Lula com Alckmin indica confiança do ex-presidente

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Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução

A liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas tem sido tão folgada que criou no petista uma autoconfiança capaz de combinar múltiplas estratégias. Desde a chancela a movimentos à esquerda – como a tentativa de o PT formar federação com legendas progressistas – quanto os mais à direita – a exemplo da aliança com o ex-tucano Geraldo Alckmin para vice da chapa.

Com amplo favoritismo, Lula lança mão tanto de apostas ideológicas, partidárias ou pessoais – ao comprar briga pela candidatura de Fernando Haddad a governador em São Paulo ou agradar Marcelo Freixo no Rio – quanto recorre a composições pragmáticas que, inversamente, parecem sugerir um receio, o temor do revés.

É o caso da informação de que seu advogado Cristiano Zanin teria sido o emissário de uma proposta de aproximação com o ex-presidente Michel Temer. Logo Temer, o vilão do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Acusado de traição, o vice de Dilma personificou, como poucos, ladeado pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a imagem de maior inimigo do petismo. Até a ascensão de Jair Bolsonaro.

É de se duvidar se Lula precisa de Temer, tanto quanto Bolsonaro necessitou dos préstimos do emedebista quando seu governo esteve à beira do abismo. Ao insuflar o golpe no 7 de Setembro e ver escalar o risco do impeachment, Bolsonaro recorreu a Temer como quem contrata um médico ou advogado caro para lhe salvar o pescoço.

Temer é grande fiador do velho sistema político brasileiro, ícone do establishment. Não é primordial, mas Lula sabe da importância de apoios, para quebra da resistência à direita – ainda que para desgosto da base de militantes ou de arrependimentos futuros.

Em junho de 2012, a foto do encontro entre o petista, Haddad e Paulo Maluf, nos jardins da casa do adversário histórico do PT, mostrou que tudo é possível e esquecível quando o objetivo é ganhar uma eleição.

Na ocasião, o então pouco conhecido Haddad tentava se eleger prefeito de São Paulo e ansiava pelos preciosos minutos de propaganda do PP. Em troca, Maluf exigiu a presença de Lula e da famosa foto para selar o acordo.

Cinco anos depois, Lula diria ter se arrependido. Nem tanto pelo encontro em si ou pela aliança – que levou Luiza Erundina a desistir de ser vice de Haddad – mas pelo registro de imagens que evidenciavam um pragmatismo que passara dos limites, até para os padrões do ex-presidente.

Agora, uma eventual aproximação com Temer parece ter motivação não apenas eleitoral, apesar do movimento ter o potencial de encorpar a campanha do petista com a adesão de políticos do MDB. Nos bastidores, Lula tem verbalizado que, mais do que vencer nas urnas em outubro, precisará de força para governar.

O ex-presidente sabe que encontrará um país muito diferente do que deixou para Dilma, em 2011, ou do que recebeu do antecessor Fernando Henrique Cardoso, em 2003, seja politicamente ou economicamente. Lula não precisará mais provar que seu governo respeita contratos, o que dispensa uma Carta ao Povo Brasileiro. Não poderá perder tempo em revanchismo com os militares, nem recorrer a zelo extraordinário na relação com as Forças Armadas. É pô-las no lugar de onde Bolsonaro as retirou, ao aparelhar o Estado e politizar os quartéis.

Mas superar o estrago causado nos últimos anos e driblar as turbulências do cenário internacional exigirão de Lula, caso eleito, uma pactuação ou mitigação de diversos atores, o que não é trivial.

É incerto o peso com que o bolsonarismo e a extrema direita sairão das urnas e em que grau serão um fator de desestabilização. Na relação entre Poderes, o Congresso cresceu de tamanho diante do Executivo, por uma série de instrumentos a começar pelo controle maior do Orçamento. No sistema partidário, mudanças progressivas vêm ocorrendo, desde a introdução da nova legislação eleitoral, que ataca a histórica fragmentação brasileira, uma recordista mundial.

A atual profusão de legendas interessadas em formar federações é um sintoma de concentração que também pode alterar a governabilidade. Muito provavelmente não será agora, pelo prazo curto de oficialização. De todo modo, a expectativa, como pensa o PT, ao se juntar com PSB, PCdoB e PV, é criar uma bancada que propicie menos dependência do Centrão. Mas, caso se concretizem, as federações tendem a dar mais poder de barganha a dirigentes e líderes partidários no Congresso. O tempo da miríade de pequenas e médias legendas manietadas pelo presidente da República ficará para trás.

Com a experiência de quem já presidiu, e sabe que o tabuleiro e o humor do eleitorado muda rapidamente, Lula, apesar da autoconfiança, joga de maneira conservadora. Ocupa o centro, flerta com a direita, atrai tucanos, emedebistas, o que for. Seja o ex-adversário Alckmin ou Temer, o reputado conspirador contra Dilma.

A mesma Dilma que Lula, aliás, tem escondido e indicou que não fará parte de seu eventual governo. Dilma que, segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso foi apeada do poder não por um crime de responsabilidade, mas pela falta de apoio político.

“A justificativa formal foram as denominadas pedaladas fiscais – violação de normas orçamentárias – embora o motivo real tenha sido a perda de sustentação política”, escreveu Barroso, num artigo que repercutiu muito ontem nas redes sociais e entendido como uma defesa da tese de que a ex-presidente foi alvo de um golpe frio, parlamentar, não de um impeachment.

Nada que não se tenha lido ou ouvido, como o célebre diálogo em que os ex-senadores Sérgio Machado e Romero Jucá afirmam que para barrar a Lava-Jato “a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]”. “É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional”, sugere Machado. “Com o Supremo, com tudo”, emenda Jucá.

Quase seis anos depois, parece ser Lula quem não tem problema de fazer aliança “com Temer, com tudo”.

Valor Econômico  

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