Ministros de Bolsonaro vivem sob tensão com chefe
Foto: Editoria de arte/O Globo
A analogia com o futebol costuma ser feita pelo próprio presidente Jair Bolsonaro: ele é o técnico, e os 22 ministros são os jogadores que estão lá para fazer gols. Se não contribuem para o placar favorável e o comportamento em campo desagrada, Bolsonaro vira árbitro e dá cartão amarelo. O presidente nega uma reforma ministerial imediata, mas admite que substituições podem ocorrer a qualquer momento.
Quem acompanha as reuniões com o primeiro escalão do governo conta que, quando não há mulher no ambiente, Bolsonaro costuma usar palavrões para cobrar empenho do time. O presidente, segundo um auxiliar, exige resultados e é duro nas cobranças. Quem entrega mais sobe na bolsa de valores do governo. Ser considerado de confiança também ajuda na cotação.
— Não tem nenhum ministro chateado comigo. Estão felizes com o que estão fazendo, estão tendo liberdade. É aquele jogador que está em campo que o técnico fica enchendo o saco dele, tem que fazer o gol. Então, acho que ninguém vai sair — disse Bolsonaro em dezembro.
Entre os ministros, Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral e da Subchefia de Assuntos Jurídicos, é considerado indemissível. Elevado ao primeiro escalão em junho, termina o ano como o principal conselheiro do presidente. Advogado e major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF), o ministro é filho do capitão do Exército Jorge Francisco, morto em 2018 e que por 20 anos trabalhou com Bolsonaro na Câmara. Oliveira, por sua vez, era chefe de gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
O ministro da Economia, Paulo Guedes, segue em alta. Na campanha eleitoral, era chamado de “posto Ipiranga”, mas recentemente virou “patrão” do presidente nas pautas econômicas. O ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também segue no topo da lista de mais influentes no governo, apesar de estar mais longe dos holofotes nos últimos meses.
Outro que Bolsonaro costuma se referir como um dos craques do time é o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Segundo o presidente, ele tem a capacidade de fazer “milagre” com poucos recursos na mão. Apontado como um nome “terrivelmente evangélico” para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro André Luiz Mendonça (Advocacia-Geral da União) segue agradando.
As duas únicas mulheres do primeiro escalão, Tereza Cristina (Agricultura) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) têm a deferência do presidente. A primeira é chamada de “leoa” por Bolsonaro. A segunda recebeu recentemente elogio nas suas redes.
No grupo em ascensão, estão ainda os ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Governo). Amigos de longa data do presidente, eles têm atuado como conciliadores nos bastidores do Planalto. A Ramos, por exemplo, é atribuído o fato de Bolsonaro ter recuado e decidido enviar o vice-presidente Hamilton Mourão à posse do presidente Alberto Fernandez, na Argentina.
Apesar das críticas que recebem pela atuação, estão em uma curva ascendente os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente). Na avaliação do presidente, os dois têm executado as tarefas para as quais foram escalados.
Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), suspeito de ter se beneficiado de candidaturas laranjas durante a campanha eleitoral, termina o ano mais seguro no cargo. Segundo um interlocutor do Planalto, o presidente diz ter informações de que as denúncias contra o ministro são inconsistentes. Além disso, recentemente Bolsonaro elogiou publicamente Antônio.
Embora seja considerado peça fundamental no governo, a relação com o ministro da Justiça, Sergio Moro, segue em altos e baixos. Bolsonaro, segundo um auxiliar, sabe da importância da popularidade do ex-juiz para o governo, mas costuma se irritar com os posicionamentos de Moro. Nas palavras de uma pessoa próxima ao presidente, trata-se de um “caso de amor e ódio”. A última divergência pública dos dois ocorreu após Bolsonaro não vetar a criação do juiz de garantias no pacote anticrime.
Titular da Casa Civil, Onyx Lorenzoni perdeu a articulação política do governo, mas tem se esforçado para vender a imagem de um “gerente” do Executivo. Auxiliares do presidente, dizem que Bolsonaro tem “gratidão” por ele. Outro que tem uma relação difícil com o parlamento, o ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia, não está ameaçado, garante Bolsonaro.