Esquerda parte pra cima do PT baiano

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Foto: Rafael Martins/GOVBA

O crescimento dos índices de violência e brutalidade policial no estado da Bahia vem elevando a pressão de setores da esquerda contra o governo de Jerônimo Rodrigues (PT). Nesta semana, o diretório baiano do PSOL, partido que integra a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), resolveu entregar seus cargos e romper com o chefe do Palácio de Ondina. Além disso, a situação vem gerando críticas de ativistas e há insatisfações internas no PT.

A Polícia Militar da Bahia se tornou a que mais mata no Brasil em intervenções e registrou o maior número absoluto de mortes violentas do país desde 2019, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgados neste ano.

Os números do estado, comandado pelo PT há 16 anos, superaram os do Rio de Janeiro, que ocupava o primeiro posto no ranking. Antes, a Bahia foi governada pelo atual ministro da Casa Civil, Rui Costa (2015-2022) e pelo senador Jaques Wagner (2007-2014).

Os índices trazidos pelo relatório apontam que o estado enfrentou anos de má gestão da segurança, segundo o presidente do diretório do PSOL na Bahia, Ronaldo Mansur, que atribui a esse contexto a saída da sigla do governo petista:

— Jerônimo está repetindo os erros dos governos carlistas (de Antônio Carlos Magalhães), e dando continuidade a mesma política dos governos de Wagner e Rui Costa, onde os índices de violência contra o povo pobre, preto, e contra os próprios policiais, só aumentaram.

Antes adversários no campo da esquerda baiana, os partidos se uniram e firmaram uma aliança estadual no segundo turno de 2022. Já com Jerônimo empossado, dois psolistas foram nomeados em cargos da Fundação Pedro Calmon, um braço da Secretaria de Cultura do Estado.

Porém, segundo Mansur, que assumiu a diretoria da sigla no estado neste mês, as indicações a cargos no governo não foram negociadas com a anuência de todo diretório. O mesmo aconteceu com a presença de integrantes da legenda no conselho político do governador, que reúne o vice Geraldo Júnior (MDB) e representantes de outras 11 legendas.

Procurado, o presidente do PSOL baiano ainda acusa o PT de tentar cooptar quadros do PSOL para transformar a sigla numa espécie de apêndice do partido e neutralizar críticas à esquerda feitas ao chefe do Executivo da Bahia. Segundo Mansur, os correligionários Franklin de Carvalho e Jorge da Cruz, lotados no governo, deverão entregar os cargos ou podem acabar expulsos do partido.

Único deputado estadual eleito pelo PSOL, Hilton Coelho também vem aumentando a carga contra Jerônimo. Em uma publicação nas redes sociais, ele afirma que o petista pratica uma “necropolítica” no estado. “O governo do PT na Bahia fecha escolas para abrir valas, é a PM que mais mata, e segundo pesquisas, só mata jovem negro e pobre”, publicou Hilton.

O presidente do diretório nacional do PSOL, Juliano Medeiros, não quis comentar a rixa com o PT na Bahia. Segundo o dirigente, os diretórios estaduais têm autonomia para agir e o partido deve se reunir num congresso nacional, no fim deste mês, para reafirmar a condição de base do governo Lula.

Entidades de direitos humanos e ativistas também acompanham com preocupação a situação da segurança pública na Bahia. Diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck diz que a ONG esteve na Bahia em 2022 e também neste para conversas com autoridades locais sobre a situação. Porém, não teria sido recebida pelo chefe do Executivo.

— O governador Jerônimo de Freitas não nos recebeu, por razões inexplicáveis, afinal o governador é a mais alta autoridade responsável pelas polícias e pela garantia de direitos humanos — afirma Werneck. — Infelizmente, apesar dos compromissos assumidos pelas autoridades, o que vemos é a piora do quadro e não vemos, por parte do governo, medidas consistentes que façam parar imediatamente as mortes e demais violações de direitos humanos.

Dentro do PT e do governo Lula, a falta de respostas para o problema da violência por parte do Executivo baiano também tem gerando um mal-estar. No fim de agosto, o diretório nacional do PT publicou uma resolução partidária com uma série de mensagens, entre elas um tópico que foi visto uma indireta para Jerônimo.

No item 12, partido fez críticas contundentes à violência por parte das polícias estaduais, de responsabilidade dos governadores, “que atinge a população mais jovem, pobre e preta do nosso país, assim como tem incidência nos próprios policiais”.

“Os governadores têm a oportunidade e o desafio, junto com o governo federal, de mudar situações como essas, buscando enfrentar as organizações criminosas com base numa política maior de inteligência e investigação”, prossegue o trecho documento.

No mês passado, após ações policiais que resultaram na morte de 30 pessoas em um período de uma semana, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, procurou o Jerônimo para questionar sobre a explosão de violência.

Almeida acionou a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos para investigar o caso. Em nota publicada na época, ele afirmou que “intervenções policiais que resultam em números expressivos de mortes não são compatíveis com um país que se pretende democrático e em consonância com os Direitos Humanos”.

O GLOBO questionou o ministério sobre o processo de investigação da situação na Bahia, mas não teve resposta. O governo da Bahia também não retornou aos pedidos da reportagem.

O Globo