Presidente do BNDES nega irregularidades em auditorias

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Foto: Evaristo Sá / Agência O Globo

Conduzido ao cargo para cumprir a promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro de abrir a “caixa-preta” do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o presidente da instituição, Gustavo Montezano, foi a público, nesta quarta-feira (29/1), tentar explicar por que o banco investiu mais de R$ 40 milhões em uma auditoria independente e, mesmo assim, não encontrou nenhuma irregularidade nas operações com o grupo J&F. Refutando as críticas do chefe do Executivo de que havia algo de errado nessa auditoria, Montezano assegurou que não houve ilegalidade nem nos contratos nem na investigação do banco. E sugeriu que, diante disso, estava na hora de deixar essas dúvidas sobre a caixa-preta do BNDES para trás.

“É legítimo ter uma demanda de esclarecimento da população, porque como se transfere tamanha monta de recursos para um grupo econômico que participou de um dos maiores esquemas de corrupção do Brasil sem nenhuma ilegalidade? Mas o fato é que não foi encontrada nenhuma irregularidade. (…) O banco está pronto para virar a página”, frisou.

Montezano falou com a imprensa depois de ter passado dois dias discutindo o custo e o resultado dessa auditoria com Palácio do Planalto, Ministério da Economia e Tribunal de Contas da União. Nessas conversas, tentou explicar como a investigação passou de R$ 23,3 milhões para R$ 42,7 milhões e, mesmo assim, não encontrou irregularidades. Apesar de ter admitido que ainda não conversou com Bolsonaro sobre o assunto, contou que foi orientado pela Presidência da República a dar total transparência ao caso.

Bolsonaro sugeriu diversas vezes que a caixa-preta do BNDES poderia revelar escândalos maiores que os da Lava-Jato. O chefe do Executivo demitiu o antecessor de Montezano, Joaquim Levy, por causa da dificuldade dele de comprovar as supostas irregularidades. Nesta semana, Bolsonaro também criticou o custo da auditoria, dizendo que “alguém quis raspar o tacho” do BNDES.

O presidente do banco aproveitou para tentar esclarecer o escopo da auditoria. Explicou que o objetivo era apurar suspeitas de irregularidades nos contratos do BNDES com o J&F. O grupo de Joesley Batista recebeu R$ 20,1 bilhões em financimentos do banco entre 2005 e 2016 e, logo depois, foi flagrado no centro de um dos maiores escândalos de corrupção do país. Funcionários do BNDES foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimento à Polícia Federal por conta disso e recentemente, ainda tiveram o indiciamento recomendado pela CPI do BNDES. Por isso, em 2017, o banco contratou uma auditoria externa para esclarecer se de fato houve alguma ilegalidade na instituição.

Ainda de acordo com Montezano, a investigação começou orçada a R$ 23,3 milhões, mas precisou sofrer aditivos orçamentários para poder abarcar todos os desdobramentos do escândalo de corrupção da J&F. Ele alegou que, com o desenrolar da auditoria, das apurações da Polícia Federal e da CPI do BNDES, o volume de informações analisado saltou de 1,3 para 3,5 gigabytes, o que demandou mais investimentos. Houve, então, aditivos de R$ 5,1 milhões, R$ 11,9 milhões e R$ 2,3 milhões entre 2018 e 2019.

O custo total da auditoria passou, então, para R$ 42,7 milhões, segundo Montezano. Ele negou o valor de R$ 48 milhões publicado recentemente pela imprensa e alegou que foi por conta de desencontro de valores que Bolsonaro sugeriu haver erro no custo da auditoria. “O banco gastou o necessário para cumprir o escopo da investigação”, assegurou, garantindo que a auditoria olhou todas as contas do BNDES que seriam passíveis de erro.

Para Montezano, foi o ordenamento jurídico brasileiro o responsável pelo financiamento de uma monta tão expressiva de dinheiro público para o J&F. “O Brasil construiu leis, normas, aparatos legais e jurídicos que tornaram legal esse esquema de corrupção”, criticou. Ele sugeriu que, agora, o banco só tem de aprender com os erros para não deixar que algo semelhante volte a acontecer.

Bolsonaro, por sua vez, ainda não se manifestou sobre a explicação de Montezano.

Correio Braziliense