Em artigo no Post, Lula defende Glenn

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Foto: Reprodução

O Washington Post, periódico estadunidense que é considerado um dos mais importantes jornais do mundo, publicou em seu site com destaque, no início da noite desta quarta-feira (22), um artigo do ex-presidente Lula em que ele denuncia a perseguição contra o jornalista Glenn Greenwald, alvo de uma denúncia do Ministério Público Federal na última terça-feira (21).

O jornal em que o artigo foi publicado não poderia ser mais apropriado: foi o Washington Post que publicou, na década de 1970, a famosa série de reportagens que ficou conhecida como “Caso Watergate”.

Assim como na série capitaneada por Greenwald, a Vaza Jato, as matérias do Post, assinadas pelos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, se baseavam em documentos e mensagens secretas, obtidas através de uma fonte anônima, o “garganta profunda”, que revelavam que o presidente à época, Richard Nixon, utilizou dinheiro não declarado para espionar os adversários e obter vantagens em sua campanha. O escândalo levou Nixon à renúncia, em 1974.

Lula, inclusive, começa seu artigo no jornal fazendo referência ao Caso Watergate. “Imagine como a história americana se desenrolaria se, na década de 1970, membros da sociedade civil e autoridades estivessem mais preocupados em atacar e investigar Carl Bernstein e Bob Woodward do que em procurar a verdade sobre o escândalo de Watergate. Se o Congresso e o FBI decidissem investigar os repórteres do Post e suas fontes, e não as irregularidades do Partido Republicano”, escreve o ex-presidente na introdução do texto.

“Isso é análogo ao que está acontecendo hoje no Brasil, onde o jornalista Glenn Greenwald está sendo perseguido por suas atividades jornalísticas”, completa Lula.

Ao decorrer do artigo, Lula fala sobre a denúncia do MP contra Greenwald e chama a atenção para o fato de que o jornalista começou a ser perseguido desde que começou a publicar as primeiras reportagens da Vaza Jato, que mostram a atuação ilegal de procuradores e do ex-juiz Sergio Moro na condução da operação Lava Jato. “As ações de Moro e dos promotores serviram para preparar o terreno para o meu julgamento injusto. A investigação de Greenwald foi fundamental para demonstrar como a Operação Lava Jato violou meus direitos legais e humanos”, pontua o petista.

Lula ainda contextualiza o histórico político do Brasil, lembrando do golpe que levou ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, antes de avançar na denúncia da perseguição contra Glenn e destacar o papel desempenhado pela mídia tradicional na cobertura do caso da Vaza Jato. O ex-presidente citou até mesmo o caso do discurso nazista do ex-secretário de Cultura de Bolsonaro. “Com poucas exceções, a mídia brasileira tocou junto. A cobertura da poderosa da TV Globo concentra-se no inquérito da Polícia Federal para criminalizar as fontes e o próprio jornalista. Esse comportamento ridículo da mídia mudou o curso da história e contribuiu para a eleição de Bolsonaro, um líder de direita que, até recentemente, tinha um promotor do nazismo como secretário de cultura”, escreve.

Ao final, Lula sacramenta: “Greenwald é testemunha, repórter e agora também a mais recente vítima de um processo que está enfraquecendo a democracia brasileira”.

RBA