Para Lula, neoliberalismo terminou em fascismo

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Foto: Reprodução

O presidente Lula (PT) discursou hoje na abertura da 78ª Assembleia-Geral da ONU e disse que “aventureiros de extrema direita” surgem dos “escombros do neoliberalismo”. Lula também criticou a desigualdade social no mundo, cobrando “vontade política” dos países ricos em solucionar o problema, e ressaltou sua volta à Presidência “graças à democracia”.

Como esperado, o presidente brasileiro fez um discurso voltado à defesa de mais espaço aos “países em desenvolvimento”, chamados por ele de “sul global”, e com fortes acenos à esquerda. Lula cutucou bilionários, criticou o neoliberalismo e fez referência indireta aos ex-presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump, dos Estados Unidos.

O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros, surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir o neoliberalismo por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário.

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Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo. Se hoje eu retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia do meu país.

Lula cobrou responsabilidade direta dos “países ricos” tanto na questão do lento combate à fome e à desigualdade social quanto no aquecimento global. A defesa do “sul global” já tem sido muito tratada por Lula internamente e em reuniões internacionais, como o do G20, e é vista como a principal bandeira internacional do seu terceiro mandato.

A desigualdade precisa inspirar indignação. Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano. Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo ao nosso redor.

A fome, tema central da minha fala neste Parlamento mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã. O mundo está cada vez mais desigual. Os dez maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade.

Em tom crítico, disse que a promessa dos R$ 100 bilhões anuais de países ricos para os países em desenvolvimento “permanece apenas isso, apenas uma longa promessa”.

Não haverá sustentabilidade nem prosperidade sem paz. Conhecemos os horrores e os sofrimentos produzidos por todas as guerras. É perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças. Bem o demonstra a dificuldade de garantir a criação de um Estado para o povo palestino. A este caso se somam a persistência da crise humanitária no Haiti, o conflito no Iêmen, as ameaças à unidade nacional da Líbia e as rupturas institucionais em Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger e Sudão.

Este é o oitavo discurso do presidente na Assembleia-Geral da ONU, em que o Brasil tradicionalmente faz a primeira fala. Ele foi mais aplaudido em três momentos: quando foi anunciado, ao dizer que o Brasil estava “de volta” e ao falar na Amazônia.

O Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com nossa região, com o mundo e com o multilateralismo. O Brasil está de volta.

Lula tratou ainda da sua pauta mais delicada internacionalmente: a guerra entre Ucrânia e Rússia. O presidente tem pregado paz e criticado posicionamentos de países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ao fornecerem armas para o país invadido.

Ele o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, vão se reunir pela primeira vez ao vivo depois de meses de negociação. Até então, Lula negou convites de ir ao país e conversou uma vez com Zelensky por vídeo.

Na Guatemala, há o risco de um golpe, que impediria a posse do vencedor de eleições democráticas. A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. A promoção de uma cultura de paz é um dever de todos nós. Construí-la requer persistência e vigilância.

Além disso, citou vítimas do terremoto no Marrocos e das tempestades na Líbia, comparando com as mortes nas chuvas no Rio Grande do Sul. “Essas tragédias ceifam vidas e causam perdas irreparáveis”, disse.

A fala marca a reestreia de Lula na abertura da Assembleia-Geral depois de 14 anos.

O Itamaraty tem buscado retomar posições tradicionais da diplomacia brasileira, reconstruindo pontes que foram abaladas após a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e colocar o país como protagonista da política internacional.

A gestão de Lula também busca se recolocar como negociadores de conflitos em busca da paz. Essa estratégia tem sido seguida no caso da guerra entre Rússia e Ucrânia e nas relações entre EUA e China.

Lula também se reúne com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, e o presidente do Paraguai, Santiago Peña.

Fazem parte da comitiva do presidente brasileiro os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o assessor especial da Presidência Celso Amorim e a primeira-dama, Janja da Silva.

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