. Lembrou, também, de autorização do Ibama para a exploração de petróleo na área, apesar de recomendação contrária de técnicos do órgão.

“No começo do ano, foi de vocês o cancelamento de uma nota do Ibama que receitava que não teríamos a exploração de petróleo na região de Abrolhos.”

Em ação civil pública movida contra o leilão, o Ministério Público Federal (MPF) alega que o presidente do Ibama liberou leilão das áreas mesmo depois que técnicos do órgão emitiram parecer dizendo que, em caso de acidente com derramamento de óleo, os impactos podem atingir todo o litoral sul da Bahia e a costa do Espírito Santo.

Ao responder o deputado, Salles disse que o incidente do óleo cru no litoral do Nordeste “importância, justamente, de um licenciamento, de um modelo, e de um sistema que seja de contenção de danos bastante eficiente”.

“O que foi subscrito pela presidência do Ibama não foi autorizar operações, foi simplesmente dizer que quando do licenciamento, e nesse aspecto temos total coincidência de visão [com o Ibama], quando do licenciamento dessas áreas é que se deverá obedecer com o total rigor, e essa demonstração do litoral que estamos vendo, temos total, a visão nossa é absolutamente coincidente quanto a isso”, disse.

Manifestantes do movimento Abrolhos Sem Petróleo compareceram à audiência, com placas em defesa do parque marinho.

Protesto
Antes do início da sessão, um jovem manifestante entregou ao ministro o que chamou de “prêmio Exterminador do Futuro” – um boneco, vestido de terno e gravata que segurava uma placa com o nome de Salles.

“Ministro, eu queria fazer uma entrega para você, ministro. Esse prêmio aqui. É o prêmio Exterminador do Futuro para o ministro Salles”, disse o manifestante, antes de ser retirado por seguranças.

Ele chegou a entregar o boneco nas mãos do ministro, que já ocupava a mesa da comissão.

A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) chegou a pedir “calma” aos seguranças. “Calma, calma, calma, ele está só entregando um prêmio”.

Durante a sessão, Salles não comentou o protesto.

G1