Aras, da PGR, critica Alvim por apoio à tirania nazista

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Foto: Dida Sampaio/Estadão

O procurador-geral da República, Augusto Aras, disse nesta sexta, 17, que ‘a única ideologia política admissível no Brasil é a democracia participativa, que tem como princípio fundante a liberdade de expressão’. A declaração de Aras foi dada após o secretário da cultura, Roberto Alvim, em vídeo, citar textualmente trechos de um discurso do ideólogo nazista Joseph Goebbels. “Ideias nazifascistas são totalitárias e destroem a democracia”, disse Aras sobre o caso.

A manifestação de Alvim também gerou reações no Supremo Tribunal Federal. O ministro Dias Toffoli, disse nesta sexta-feira, 17, que ‘há de se repudiar com toda a veemência a inaceitável agressão que representa a postagem feita pelo secretário de Cultura’.

Em sua conta pessoal no Twitter, o ministro Gilmar Mendes escreveu: “A riqueza da manifestação cultural repele o dirigismo autoritário nacionalista. A arte é, na sua essência, transformadora e transgressora. O que faz do Brasil um país grandioso é a força da sua cultura, fruto de um povo profundamente miscigenado e diversificado”.

Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, o secretário de Cultura, Roberto Alvim ‘ultrapassou todos os limites’. Segundo o presidente da OAB, a declaração foi uma ‘clara e aberta apologia ideológica do regime nazista’. Santa Cruz disse ainda que os ‘setores do governo testam há meses os limites democráticos’, ‘flertam com as ditaduras de hoje e do passado’.

Após a polêmica, o presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir Alvim, uma vez que, segundo auxiliares, a situação do secretário ficou ‘insustentável’. O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, já foi comunicado da decisão.

No vídeo postado no perfil da Secretaria Especial da Cultura no Twitter, Alvim diz: “A arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”.

De acordo com o livro Goebbels: a Biography, de Peter Longerich, Goebbels disse em pronunciamento para diretores de teatro: “A arte alemã da próxima década será heróica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.

A frase causou grande repercussão nas redes sociais, tendo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendido que era preciso afastar Alvim ‘urgentemente’ do cargo.

Em entrevista ao Estado, o secretaria disse ter ‘convencido’ o presidente Jair Bolsonaro de que a citação a Goebbels foi uma ‘coincidência retórica’. O secretário disse concordar com a frase: “A origem é espúria, mas as ideias contidas na frase são absolutamente perfeitas e eu assino embaixo.”

Questionado sobre a opinião de Goebbels em relação à arte, Alvim disse repudiar o nazismo, mas admite proximidade com a ‘filiação’ que o propagandista tinha com a arte.

“A minha opinião sobre o regime nazista é a opinião de qualquer ser humano dotado de um mínimo de sanidade mental. Trata-se de um regime genocida. Tão genocida quanto o regime de [Joseph] Stalin, de Mao Tsé-Tung, portanto um regime absolutamente execrável. A filiação de Joseph Goebbels com a arte clássica e com o nacionalismo em arte é semelhante à minha e não se pode depreender daí uma concordância minha com toda a parte espúria do ideal nazista”, afirmou ao Estado.

Estadão