Coronel PM da reserva defende golpe militar

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Foto: Reprodução

Ex-comandante da Rota, batalhão de elite da Polícia Militar de São Paulo, e de diversos regimentos da corporação ao longo de 35 anos de carreira, o coronel reformado Alberto Sardilli, 52, diz que a maioria da tropa é bolsonarista. E que por isso haverá adesão de policiais, inclusive da ativa, ao ato de 7 de setembro na avenida Paulista.

“O presidente é militar, a tropa se identifica com essa questão, ele preza valores que são os da PM há 200 anos”, afirma Sardilli, atualmente chefe de gabinete do deputado estadual paulista Frederico D’Avila (PSL).

Ele defende o coronel Aleksander Lacerda, afastado de uma função de comando após ter feitos postagens convocando para a manifestação em uma rede social, e diz que a punição aplicada pelo governador João Doria (PSDB) gerou revolta na corporação.

Sardilli diz ainda que a PM é comprometida com a democracia, mas que apoiará as Forças Armadas caso se chegue ao “limite extremo” de uma intervenção.

Como será a participação de PMs de SP nas manifestações de 7 de setembro? Até sábado, havia um movimento razoável. Depois do episódio do coronel Aleksander, a coisa tomou uma proporção muito maior. O pessoal não aceitou, não viu com bons olhos a intervenção política do governador. A tropa e mesmo os oficiais da ativa ficaram inconformados. Falam de ala bolsonarista na PM, eu discordo. A maioria da PM é bolsonarista. Muito mais da metade, mais de 80%.

Por quê? Não são apenas as ideias do presidente. O comportamento do governador faz a tropa ir para o lado do Bolsonaro. O presidente é militar, a tropa se identifica com essa questão, ele preza valores que são os da PM há 200 anos. O governador acha que a tropa que amassa barro, que toma sol e chuva, vai lamber o sapatinho italiano dele.

Quais são esses valores compartilhados entre Bolsonaro e a PM? Valores da família, da correção, da transparência, de falar a verdade. E de Deus principalmente. A tropa normalmente é formada por pessoas muito simples, valorosas. Não estão acostumados com mentira. Eu concordo que a forma como o presidente se expressa cria às vezes uma indignação. Mas indignação mesmo é ouvir mentira deslavada. A PM ouviu uma promessa de campanha de que seria a segunda mais bem paga do Brasil. O cara justifica usando tudo que é artifício. A tropa não é trouxa. Prefere quem fala palavrão, mas fala a verdade.

O caso do coronel Aleksander não foi de insubordinação? O coitado do coronel foi lá se expressar na rede social dele. Rede privada dele. Sequer ele cita que é coronel ali. Às vezes parece que policial militar é cidadão de segunda categoria, não tem os mesmos direitos do cidadão comum.

Existem regras na PM que proíbem manifestação política. Manifestação política é diferente de manifestação cívica. Chamar as pessoas para ir para um desfile de 7 de setembro não tem nada de político. Manifestação política é o cara participar de um partido, de sindicato. No máximo ele foi malcriado.

Ele chama o Doria de cepa indiana. O Doria não aplaude a China, a Índia?

Não tem uma questão de respeito à hierarquia? A rede social é dele, pessoal. Se estivesse fardado, fazendo um vídeo, na rede da corporação, eu até entendo. Esse afastamento foi um ato político, ele sequer foi ouvido. Não teve direito a defesa. Se o Doria for afastar todo mundo de que não gosta, vai precisar contratar vigilância privada. Da PM não fica ninguém.

Esse episódio vai fazer muitos policiais militares repensarem a participação no ato de 7 de setembro? Pelo contrário. Vai ter muito PM que vai para o ato por causa disso.

Inclusive da ativa? Inclusive da ativa. O cara pode ir, se ele estiver à paisana. O 7 de setembro é a maior data cívica brasileira. Só não pode ir fardado.

A presença do Bolsonaro não torna a manifestação política? Discordo, porque o Bolsonaro nem partido político hoje tem. Ele é o presidente da República.

Qual o grau de comprometimento dos PMs com a democracia? Militar estadual sabe a missão que tem. Não vai embalar interesse politiqueiro de ninguém. A PM de São Paulo é tropa reserva das Forças Armadas, isso é dispositivo constitucional. A disciplina enverga, mas não quebra. A gente é tropa de Estado, não de governo. Governador fica quatro anos, nós vamos completar 200 anos. Já passamos por revolução, guerra, a gente é legalista. Agora, não se enganem. A gente não fala, não vai se expor com discursos, mas age na hora que tiver que agir conforme a Constituição. Se o Exército entender que precisa tomar alguma medida, as polícia militares continuam seguindo a Constituição.

Acionar o artigo 142 da Constituição [geralmente citado como justificativa para intervenção militar] seria seguir a legalidade? Se for acionado e o Exército demandar, estaremos dentro da legislação. Não vai caber a nós questionamentos.

Mas o sr. entende que o artigo dá às Forças Armadas o chamado Poder Moderador? Não sei se o melhor termo é Poder Moderador. As Forças Armadas são a ferramenta do país para manter a Constituição. Os Poderes são formados por pessoas, e as pessoas podem eventualmente errar. Às vezes o próprio Poder acaba errando. Hoje a gente vê algumas medidas sendo tomadas ao arrepio do que todo mundo espera.

O sr. está falando do Supremo? Por parte de qualquer órgão, em especial o Supremo. Não vou colocar nomes aqui. Mas a gente vê medidas que inconformam a população. Vamos seguir o que diz a Constituição. Se realmente houver quebra da paridade dos Poderes, da independência, certamente vamos ter que tomar uma medida para voltar à condição democrática original. O que a gente mais preza é a democracia.

Essa medida seria uma intervenção das Forças Armadas? A gente pode chegar nesse limite. É um limite extremo que ninguém quer, mas ele é possível.

Isso não seria golpe? Não é golpe. Golpe é ter meia dúzia de generais e depor o presidente, independente de condições anteriores. Agora, você intervir em uma condição em que determinado órgão, a exemplo do STF, toma medidas não refletindo o senso de justiça para a maioria da população brasileira, não acho que é golpe. Se você vai apanhar de alguém, você se defende. E é o papel das Forças Armadas, defender o país.

Como o sr. acha que a PM se posiciona quanto ao voto impresso? Poderia apoiar o Bolsonaro, caso ele não aceite uma derrota eleitoral? Voto impresso simplesmente seria uma forma de o eleitor olhar o que digitou, de ser uma possibilidade e conferência. Sou favorável. Tudo que der transparência aos atos vale a pena. Quem tem o discurso do voto impresso está defendendo a democracia.

O sr. foi nomeado para chefiar a Rota pelo hoje ministro Alexandre de Moraes, quando ele era secretário de Segurança Pública. O que acha dele hoje? Eu vou pelas ideias, não pelas pessoas. Eu tinha pelo Alexandre uma grande admiração, mesmo ele sendo questionado por muitos oficiais. Hoje eu não tenho a mesma admiração.

Folha  

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