Direita paulista disputa quem enfrentará Haddad

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Enquanto no cenário nacional a disputa pela Presidência opõe o PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao PL, do presidente Jair Bolsonaro, o confronto no interior de São Paulo ocorre entre bolsonaristas e tucanos. O candidato do Republicanos, Tarcísio de Freitas, tem atacado redutos tradicionais do PSDB, ao mesmo tempo que o governador tucano Rodrigo Garcia, que concorre à reeleição, procura avançar em regiões mais conservadoras, como o norte e o oeste paulista, que votaram maciçamente em Bolsonaro.

Ambos serão confirmados por seus partidos como candidatos ao Palácio dos Bandeirantes em convenções neste sábado, 30, na capital paulista – Tarcísio com a presença de Bolsonaro, no Expo Center Norte, e Garcia, no Ginásio do Ibirapuera.

O embate entre tucanos e bolsonaristas leva em conta que Fernando Haddad (PT), líder nas pesquisas até agora, deve estar no segundo turno. A avaliação das campanhas também considera que o interior é onde o petista terá menos voto, o que torna esse eleitor alvo da disputa entre Tarcísio e Garcia. Em recentes pesquisas, os dois aparecem empatados tecnicamente em segundo lugar.

O Estado de São Paulo tem 34,6 milhões de eleitores – a maioria (18,2 milhões) está no interior, que tem mais votos que Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do País. De acordo com a cientista política Andréa Marcondes de Freitas, professora do Departamento de Ciência Política da Unicamp, é voto suficiente para definir até mesmo uma eleição nacional.

Campinas, maior colégio eleitoral do interior paulista com 823 mil eleitores, é um exemplo da disputa por espaço dos dois candidatos. No último dia 22, a prefeitura assinou acordo com o governo federal para a cessão do pátio ferroviário, uma área de 200 mil metros quadrados no coração da cidade.

Desde janeiro, quando visitou a área, ainda como ministro da Infraestrutura, na companhia do prefeito Dário Saadi (Republicanos), Tarcísio se empenhava para atender à demanda. Saadi recebeu o aliado ao menos mais três vezes este ano, já como pré-candidato ao governo do Estado. O prefeito de Campinas também esteve em Brasília para tratar do assunto com Bolsonaro.

De seu lado, Garcia tenta se manter influente na cidade. Embora Campinas não seja um reduto tucano, Saadi é próximo do governador. Desde que assumiu o Palácio dos Bandeirantes, Garcia atendeu a vários pedidos do prefeito, sobretudo na área de saúde.

Tarcísio avança ainda sobre o eleitorado de Ribeirão Preto, onde o prefeito tucano Duarte Nogueira tem se empenhado para manter em evidência o nome de Garcia. No dia 17 de junho, o ex-ministro participou de reunião com empresários locais, ouviu demandas e criticou o governo estadual pela falta de políticas regionais. Três dias depois, Nogueira convocou reunião de prefeitos da região para o anúncio da liberação de R$ 351 milhões para os municípios e novas reivindicações. “Dessa forma é possível um melhor entendimento das necessidades regionais pela administração pública do Estado de São Paulo, atendendo as expectativas da população, além de prestar contas das iniciativas que estão sendo realizadas”, justificou.

Em Santos, litoral paulista, Tarcísio, enquanto foi ministro da Infraestrutura, afagou o setor portuário ao acelerar o processo para desestatizar a administração do maior terminal marítimo do País. Também apoiou o projeto do túnel submerso para ligar a cidade ao Guarujá, contrariando o governo estadual, defensor do projeto de uma ponte.

A principal cidade da Baixada Santista, administrada por Rogério Santos, do PSDB, que sucedeu ao também tucano Paulo Alexandre Barbosa, é outro importante reduto governista. Na região, pesa ainda a liderança de Márcio França, candidato ao Senado pelo PSB, com apoio do PT. No dia 13 de junho, Garcia levou para Santos o programa “Governo na Área” para entregar obras e anunciar investimentos. O pré-candidato visitou a Vila Belmiro, estádio do Santos. “Sou peixe (santista) de coração”, disse, na ocasião.

Tarcísio esteve três vezes este ano em São José do Rio Preto, no noroeste do Estado, mas o prefeito Edinho Araújo, do MDB, coordena a campanha de Garcia na região. No último dia 13, o emedebista lançou o movimento suprapartidário “Rodrigo governador” com a participação de prefeitos da região. “É para mostrar unidade e que vamos atuar intensamente na campanha do Rodrigo, que tem feito governo impecável, é da nossa região e tem atendido a boa parte dos pedidos dos prefeitos nos últimos meses”, disse.

No dia 21, o governador viajou a Presidente Prudente para entregar títulos de propriedade a assentados rurais. A região é dominada por ruralistas. Prudente é terra do secretário de Assuntos Fundiários do governo Bolsonaro, Luiz Antonio Nabhan Garcia.

Em outra investida, o governador tucano se aproximou do prefeito de Sorocaba, o bolsonarista Rodrigo Manga (Republicanos), por meio de encontros intermediados pela deputada tucana Maria Lúcia Amary. Manga, no entanto, confirmou apoio a Tarcísio.

Para a cientista política da Unicamp, a disputa eleitoral no interior de São Paulo está aberta. “O interior paulista é importantíssimo para um candidato a governador e sempre foi muito fiel ao PSDB, garantindo que o partido governasse São Paulo nas últimas décadas. É um eleitorado conservador, que não vê em Rodrigo Garcia um tucano ‘puro sangue’, pois ele está no partido há pouco tempo”, disse Andréa. “Esse lado mais conservador favorece o candidato bolsonarista. Tarcísio tem possibilidade de criar um vínculo com esse eleitorado”, afirmou ela.

Estadão