MBL continua se transformando em partido político
Foto: Divulgação/Alesp
Um dos grupos que lideraram o movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, o Movimento Brasil Livre (MBL) está negociando com três legendas para lançar o deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei, a prefeito e ainda abrigar seus principais líderes em São Paulo, berço da organização.
Quando decidiu entrar na política, o movimento filiou seus quadros no DEM, partido pelo qual se elegeram Kim Kataguiri deputado federal, Fernando Holiday vereador e Arthur do Val deputado estadual. Em novembro, porém, Arthur do Val foi expulso do DEM após se colocar contra o alinhamento do partido com o prefeito Bruno Covas e o governador João Doria, ambos do PSDB.
Com a decisão, Holiday e outros dirigentes do MBL também decidiram deixar o DEM. O movimento, porém, não contou com a adesão de Kataguiri, que é aliado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e vice-líder do partido na Câmara.
Três são as siglas que abriram as portas para a candidatura de Arthur Do Val: Patriotas, Avante e Pros. Por um desses partidos o MBL vai lançar também dois candidatos a vereador: Holiday, que vai disputar a reeleição, e Rubens Nunes, que é advogado do grupo. O coordenador nacional do MBL, Renato Battista, tentará uma vaga na Câmara Municipal, mas pelo Novo. “Há um distanciamento ideológico do MBL com o DEM, que em São Paulo é um partido governista”, disse Rubens Nunes.
Depois de convocar e liderar as manifestações de massa pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015, o MBL se afastou das ruas e se tornou uma corrente política com ambições de se tornar um partido político. O grupo não esteve entre os organizadores das últimas manifestações do ano passado em defesa da prisão após a segunda instância.
Após apoiar a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018, o MBL rompeu com o presidente, amenizou o discurso e tenta se apresentar como uma versão moderada da direita. “O MBL amadureceu e hoje está buscando qualificar o debate e tirar a histeria das eleições de 2018”, disse Renato Battista, coordenador do grupo.
O grupo entrou em rota de colisão com o Nas Ruas, outra organização que esteve à frente dos movimentos anti-Dilma e hoje é alinhada ao bolsonarismo e ao Aliança pelo Brasil, partido que o presidente tenta criar. “O Nas Ruas é adesista e puxa-saco do governo”, disse Battista.
Procurado, o Nas Ruas confirmou que tem apoiado as medidas do governo até agora, citou avanços em vários indicadores econômicos e informou que passará a fazer críticas caso avalie necessário. “Nós do Nas Ruas não estamos preocupados com o andar da carruagem dos outros movimentos. A nossa preocupação desde 2011 é combater a corrupção”, diz o grupo.
O MBL segue, porém, próximo ao Vem Pra Rua, mas também mantém divergências com o grupo, que é “lavajatista”. “Nós defendemos a operação, mas basta apenas o combate à corrupção.”
Para o cientista político Cláudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), o MBL está passando por um processo comum no meio político. “Esse processo de ficar menos focado em manifestações e tornar-se uma organização eleitoral é uma tendência clássica de formação de partidos.”