Posse de Haddad: petistas negam aliança com Kassab
No primeiro dia de 2013, estive na cerimônia de transmissão do cargo do agora ex-prefeito Gilberto Kassab para o prefeito Fernando Haddad. O evento me permitiu colher informações interessantes que se contrapõem ao noticiário da grande imprensa.
A posse de Haddad contou com algumas centenas de pessoas, porém muito menos do que as 1.500 que a imprensa anunciou. E o público, à exceção do ex-prefeito Gilberto Kassab, da ex-vice-prefeita Alda Marco Antonio, do governador Geraldo Alckmin e de sua esposa, reuniu, quase que exclusivamente, petistas e simpatizantes.
A todos os políticos petistas que encontrei, fiz a mesma pergunta: Kassab terá um ministério ou algum outro cargo ou mesmo poderá fazer indicações para o governo Dilma Rousseff ou para a nova administração paulistana? A resposta, em uníssono, foi que não existe isso.
O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), aliás, além de negar essa hipótese de Kassab estar se aliando ao PT que a mídia e militantes do PSDB na internet vêm espalhando, perguntado sobre como vê o relacionamento de Haddad com a imprensa – se será tumultuado como foi com Marta Suplicy e Luiza Erundina –, disse esperar dificuldades devido ao fato de que quando o governante é do PT qualquer problema ganha maior peso.
Contudo, Teixeira deu uma boa notícia: a prefeitura deverá manter um relacionamento mais próximo com as redes sociais e a blogosfera, em um esforço de fomentar a comunicação alternativa.
Outra informação interessante foi dada pelo Padre Julio Lancellotti. Ele deverá ter algum cargo na administração Haddad, no âmbito do esforço que antecipou que será feito para mitigar a tragédia social da população de rua em São Paulo.
Pe. Julio afirma que uma medida emergencial nessa área já será tomada nos primeiros cem dias do governo Haddad: a Guarda Civil Metropolitana irá parar de reprimir com violência a população de rua.
O que ficou claro, para mim, é que o higienismo da gestão Serra-Kassab será substituído por trabalho sério para resgatar essas pessoas do abismo social em que mergulharam.
Outro fato relevante: tanto Kassab quanto Haddad qualificaram a dívida de São Paulo com o governo federal como “impagável”. Tal dívida seria de TRES VEZES o orçamento da cidade. Infelizmente, ninguém falou em auditoria, providência que soa elementar…
Durante o discurso de despedida, Kassab elencou supostas realizações de seu governo. Aqui e ali, viam-se e ouviam-se expressões e sussurros irônicos. Ao fim de sua fala, uma jovem negra fez um protesto solitário que todos fingiram ignorar, mas que ouviram muito bem: gritou, várias vezes, a palavra “assassino”.
Tentei alcançar a jovem, mas ela gritou e se retirou rapidamente. Mais tarde, fui informado de que o protesto decorreu da grande incidência de incêndios em favelas que marcou a gestão Serra-Kassab e que, até essa gestão, jamais ocorrera da forma como ocorreu.
Na vez de Haddad discursar, chamou atenção menção que fez ao bordão de sua campanha, quando afirmou que “São Paulo não pode ter prefeitos de meio expediente ou meio mandato”. Em sua posse, o novo prefeito disse que a cidade precisa de trabalho do prefeito em “tempo integral”.
O grande fato que pude apurar no evento, porém, foi o desmentido da história sobre alguma espécie de aliança entre Kassab e o PT, seja no governo federal, seja na nova administração paulistana.
O PSD, partido cuja criação ocupou o tempo de Kassab enquanto devia estar governando São Paulo, nem mesmo terá uma secretaria, apesar de estar anunciando que apoiará Haddad. O ex-prefeito deve mesmo cair no colo de Geraldo Alckmin.
O que me ficou claro nas conversas que tive na posse de Haddad é que a mídia tucana está tentando jogar o impopularíssimo Kassab no colo do PT após oito anos de uma aliança com o PSDB que jogou a capital paulista no buraco em que se encontra.