Evento de rock fascista no RS é alvo de críticas
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O anúncio de um festival que promete reunir bandas de inspiração skinhead em Canoas agitou as redes sociais neste início de ano. Os skinheads (ou “carecas”, como se autointitulam) são ativistas de extrema-direita, muitos deles cultuadores do rock’n’roll, com gêneros que são derivativos do punk rock e do heavy metal. As postagens que chamam para o encontro resultaram numa contraofensiva liderada por militantes de esquerda, que acusam os organizadores do evento musical de “neonazistas” – o que eles negam. Há, inclusive, propostas de montar protestos contra o festival, caso ele se confirme.
O Rio Bronx 2020 Free está previsto para ocorrer no Bar Caverna do Dragão (Rua Wilson Brum da Silva, 561), bairro Olaria, em Canoas. A entrada é livre e também há promessa de piscina aberta aos participantes. As bandas confirmadas são Braineaters, Visagge, Desprezo Skinhead Rocknroll e Oidiados, grupos de gêneros como hatecore, black metal e war black metal.
Um dos mais ativos divulgadores do evento, o tatuador Matheus Rodrigues, se define nas redes sociais como skinhead e divulga shows de bandas como Código de Honra. O principal hit desse grupo é Rock Contra o Comunismo, cujo refrão inclui as frases “…somos, contra a foice e o martelo / odiamos o comunismo / se você nos enfrentar / vai ser uma vez só / sobre suas cabeças nós vamos marchar”.
Outro grupo divulgado pelo tatuador, Bandeira de Combate, usa como símbolo uma cruz do Exército Alemão e um capacete alemão da Segunda Guerra Mundial. Nas postagens, Rodrigues defende slogans separatistas e escreve frases como Rio Grande Contra o Comunismo. Em uma foto aparece apontando um fuzil. Em outra foto, tocando com uma banda, ele ergue o braço direito numa saudação que lembra movimentos de extrema-direita. Em outra divulgação no Facebook, reproduz o slogan Morte ao Islã e escreve “Foda-se o Islã”.
Os anúncios chamando para o festival provocaram uma enxurrada de mensagens contrárias na internet, sobretudo de militantes de esquerda e defensores dos direitos humanos. Um dos que promete agir contra o festival é o policial civil Leonel Radde, do grupo Policiais Antifascismo.
– Se esse festival acontecer, eu mesmo estarei lá. A gente vai gravar e divulgar o nome das pessoas que participarem, e vai haver punição a todos. A lei 7716/89 proíbe apologia ao racismo e/ou ao nazismo. Brasileiros miscigenados serem nazistas é quase uma piada, mas não é piada porque é grave – discursa Radde, que foi candidato a deputado estadual pelo PT nas últimas eleições.
A Polícia Civil ainda não se posicionou oficialmente sobre a organização do festival em Canoas. A Guarda Municipal daquele município ficou de monitorar eventuais ilegalidades no evento. Em resposta às críticas recebidas, um dos organizadores do evento de bandas, Wesley Franz, negou que o festival seja racista. Ele se intitula “filho de bugre” e diz que as bandas arrecadam brinquedos para crianças.
— Sou contra o comunismo e também contra o nazismo. Sou gaúcho e tenho sangue farrapo. O festival tem banda skinhead, mas também banda que toca Legião Urbana — resume.