Maior fundo de pensão da Noruega critica discurso de Bolsonaro

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Foto: Reprodução/ O Globo

O presidente Jair Bolsonaro recorreu a linguagem “imprópria” em um discurso “sem qualquer evidência” para acusar seus críticos de travar uma campanha de desinformação contra o governo, avalia Jeanett Bergan, chefe de investimentos responsáveis do KLP.

Com patrimônio de R$ 430 bilhões, a instituição é o maior fundo de pensão da Noruega. O KLP integra o grupo de dezenas de gestores estrangeiros, com mais de US$ 4,5 trilhões em carteira, que vem pressionando o governo Bolsonaro por sua política ambiental.

Como os investidores receberam a afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que o Brasil é alvo de uma “campanha de desinformação” estrangeira?

O KLP não tem conhecimento de nenhuma “campanha de desinformação” sobre a Amazônia e o Pantanal, e parece altamente impróprio que o presidente Bolsonaro use essa linguagem em um discurso nas Nações Unidas sem qualquer evidência. Os fatos demonstram que o desmatamento do Pantanal está em nível recorde, e estima-se que o desmatamento da Amazônia esteja no pior nível em dez anos.

O governo também vem aumentando as críticas com relação às ONGs…

A linguagem agressiva usada em relação à sociedade civil brasileira é muito preocupante e vamos acompanhar isso de muito perto. Em março de 2020, a Human Rights Watch alertou que as políticas de Bolsonaro poderiam legalizar atividades criminosas contra os povos indígenas. Essas preocupações não são novas, mas estamos observando de perto, pois os direitos humanos são um pilar de nossa estratégia de investimento. De forma mais ampla, é importante enfatizar que ONGs “verdes” e comunidades locais tendem a buscar os mesmos direitos básicos e proteções ambientais que os investidores.

À medida que o investimento sustentável se torna mainstream, todos queremos o tipo certo de atividade econômica no Brasil que não destrua a parte sul da Amazônia, que se aproxima de um ponto de inflexão para se tornar savana. O Pantanal também corre perigo. E as comunidades que dependem da floresta devem ser valorizadas, não vilanizadas. Isso já deveria ser óbvio para grandes investidores.

Países como a França manifestaram oposição ao acordo com o Mercosul com base na crítica ambiental. Esse posicionamento faz sentido?

A União Europeia (UE) está intensificando seu enfoque no desenvolvimento sustentável, logo essa resistência não é surpreendente. A integração de critérios ambientais e sociais em acordos comerciais é importante para garantir um futuro sustentável. A UE também acelera seu plano de tornar o ESG uma exigência legal de investimentos, incluindo “cláusulas éticas” tanto em questões ambientais como sociais. Dessa forma, o desmatamento da Amazônia pode provocar a redução de fluxos de investimentos europeus e de outros mercados para o Brasil, se a situação continuar como hoje.

O KLP faz parte do grupo de grandes investidores globais que pressiona o governo brasileiro sobre o “desmantelamento” das políticas ambientais. Como essas negociações evoluíram até agora?

Ficamos satisfeitos com a pronta atenção que recebemos e com a abertura de diálogo com o alto escalão. E esperávamos ver ações e medidas concretas para mudar a tendência negativa de queimadas e desmatamentos. Ainda estamos otimistas de que o diálogo contínuo poderá contribuir para isso, mas, até agora, os números são alarmantes, infelizmente.

O Globo