Ataques do Irã contra forças dos EUA: o que se sabe até agora

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 Foto: AFP

Em retaliação ao assassinato do general Qassem Soleimani, forças da Guarda Revolucionária do Irã atacaram, na noite de quarta-feira, instalações militares que abrigam soldados americanos no Iraque. Tensa desde a Revolução Iraniana de 1979, a relação entre Washington e Teerã atingiu um de seus níveis mais elevados com a mais recente escalada de tensões. Saiba, ponto a ponto, em que consistiu a resposta iraniana à morte do general.

Os ataques começaram às 1h20 da manhã desta quarta-feira (19h20 de terça, horário de Brasília) e foram direcionados às bases militares iraquianas de Ayan al-Asad, a 233 km ao oeste de Bagdá, e Irbil, no Curdistão iraquiano. A hora coincide com o início do ataque americano no dia 2 de janeiro contra o comboio que levava o general iraniano Qassem Soleimani, comandante das Forças Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã.

Segundo o Exército iraquiano, foram utilizados 22 mísseis terra-terra Fateh-313, com alcance de 500 km, lançados diretamente do território iraniano pela Guarda Revolucionária. Informações preliminares do Comando Central dos Estados Unidos, no entanto, afirmam que 15 mísseis teriam sido lançados: 10 contra a base em Ayan al-Asad e um em Irbil. Quatro artefatos, segundo os americanos, não teriam atingido seus alvos.

O Irã, segundo o próprio sistema de Defesa dos EUA, têm o sistema de mísseis mais avançados do Oriente Médio, composto por foguetes de curto e médio alcance. Os mísseis iranianos incluem o sistema russo S-300, o mais moderno que os Estados Unidos já enfrentaram, assim como o sistema produzido no próprio Irã Bavar 373, que o país afirma que é ainda mais poderoso. Em caso de uma guerra, os Estados Unidos — o maior poder militar do mundo — provavelmente mirariam esta estrutura militar, incluindo instalações de mísseis, aviões e navios de guerra, instalações nucleares e prédios onde pudessem estar altas autoridades.

Ayan al-Asad é a segunda maior base construída pelos americanos em território americano, durante a Guerra do Iraque (2003-2001). Segundo o chanceler Mohammad Javad Zarif, o local teria sido o alvo principal pois o ataque com mísseis dos EUA que matou Soleimani teria partido de lá.

Em um discurso à nação nesta quarta-feira, Trump confirmou que nenhum soldado americano foi morto ou ferido, e afirmou que os danos às instalações americanas foram mínimas.

Os governos do Reino Unido, da Suécia, da Polônia, da Austrália e da Dinamarca, que também estão em território iraquiano, também afirmaram que nenhum de seus cidadãos perdeu a vida.

Segundo fontes de governos da União Europeia e dos Estados Unidos, o regime iraniano teria feito uma opção deliberada para evitar que houvesse mortes — “alvos deliberados, danos mínimos, efeito máximo de alerta”. Isto, de acordo com especialistas, indica cautela e uma tentativa de, apesar da retaliação, aliviar as tensões com Washington.

Os EUA invadiram o Iraque em 2003 para derrubar Saddam Hussein, sob o falso pretexto de que ele detinha armas de destruição em massa, e oficialmente se retiraram em 2011. Durante o auge do conflito, chegaram a haver cerca de 150 mil soldados americanos no país.

Em 2014, no entanto, as tropas americanas retornaram ao Iraque após o Estado Islâmico tomar a cidade de Mossul e avançar em direção a Bagdá. Em outubro de 2019, havia cerca de 6 mil soldados americanos no país. Nos últimos dias, cerca de 3 mil soldados adicionais foram enviados para o Oriente Médio, mas ainda não se sabe quantos deles serão mandados diretamente para o Iraque.

A função das tropas americanas era, basicamente, fornecer logística, Inteligência e auxiliar na organização de apoio aéreo para os soldados iraquianos e milícias vinculadas ao Irã que encabeçavam o combate ao EI. Desde o ataque do dia 2, no entanto, o principal objetivo tornou-se proteger as bases amplamente vulneráveis de ataques de grupos paramilitares e de uma possível retaliação iraniana.

Então o ataque já era esperado?
Sim. Em resposta ao ataque aéreo, o líder supremo do Iraque, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu “vingança implacável”, e especialistas já indicavam que uma retaliação iraniana provavelmente miraria as bases militares no Iraque. As tropas americanas na região, por sua vez, já estavam em estado de alerta máximo desde o dia do assassinato de Soleimani.

Segundo o primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdul Mahdi, suas tropas foram alertadas sobre a iminência do ataque por Teerã e passaram a informação para os soldados americanos. A comunicação verbal iraniana, no entanto, não especificava o lugar dos ataques, citando apenas que seriam em bases com presença americana.

O Globo