Obrador cria 4 mil empregos para imigrantes no México

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Foto: ALKIS KONSTANTINIDIS / REUTERS

Em resposta à caravana que parte de Honduras para tentar chegar aos Estados Unidos, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que seu governo está ciente da situação e ofereceu quatro mil empregos aos emigrantes na fronteira sul do país, além de abrigos e atenção médica.

Em sua entrevista coletiva diária, ele explicou que o diretor do Instituto Nacional de Migração, Francisco Garduño, foi até a fronteira para tratar do assunto de “maneira direta”.

— Vêm em caravana de Honduras, El Salvador, são cerca de 3 mil. Uns querem entrar por Tapachula, outros por Tenosique (ambas ao sul), temos mais de 4 mil empregos na fronteira sul, em breve também abrigos, mas há trabalho em nosso país — afirmou o presidente.

A caravana saiu na noite de terça-feira de San Pedro Sula, cidade hondurenha com uma das mais altas taxas de homicídio no mundo, e tem a intenção de chegar na fronteira com o México até esta sexta-feira. Ela atualmente se encontra na Guatemala, onde se dispersou. Autoridades mexicanas não sabem a data exata da chegada dos migrantes ao país.

Segundo as autoridades migratórias da Guatemala, a caravana é composta por 3.543 pessoas, incluindo crianças. A porta-voz do Instituto Nacional de Migração da Guatemala, Alejandra Mena, afirmou que os emigrantes chegaram ao país principalmente pela parte norte da fronteira com Honduras.

Dezenas de policiais guatemaltecos foram enviados de locais próximos às fronteiras para verificar se eles passariam pelo controle migratório, requisito para entrar no país, conforme acordos regionais. O controle da caravana é apoiado pelos Estados Unidos, que disponibilizou alguns funcionários da Alfândega e da Patrulha de Fronteiras dos EUA (CBP, na sigla em inglês), informou um porta-voz da embaixada americana na Guatemala.

Apesar da declaração de López Obrador, a secretaria do Interior do México, Olga Sánchez Cordero, disse, na quarta-feira, que não daria “salvo condutos” para os que chegam da caravana e que haverá “operações especiais” para garantir que a possível entrada deles no país ocorra de forma legal. Também na quarta-feira, o recém-empossado presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, afirmou que o governo mexicano indicou que impediria a passagem dos migrantes e que a caravana colidiria com um “muro” simbólico ao tentar atravessar a fronteira sul do México. O governo de López Obrador se negou, até o momento, a confirmar a declaração de Giammattei.

Essa é a primeira caravana organizada após o acordo assinado pelos governos do México e dos Estados Unidos, que alterou a política migratória mexicana. Na ocasião, os americanos ameaçaram impor tarifas sobre as exportações mexicanas caso o país não apertasse o controle sobre os imigrantes que atravessam seu território para chegar aos Estados Unidos. O acordo prevê que muitos dos imigrantes que cruzarem a fronteira americana pelo México e pedirem asilo nos Estados Unidos aguardarão o resultado do processo em território mexicano. Após vários dias de negociações, o México aceitou os termos.

Desde então, a política migratória mexicana está na linha do acordo firmado. As fronteiras norte e sul, especialmente no lado das cidades de Tapachula e Tijuana, tornaram-se locais de difícil estadia para os imigrantes. Milhares têm de enfrentar procedimentos burocráticos cada vez mais longos na tentativa de atravessar a fronteira para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o México aumentou as expulsões de imigrantes que atravessam o país sem permissão.

A ONG internacional Human Rights Watch acusou, em seu informe anual, o México de violar os direitos humanos dos emigrantes que viajam por seu território para pedir asilo nos Estados Unidos. Especialistas da ONU pediram, nesta quinta-feira, que os países envolvidos na questão migratória protejam os cidadãos que viajam em direção ao território americano.

Os migrantes “que viajam em caravanas desde a América Central para o México e os Estados Unidos merecem o pleno respeito de seus direitos humanos por parte de todos os países envolvidos”, afirmaram os especialistas em uma nota enviada pelo Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, com sede em Genebra. O texto indica que especialistas independentes que trabalham com a ONU enviaram notas a quatro governos para demandar essa proteção e “estão à espera de respostas”.

Os especialistas citados pela nota distribuída pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Honduras (ACNUDH) acrescentaram que “essas caravanas não serão as últimas a menos que a situação de fuga dos migrantes, que para muitos inclui violações extremas dos direitos humanos, tenha melhorado consideravelmente”.

O presidente americano, Donald Trump, pressionou o México e os países da América Central a aceitar uma série de pactos de migração, que buscam transferir o ônus de lidar com os pedidos de asilo para esses países, deixando-os longe do território americano. Os acordos buscam assegurar que eles abriguem imigrantes de outras nacionalidades que peçam asilo nos Estados Unidos durante o andamento do pedido. Antes da passagem da nova caravana, Guatemala e Estados Unidos realizaram operações nas estradas para identificar migrantes, que incluem a assessoria para a identificação de criminosos.

— É melhor andar, fugir do país— disse Mariano de Jesus, um migrante que estava esperando passar para a Guatemala, e aproveitou para queixar-se do presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, sobre a situação de pobreza em seu país.

Milhares de hondurenhos, salvadorenhos e guatemaltecos começaram a atravessar o México para chegar aos Estados Unidos a partir do último trimestre de 2018, fugindo da violência e da pobreza em seus países.

O Globo