Para líderes partidários, Bolsonaro reconhecer golpe na Venezuela prejudica o Brasil
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou, nesta quarta-feira, o reconhecimento feito pelos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump (Estados Unidos) do presidente da Assembleia Nacional na Venezuela, Juan Guaidó, como presidente interino. A petista defende que Nicolás Maduro foi eleito em um processo eleitoral legítimo e que a iniciativa dos dois países cria “instabilidade” na América Latina.
— É uma situação muito ruim. Não é a forma de resolver conflitos. Qual é a legitimidade de um presidente norte-americano para reconhecer um presidente de outro país, sendo que esse país passou por um processo eleitoral? Critique-se ou não, o processo foi feito dentro das regras constitucionais da Venezuela. E lá, o voto é facultativo e teve candidatura de oposição.
A senadora criticou a possibilidade do Brasil apoiar uma intervenção militar no país vizinho.
— Imagina se a moda pega? Vamos ter o presidente dos Estados Unidos, do Brasil, de outros países interferindo na soberania dos países? É mais grave ainda o governo brasileiro se posicionar favorável, porque pode levar a uma intervenção com a força bruta. O presidente Bolsonaro vai enviar tropas brasileiras para Venezuela? Com que dinheiro? Colocando em risco a vida dos brasileiros? — questiona Gleisi.
Para ela, o Brasil deveria apostar no diálogo para resolver a crise no país vizinho:
— A melhor metodologia seria buscar o diálogo. Eu lembro que o Lula fazia muito isso. Todo dia que tinha crise na Venezuela, a oposição venezuelana também o procurava para ajudar na mediação, no estabelecimento de relacionamento. Depois de 2015, nós não tivemos mais nenhuma mediação com a Venezuela. Ou seja, o chanceler brasileiro não sentou mais. Por que eu estou falando do Brasil? Porque o Brasil é o maior país que temos na América Latina. Então, tem peso político e econômico. Então, o Brasil tinha de chamar as partes para conversar, para ver como poderia chegar a um consenso.
Para a senadora, Trump agiu com “interesse na maior reserva de petróleo do mundo”.
— Só tem um entendimento: a força do petróleo venezuelano que está fazendo isso. Ou seja, os americanos têm interesse no país que é a maior reserva de petróleo do mundo — diz.
Gleisi participou da posse de Maduro no último dia 10, sob o argumento de fazer um “contraponto” à hostilidade de Bolsonaro ao venezuelano. A petista sofreu críticas até de companheiros da esquerda por ter ido à solenidade, em meio aos questionamentos sobre fraudes no processo eleitoral do país vizinho.
O líder do PCdoB na Câmara, Orlando Silva (SP), também critica a posição de Bolsonaro:
— A Venezuela vive uma crise grave – institucional, política e econômica. O Brasil já tem experiência de mediação de conflitos de países vizinhos, incluindo a Venezuela. Fernando Henrique Cardoso e Lula usaram a mesma receita. E deu certo. O Brasil erra se aderir a uma facção. É mais um exemplo que Bolsonaro não desceu do palanque.
Para o deputado do Ivan Valente (PSOL-SP), Bolsonaro age a reboque de Trump:
— Ele ‘macaqueia’ o Trump. O Brasil é um país que tem 2 mil quilômetros de fronteira com a Venezuela. Você pode ter a derrubada do Maduro, inclusive com uma guerra civil. Então, o Brasil deveria atuar com mais passividade, ter mais diplomacia nesta crise. O Bolsonaro não entende nada de política externa e diplomacia. A lógica dele é apenas a lógica de extrema-direita. Ele não está pensando numa possível guerra civil. Então, é uma medida extremada, que deveria esperar mais e resolver com diálogo.
De O Globo