Sem Aliança, bolsonaristas miram nanicos para concorrerem em outubro

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Foto: Fepesil / TheNews2/Agência O Globo

Enquanto a militância bolsonarista mantém o discurso otimista em relação à viabilidade da criação do Aliança pelo Brasil (APB) ainda nestas eleições, os mais pragmáticos já têm seu prognóstico: é tarde demais. Sem o PSL, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que pretendem se candidatar não sabem o que fazer e tampouco esperam contar com o novo partido de Bolsonaro para se filiar. Cada um mantém sua própria estratégia.

Publicamente, muitos militantes evitam falar sobre o assunto, mas revelam a indecisão em relação aos próprios planos eleitorais. Para essas pessoas, o cálculo é de que outros partidos de direita, já organizados em diretórios, podem abocanhar a onda conservadora que, dizem elas, vai se manter neste ano, pelo menos em partes. Uma nova “onda Bolsonaro”, como foi em 2018, no entanto, é vista como improvável. Até para os mais fanáticos.

O planejamento eleitoral da militância conservadora sofreu mudanças drásticas desde que Bolsonaro rompeu com Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, e se desfiliou do partido. O presidente conseguiu arrebatar o apoio de metade da bancada da sigla na Câmara, de 53 deputados, e, ao mesmo tempo, tornar desafeta a outra metade. Isso fez com que os parlamentares que decidiram permanecer fiéis ao PSL, como Joice Hasselmann e Júnior Bozzella, começassem a ser tratados pelo eleitorado bolsonarista como traidores.

Mas o caminho escolhido por Bolsonaro, de fundar a própria sigla a tempo de concorrer nas eleições municipais e incentivar a desfiliação do PSL, pode ter sido um “tiro no pé” — como definem alguns de seus apoiadores. Há militantes que, antes convictos em concorrer às Câmaras Municipais e prefeituras pelo país para defender o legado de Bolsonaro, agora receiam a empreitada. Alguns deles temem se filiar ou voltar ao PSL para disputar a eleição, com medo de represália da militância bolsonarista, que vê a legenda como traidora.

A expectativa dos grupos que estão na linha de frente da mobilização pela criação do APB contrasta com a do próprio presidente. No fim de dezembro, ele chegou a dizer, numa conversa com jornalistas no Palácio da Alvorada, que não tem “obsessão para formar o partido”. Na base, o discurso tem sido mais otimista, a fim de não desanimar os novos filiados.

Restariam poucas legendas que ainda mantêm alguma convergência ideológica com o bolsonarismo, como o Democracia Cristã (DC, de José Maria Eymael), o Patriota ou o DEM. Diego Laudano, presidente do Patriota da capital paulista, diz que “figuras grandes” e deputados ainda não procuraram o partido, mas que “muita gente interessada em concorrer a vereador” se filiou à sigla recentemente.

Chefe de gabinete do deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) e líder do Movimento Conservador, Edson Salomão trabalha a sua candidatura à Prefeitura de São Paulo há meses. Rivalizou com Joice Hasselmann, mas seu grupo acabou derrotado dentro do partido e ele mesmo se desfiliou. Agora, pensa no Patriota como opção para o pleito e prega “pé no chão” para os conservadores.

— Me coloquei como opção porque as outras são péssimas. A maioria dos conservadores não aceita de forma alguma as opções da direita que estão aí, como o Arthur do Val e a Joice Hasselmann. Se não vier uma indicação do próprio Bolsonaro, eu mantenho a minha (candidatura). Seria natural minha ida ao Patriota caso o Aliança não se viabilize — diz ele.

Stefanny Papaiano, ativista conservadora conhecida pela página Divas da Opressão e coordenadora nacional do Movimento Conservador, é outra com dúvidas sobre uma eventual candidatura. Descrente de que o ApB fique pronto a tempo e sem cogitar o PSL, ela considera se filiar ao DC, Patriota ou o PRTB, do vice-presidente Hamilton Mourão.

— Pessoalmente tenho afinidade com esses partidos, pois eu creio que, para fortalecer o nicho conservador até que o Aliança fique pronto, não importa qual partido (a gente escolha), desde que não seja de esquerda — afirmou ela.

Ex-secretário-geral do PSL em São Paulo, Rodrigo Morais afirma que o maior risco para Bolsonaro em seu segundo ano de governo é o baixo desempenho de seus apoiadores nas eleições de 2020. Segundo ele, Bolsonaro não pode esperar com uma eventual migração dos seus aliados que se elegerem em outros partidos para o Aliança pelo Brasil.

— Primeiro porque as relações partidárias locais e os compromissos assumidos que ensejam estas vitórias precisarão ser cumpridas, sob pena de colocar em risco a própria sustentação política local e regional destes prefeitos. Uma vez dentro destes outros partidos, esses candidatos bolsonaristas estarão sujeitos as regras e as estratégias destes próprios partidos — declara ele.

Morais diz que é preciso lembrar que pautas ideológicas e de costumes que elegeram Bolsonaro não terão a mesma relevância nestas eleições municipais. De acordo com ele, as pautas de uma eleição municipal são restritas a questões locais, aos problemas específicos da municipalidade, como saneamento básico, creches e postos de saúde, e atribuições constitucionais daquilo que cabe a vereadores e prefeitos.

— Essas pautas poderiam ser defendidas aos munícipes como um elo de ligação entre candidatos nos seus municípios e o presidente da Republica. Porém, como essas propostas não estão sendo pautadas no Congresso, quem se propuser a constituir essas pautas secundariamente irá sofrer uma cobrança das oposições municipais, já que nem o presidente e seus deputados fizeram pautar e aprovar as propostas — diz Morais.

O Globo