Dez anos após a morte, Chávez segue campeão de votos

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Foto: Yuri Cortez/AFP

Passados dez anos da morte do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, os 58 anos, Caracas ainda carrega imagens do líder mais valorizado do país, que segue com uma presença vigilante, quase onipresente. Ao andar pela capital, é possível ver seu rosto estampado em paredes e muros, tornando Chávez uma figura que nenhum político vivo, nem chavista nem adversário, consegue ofuscar.

Se uma nova eleição ocorresse hoje, por exemplo, tudo indica que Chávez sairia vitorioso, não importa qual o adversário. De acordo com a empresa de pesquisa Datanalisis, o ex-presidente tem 56% de avaliação positiva, contra 22% de seu sucessor, o atual presidente Nicolás Maduro.

Ao jornal espanhol El País, Luis Vicente León, diretor da empresa de pesquisa, afirma que a principal razão seria pela morte do líder no momento de sua ascensão, congelando totalmente sua imagem e transformando-se em um ídolo para muitos venezuelanos.

Chávez é considerado o líder que se conectou com milhões de venezuelanos e tornou-se um ícone. Dias antes de assumir a Presidência, em fevereiro de 1999, o presidente eleito e o escritor Gabriel García Márquez dividiram um voo, e ao descer do avião, o colombiano que ganhou o Prêmio Nobel não deixou de escrever o quão “abalado” ele ficou com “a inspiração de ter viajado e conversado à vontade com dois homens opostos: aquele a quem a sorte inveterada lhe ofereceu a chance de salvar seu país. E o outro, um ilusionista, que poderia entrar para a história como mais um déspota”.

O ex-presidente poderia ser os dois, mas foi considerado um líder amado por seu povo. Sua morte foi anunciada pelo atual presidente venezuelano em março de 2013. Naquele momento, muitas pessoas acreditaram que o chavismo estaria com seus dias contados – uma pressuposição incorreta.

Quando Chávez chegou ao cargo de presidente, tinha como carta na manga o dinheiro deixado pelas maiores reservas de petróleo e gás do mundo. Na época, a Venezuela vivia à espera da modernização técnica e da infraestrutura do que da distribuição social ou da pobreza, e Chávez prometeu dar a volta por cima.

O venezuelano inaugurou um novo modelo de comunicação política, muito antes de nas redes sociais. A partir do programa de rádio Alô, ele falava todos os domingos com o povo e lançava e inaugurava projetos de governo. Apesar dos níveis escandalosos de pobreza e um êxodo recorde de pessoas que fogem da crise perpétua, as razões pelas quais um sistema que chegou a libertar os mais pobres ainda está vivo.

Segundo a cientista política e escritora Colette Capriles, o chavismo é um movimento complexo: uma coalizão com interesses próprios que entrou em uma narrativa de mudança histórica composta por pessoas da velha esquerda e da esquerda mais moderadas, além dos militares e do descontentamento social com a democracia construída.

“O chavismo foi para eles um momento de mudança histórica, Chávez possibilitou isso, mas era mais velho que ele”, explicou Capriles ao El País.

Embora o chavismo tenha tido seus momentos mais baixos, ele conseguiu redirecioná-los depois de sua morte. A deterioração brutal em que o país entrou após a morte do ex-presidente não é apenas culpa de Maduro, mas sim culpa do modelo criado por Chávez, baseado em expropriações, populismo e gastos públicos.

“Chávez soube esconder melhor do que Maduro as fragilidades da revolução”, acrescentou o diretor do Datanálisis.

Com as eleições presidenciais marcadas para 2024, as forças democráticas estão longe de conseguir articular uma coalização e achar um candidato que resolva as divergências aprofundadas. Os últimos anos mostraram para a Venezuela que o chavismo é maior que Maduro, e mesmo seus detratores continuam sendo chavistas.

Atualmente, diversas pessoas apontam para uma “peronização” da figura de Chávez. Em seu último discurso vivo, o ex-presidente até se referiu para si mesmo na terceira pessoa. “Chávez não é apenas este ser humano, Chávez é um grande coletivo.

Chávez é o coração do povo e o povo está no coração de Chávez”, disse o venezuelano que morreu 87 dias depois, em 5 de março de 2013.

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