Doria acumula desgastes e enfraquece para 2022

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Apesar de ter saído das urnas em 2018 alçado ao posto de maior liderança do “novo PSDB”, o governador de São Paulo, João Doria, não ocupa ainda, de fato, essa posição no partido. Ter nas mãos há um ano o cargo mais importante exercido por um tucano não se traduziu em um apoio majoritário a ele no PSDB.

Nesse período, Doria acumulou desgastes junto a seus pares e chega a 2020 tendo no retrovisor o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, mais perto do que nunca. O gaúcho vem ganhando popularidade na sigla e começa a despontar como alternativa eleitoral já para 2022. Doria tem pretensão de ser candidato à Presidência da República. Leite, por sua vez, tem dito que não vai disputar a reeleição.

Todo esse cenário não é o que o grupo de Doria idealizou em meados de 2019. Na ocasião, o paulista acreditava que ditaria os rumos da legenda ao exercer uma liderança que seria natural por comandar o maior estado do país e ter eleito para a presidência nacional do PSDB um aliado, o ex-deputado Bruno Araújo. Em seu primeiro discurso como governador eleito, Doria referiu-se ao partido como “meu PSDB”.

Na primeira disputa interna, entretanto, percebeu que não tinha o partido nas mãos. Perdeu por 30 votos a 4 a briga, em agosto, que abriria caminho para expulsar o deputado Aécio Neves (MG) da sigla. Em dezembro, voltou a medir força com o mineiro na eleição do líder da bancada na Câmara e, de novo, saiu chamuscado. Diante do acirramento da tensão interna, o então líder, Carlos Sampaio (SP), foi mantido no cargo até que haja clima para rediscutir a sucessão.

Aécio é processado pela Lava-Jato por corrupção e tornou-se uma figura eleitoralmente tóxica, mas ainda influente no tucanato.

— Houve um erro de avaliação de que ia chegar, fazer e acontecer por ser o governador de São Paulo. Mas o PSDB do Brasil não é o PSDB de São Paulo, e o Aécio, habilidoso que é, soube usar nossa força (dos tucanos paulistas) contra nós mesmos, pintando o diabo pior do que é — avaliou um aliado de Doria, referindo-se a um sentimento antipaulista no partido que ressurgiu com o governador.

O deputado Celso Sabino (PSDB-PA), candidato a líder da bancada apoiado por Aécio, traduz a insatisfação com o estilo Doria:

— O governador tem uma visão empresarial das coisas e entende que ele deve impor seus pensamentos e ideias. A construção de apoio se dá pelo diálogo.

O deputado continua defendendo seu nome para líder da bancada, alegando que é hora de parlamentares de outros estados ganharem protagonismo. Os dois deputados federais mais votados do PSDB são do Pará — Nilson Pinto e Sabino.

O GLOBO tentou falar com o deputado Beto Pereira (PSDB-MS), candidato apoiado por Doria para a liderança da bancada, mas ele não foi localizado.

Em São Paulo, tucanos ligados a Doria defendem que o assunto seja encerrado e que Sampaio permaneça mais um ano como líder. Bruno Araújo comprometeu-se no fim do ano passado a rediscutir a questão no retorno dos trabalhos na Câmara.

Eleição municipal
Aliados de Doria acreditam que o fortalecimento dele no partido virá com as eleições municipais. Esse grupo calcula que o PSDB paulista terá um desempenho superior ao do diretório mineiro e que Doria terá seu capital político renovado com vitórias importantes no estado, como uma reeleição de Bruno Covas, na capital.

Eles reconhecem que o clima hoje na legenda é pouco amistoso em relação ao governador e dizem que tucanos estão aproveitando-se disso para estimular concorrência interna, colocando o governador Eduardo Leite como uma opção para a candidatura à Presidência. Até mesmo de São Paulo partiram palavras de incentivo ao gaúcho, de 34 anos, como confidenciou um integrante da velha guarda tucana.

Depois da derrota ao tentar afastar Aécio do partido, Doria fez uma aproximação com os deputados tucanos e esteve pessoalmente com a maioria deles. Ter conseguido em dezembro o apoio de metade da bancada para impedir que o candidato de Aécio se tornasse líder foi considerado no entorno do paulista uma demonstração de força.

Mas a pacificação do partido passa também por São Paulo, onde há flancos que resistem ao domínio de Doria. Exemplo disso foi o prefeito de Santos e desafeto do governador, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), posando ao lado do presidente Jair Bolsonaro numa inauguração na última sexta-feira.

O Globo.