Elite empresarial e extrema-direita sob tutela militar
Vivemos um novo ciclo político, podemos mesmo afirmar um novo período histórico: a coalizão de centro-direita, a Aliança Democrática – que elegeu Tancredo, governou o país, sobreviveu a Collor, reorganizada depois sob a hegemonia do PSDB nas vitórias e nos governos FHC –, não existe mais.
Ela foi derrotada quatro vezes pelo PT, apoiado e aliado aos partidos de esquerda, no sentido amplo, e na eleição e na reeleição de Dilma ao PMDB, força política hegemônica no governo Sarney e parceira também de FHC.
Essa coalizão de centro-direita não existe mais, foi substituída pela aliança entre Bolsonaro, representando a extrema-direita, Moro e a Lava Jato, Guedes e o capital financeiro bancário, sob tutela e vigilância dos militares. Não vê quem não quer.
Bolsonaro e o conservadorismo, aliado ao fundamentalismo religioso, apesar de ser a principal força social e eleitoral, representam uma ruptura histórica com a forma da hegemonia burguesa e das elites, daí a total concordância de todas forças políticas e sociais que apoiam Bolsonaro com o programa ultraliberal de Guedes, mas com dissensão praticamente em todos os demais temas, seja a política externa e o alinhamento total com Trump, o meio ambiente, a cultura, as terras e os indígenas, a escola sem partido, as mulheres, LGBTs e uma política de segurança que reprime e tem licença para matar nas periferias uma juventude em sua maioria desempregada e negra. Setores do chamado centrão e a oposição liberal, seja no parlamento ou em parte importante da mídia, se opõem abertamente à agenda de costumes do presidente, e no Congresso, no Judiciário, no STF, o governo soma derrotas. Mas atenção: não em seu programa econômico.
A questão principal é que essa aliança agora hegemônica conta com apoio não só eleitoral, mas inclusive social, para levar adiante seu programa ultraliberal mesmo por meios autoritários, como tem ameaçado e encontrado resistência não apenas na esquerda, mas no centro, no STF e em parte da mídia.
As esquerdas e os democratas, começando pelo PT – o maior partido não só em termos eleitorais –, primeiro precisam concordar que vivemos um risco real do autoritarismo e do militarismo, de desmonte do Estado Nacional e de uma regressão social e cultural, dada a ameaça real do conservadorismo religioso.
Assim, a questão democrática está colocada na ordem do dia, mas não há como desligá-la da questão social e nacional. Outro desafio é o apoio popular organizado e mobilizado a uma agenda de reformas estruturais e saber quais são essas mudanças, onde seguramente não haverá acordo com todas as forças políticas e sociais de oposição liberal ao projeto de país da coalizão de direita que hoje nos governa.
O desafio não é apenas eleitoral, a extrema-direita e o conservadorismo disputam conosco a hegemonia na sociedade em geral, daí o ataque total à educação, às universidades, à cultura e mesmo à parte da mídia, para controlar a formação e informação educacional e cultural, hegemonizar a sociedade brasileira e moldar nosso povo à ideologia de extrema-direita, sem limites, com tentativas de censura, ameaças reais de repressão e a real captura do Coaf [hoje Unidade de Inteligência Financeira do Banco Central], da Receita Federal, da Polícia Federal e do Ministério Publico. Hoje, isso é uma realidade.
Não bastam, portanto, candidaturas – e elas existem e são legítimas – como a de Lula e Ciro. As esquerdas e os democratas precisam de povo organizado e na luta, precisam que partidos alinhados com esse objetivo principal e com base no acúmulo histórico de lutas e da experiência de quatro governos construam um programa de reformas estruturais para o nosso povo e o Brasil.
Não nos iludamos, as pesquisas recentes revelam a realidade, onde a direita tem mais de uma opção, além de Bolsonaro: tem Moro, e ela não é única; o centrão e o chamado centro democrático são também alternativas a Bolsonaro, digamos assim, e contra seus “excessos”, pois concordam no principal, que é manter a histórica atual ordem econômica e social, iníqua, desigual, intolerável – como as revoltas no Equador, Chile e na Colômbia provam.
Mas tenhamos esperanças, as pesquisas também revelam que as esquerdas são uma alternativa, mas não sem Lula e o PT.