Pobres não deram bola a junho de 2013

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Foto: André Coelho

Passados dez anos das manifestações de junho de 2013 que tomaram o país, são as pessoas mais ricas que mais têm memória e orgulho de terem apoiado os atos. Pesquisa Ipec contratada pelo GLOBO mostra que 16% da população apoiou as manifestações e têm orgulho disso, mas entre quem ganha mais de cinco salários mínimos o índice chega a 20%. Ainda neste grupo, 7% dizem que não apoiaram os atos, mas gostariam de ter apoiado. Já entre aqueles que ganham até um salário mínimo, apenas 14% dizem ter apoiado e ter orgulho de quem foi para as ruas.

Foi com o mote de reverter o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo, que subiria de R$ 3 para R$ 3,20, que diversos grupos saíram às ruas no início naquele mês. Mas os atos foram ganhando força e acumulando pautas diversas “contra tudo e contra todos”, que iam desde pedidos por mais segurança até o fim da corrupção e se espalharam por diversas cidades do país.

Segundo a pesquisa, 24% dos entrevistados não se lembram dos protestos, número que sobe para 27% em quem ganha de um a dois salários mínimos, e que diminui para 21% entre aqueles que ganham mais de cinco. Na visão de Luciana Santana, professora de ciência política da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o que começou como um movimento popular de usuários de transporte público foi capturado por grupos elitistas, o que explica a lembrança mais positiva dos mais ricos sobre os protestos de 2013.

— O perfil das pessoas que foram à rua depois não era o trabalhador comum, que não se deu o trabalho de ir porque tinha suas próprias ocupações. Há uma questão de sobrevivência, as pessoas investem naquilo que efetivamente faz sentido na vida dela. E as pessoas mais pobres não participaram ativamente desse processo. As manifestações não mudaram a vida dessas pessoas, elas não tiveram melhora na vida, os indicadores sociais do Brasil ficaram piores, as pessoas perderam poder de consumo e a preocupação dessas pessoas era outra.

Pesquisa Ipec/O GLOBO — Foto: Editoria de Arte Ipec/O GLOBO

A pesquisa mostra que a percepção sobre os protestos também muda de acordo com o CEP. Enquanto 20% dos moradores de capitais dizem ter orgulho de terem apoiado os atos de junho de 2013, no interior a taxa cai para 14%. Por outro lado, 44% dos moradores do interior afirmam que não apoiaram os protestos e não se arrependem disso, contra 39% da capital e 33% de pessoas da periferia. São os moradores das periferias os que menos se lembram das manifestações (35%), contra 24% em capitais e 22% no interior.

O Ipec ouviu 2 mil pessoas de 127 municípios, entre os dias 1 e 5 de junho. A margem de erro máxima estimada é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O Globo