Bolsonaro confessa medo de quem pensa diferente

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Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que o envio de um representante de Brasília para a posse de Alberto Fernández na Argentina depende da lista de convidados da cerimônia, marcada para terça-feira. No domingo, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o Brasil será representado pelo embaixador em Buenos Aires, Sérgio Danese, após a desistência do governo de enviar o ministro da Cidadania , Osmar Terra.

Ao ser questionado sobre se havia desistido de enviar Terra, Bolsonaro mencionou a lista de convidados de Fernández, sem entrar em detalhes, e lembrou que na sua posse algumas autoridades não foram convidadas — uma referência aos presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e de Cuba, Miguel Díaz-Canel. Bolsonaro ressaltou que o comércio com a Argentina não será afetado.

— Primeiro, estou analisando a lista de convidados por parte dele. Quando eu assumi aqui, não convidei algumas autoridades também. Nosso comércio com a Argentina continua sendo da mesma forma, sem problema nenhum, não vai interferir em nada. Outra pergunta — disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada.

Questionado se isso significava que não haveria nenhum representante, Bolsonaro encerrou a entrevista e foi embora.

— Outra pergunta. Não tem outra pergunta? Obrigado, até mais.

No início de novembro, Bolsonaro anunciou que o Brasil não enviaria ninguém para a posse. Dias depois, no entanto, afirmou que Terra representaria o país.

Em 17 anos, esta é a primeira vez que o presidente brasileiro não comparece à posse de um colega do país vizinho. Em 2002, o presidente Fernando Henrique Cardoso não compareceu à posse de Eduardo Duhalde. Na época, porém, a Argentina estava em profunda crise depois do fim da paridade entre o peso e o dólar, que provocou protestos e a renúncia de Fernando de la Rúa, no final de 2001. O país teve então dois presidentes indicados pelo Congresso até a eleição de Néstor Kirchner em 2003. Duhalde foi um deles.

A Argentina é terceiro maior parceiro comercial do Brasil, depois de China e Estados Unidos, e o maior comprador de produtos industriais brasileiros, embora o comércio bilateral esteja sofrendo com a desaceleração do crescimento nos dois países. Bolsonaro e Fernández trocaram acusações mútuas durante a campanha eleitoral argentina.

O presidente brasileiro — que torcia pela reeleição de Mauricio Macri, de centro-direita — ficou irritado quando o peronista postou, na noite de sua vitória, um post no Twitter felicitando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por seu aniversário e pedindo a sua libertação. Fernández já havia visitado o ex-presidente quando ele estava preso em Curitiba.

— Agora, não vou à posse de um cara que se elege falando Lula Livre, não vou — declarou Bolsonaro na ocasião, negando-se a parabenizar o eleito.

O Globo