Mulheres lideram ranking na produção acadêmica

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Foto: Reprodução

A Universidade de Leiden, na Holanda, divulgou o ranking global das instituições de ensino superior com maior produção acadêmica realizada por mulheres. Entre as dez primeiras colocadas estão três brasileiras: a Universidade Estadual de Maringá (UEM), em segundo lugar; a Federal de São Paulo (Unifesp), em oitavo; e a Federal de Santa Maria (UFSM), na décima posição.

Para o resultado, o Centro de Estudos da Ciência e Tecnologia da Universidade de Leiden considerou artigos publicados no banco de dados internacional Web of Science, entre 2014 e 2017. Para descobrir o gênero de cada autor, o levantamento usa um algoritmo que tem 90% de precisão e leva em conta nome e nacionalidade.

A UEM tem a maior proporção de mulheres cientistas no Brasil, 54% e, no ranking global, ficou atrás apenas da Universidade Médica de Lubin, na Polônia. Para o reitor Julio Cesar Damasceno, a instituição busca oferecer condições de trabalho de forma independente do gênero de cada profissional, e os dados refletem isso:

— Tratamos a universidade como um espaço de potencialidade para todos, desde a seleção de quem vem trabalhar, até as condições que são dadas. Precisamos lembrar que esses números apontam não apenas a publicação de artigos, mas pessoas que estão em seus laboratórios, no campo, no hospital universitário, orientando alunos… Grande parte dessas mulheres não são só autoras, mas também atuam em um papel de liderança.

Entre ações promovidas pela UEM, Julio Cesar destaca a adesão de práticas contra o assédio e a violência nos últimos anos. A universidade também desenvolve um projeto para meninas na área de tecnologia em colaboração com escolas do ensino fundamental e médio. Para ele, esse tipo de ação desperta desde cedo em alunos e alunas o desejo de continuar seus estudos.

Já Sandra Schiavi, professora nos programas de pós-graduação em Administração (PPA/UEM) e em Economia (PCE/UEM) da UEM acredita que o resultado reflete o fato da instituição oferecer oportunidades de pesquisa de forma equilibrada, para homens e mulheres. Apesar do ambiente favorável, ela percebe dificuldades no aspecto pessoal.

— Individualmente ainda é uma luta. Existe um modelo de mulher, que foi colocado na sociedade ao longo dos séculos e está sendo desconstruído nas últimas décadas, que determina tarefas como tipicamente femininas. Isso acaba gerando uma dificuldade de posicionamento igualitário.

Apesar da alta participação feminina na produção científica da UEM, os números não são tão positivos ao avaliar o aspecto racial, com baixa presença de pesquisadores e alunos negros. Em uma tentativa de diminuir esse desequilíbrio, a instituição aprovou o sistema de cotas raciais, que será aplicado a partir do vestibular de 2020.

Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a reitora Soraya Samaili atribui a oitava colocação no ranking a um conjunto de fatores. Entre eles, a presença feminina nos cargos de liderança.

— Ao assumir a reitoria em 2013, me tornei a primeira mulher a ocupar esse cargo na universidade, junto com a então vice-reitora Valéria Petri, e isso teve grande impacto. Criamos uma gestão com maioria feminina. O propósito não era apenas buscar diversidade de gênero, mas dar vazão a um conjunto de mulheres que têm talento e já estavam na universidade, mas não eram vistas.

Essa participação colocou o assunto em pauta e estimulou debates e espaços de atuação junto com professoras, técnicas de administração e estudantes. Apesar dos avanços, a reitora acredita que ainda há muito a ser conquistado no aspecto da diversidade.

— Alguns espaços ainda não foram assumidos por um número maior de mulheres. Ainda temos poucas professoras nos mais altos postos, entre os pesquisadores com níveis mais altos do CNPQ, nos conselhos superiores das universidades, nas agências de fomento à pesquisa… É necessário abrir esses espaços para que mulheres possam atuar. Não significa criar privilégios, mas sim garantir espaços em que possam mostrar seu potencial.

O Globo