Nordeste resistiu à loucura de junho de 2013

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Foto: Roberto Moreyra

Dez anos depois das massivas manifestações que pararam o Brasil em junho de 2013, o sentimento mais comum no Sudeste é o de esquecimento ou não resposta, enquanto de sulistas e nordestinos se contrapõem a respeito dos atos. Os dados inéditos fazem parte de uma pesquisa do Ipec contratada pelo GLOBO.

Moradores dos três estados do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) tiveram mais envolvimento com os protestos de Junho de 2013. Um quinto (20%) afirma ter apoiado as manifestações se orgulhando disso, enquanto em outras regiões a taxa é de 15%.

Ao mesmo tempo, nordestinos têm o sentimento inverso. Quase metade (48%) diz não ter apoiado atos e hoje nem se arrepende (no Sudeste a taxa é 35%, e no Sul, 43%).

No infográfico abaixo, uma soma das respostas sobre o apoio ou não às manifestações, independentemente do que se pensa hoje em dia. Verifica-se que o Sudeste é o recordista de esquecimento ou não resposta (40%), justamente onde ficam os maiores centros urbanos que registraram os principais protestos.

Veja os resultados por região  — Foto: Editoria de arte Ipec/O GLOBO

Respondentes do Nordeste são também os que avaliam Junho de 2013 da pior forma. Para 30%, as consequências das manifestações foram “muito negativas”. As taxas são menores para residentes do Sudeste (18%) e Sul (21%).

Um dado que se sobressaiu na pesquisa é que, passados dez anos, um terço das pessoas não soube dizer (ou não quis dizer) se os protestos de 2013 teriam sido positivos ou negativos para o país. Uma parcela significativa desse grupo (18%), inclusive, não soube dizer em que votou na última eleição, de 2022, no segundo turno.

— A amnésia eleitoral no Brasil é mesmo altíssima e, da mesma forma, pouca gente consegue lembrar o que pensava dez anos atrás sobre política — afirma Bruno Bolognesi, professor de ciência política da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Para ele, uma pesquisa que pergunta sobre o passado é relevante até mesmo para mostrar como as pessoas pensam hoje, mas é necessário levar em consideração que nós transformamos e apagamos as nossas próprias memórias ao longo do tempo.

— É muito difícil pedir para alguém focar num evento do passado, e isso causa muita imprecisão — afirma.

Porcentagem de quem avalia que Junho de 2013 teve consequências ‘muito negativas’:
Norte/Centro-Oeste: 25%
Nordeste: 30%
Sudeste: 18%
Sul: 21%
Por outro lado, são os nordestinos quem mais avaliam que Junho de 2013 “mudou o modo como eu escolho os candidatos nas eleições”: quase um quarto da população (24%).

Porcentagem de quem avalia que Junho de 2013 mudou sua forma de escolher candidatos nas eleições:
Norte/Centro-Oeste: 23%
Nordeste: 24%
Sudeste: 19%
Sul: 21%
A pesquisa foi feita com 2 mil respondentes, em 127 municípios, entre 1º e 5 de junho. A margem de erro máxima estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

O Globo