Comunicação no Brasil é mesmo uma Zorra Total

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Zorra, substantivo feminino que significa barulho, ruído, confusão. Diz-se de qualquer organização malfeita, preferencialmente. Esta casa está uma zorra, a festa foi uma zorra, este departamento é uma zorra, diz-se de uma residência mal-arrumada, de uma festa barulhenta e incômoda ou de um setor de trabalho mal-organizado.

Não há melhor definição para o que é – ou como está – a comunicação no Brasil. Sobretudo no que diz respeito a concessões públicas de rádio e tevê, de propriedade de todos nós e que, portanto, não podem ser usadas para atender a grupos políticos, ainda que possam ser exploradas comercialmente.

Não se pode questionar, nem em pensamento, a premissa imperativa de que criações artísticas e culturais – e, em princípio, por pior que seja, toda criação de entretenimento assim deve ser considerada –, desde que não atentem contra ditames legais elementares relativos a direitos e garantias individuais e coletivos, sejam totalmente livres de censura.

Já o humor político, este é tão antigo quanto a civilização. O processo civilizatório da humanidade, porém, fez com que seja considerado imperativo, quando se faz humor com políticos usando meios que pertencem a cidadãos de todas as colorações políticas e ideológicas, que nenhuma dessas correntes seja poupada.

Não haveria mal em um programa humorístico com um quadro fazendo piada sobre o ex-presidente Lula se os autores do programa tomassem o cuidado de fazer o mesmo com José Serra, por exemplo, de forma a não usarem uma concessão pública para ridicularizar um político e poupar seus adversários, beneficiando-os por tabela.

A Globo, porém, não esconde a usurpação que fez de um meio público de comunicação, transformando-o em arma de luta política de partidos com os quais mantém uma aliança tácita, segundo sugerem fatos como o uso de programas humorísticos com viés partidário, atacando os adversários daqueles partidos.

Com o falecimento do humorístico global Casseta & Planeta por conta da audiência cadente, o que ocorreu devido a que o público daquele programa, mais intelectualizado, percebera que havia se transformado em arma política, restou na Globo só o Zorra Total, ganhador hors-concours de todos os “prêmios” de pior programa humorístico da TV brasileira e afeito a um público mais ingênuo, politicamente.

Zorra Total. Que nome poderia definir melhor o estado da comunicação no Brasil? Uma comunicação em que as concessões públicas foram privatizadas por partidos como o PSDB e o DEM através de acordos obscuros com a família Marinho, controladora do império global.

O público jamais verá, em um programa humorístico da Globo, um sósia de José Serra tentando, sem sucesso, eleger-se síndico de prédio, ou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passeando com aliados, tais como o candidato tucano a presidente no ano passado, vestindo uma burca ou com uma caixa de papelão cobrindo a cabeça.

O humor político da Globo tem uma  direção só. Portanto, uma direção burra como a que o leitor verá na transcrição de quadro do programa Zorra Total do último sábado à noite, logo abaixo. Um produto de roteiristas que enxergam seu público como dotado de quatro patas e sem nenhum neurônio.

Nesse quadro, o ex-presidente, de pijamas, conversa com a esposa.

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“Dona Marisa faz ginástica, mas Lula só pensa em uma vaguinha no time de Dilma”

Lula – Ô, Amorzinho… Marisa, me ajuda aqui, meu amor – vem aqui. Olha só, to quase acabando, pa encerrá (sic) – lê palavras cruzadas que estava fazendo. – Ex-chefe de nação, barbudo e atualmente aposentado, com quatro letras… Já sei, companheira, tá na mão de Deus! Como é que se escreve Fidel?

Marisa – Luiz Inácio – diz, impaciente –, que Fidel o quê! Fidel tem cinco letras! Esse ex-chefe de nação, barbudo e aposentado, é você. Ele, uh, ele, aaah, Lulaaa! Quatro letraaas!

Lula – Eu? Que que é isso (sic), companheira?! Não to aposentado de maneira nenhuma. Nunca houve na história desse (sic) país um ex-presidente tão ativo como eu. Não quero mais fazer palavra cruzada – acesso de raiva, atirando a revista sobre a mesa – Eu vou procurar outra coisa pra fazer.

Marisa – Você não quer malhar um pouquinho, não, hein? – apontando a esteira de corrida.

Lula – Malhar é coisa da oposição. Passaram oito anos me malhando. Tudo invejoso! Ora…

Marisa – Desapega, Luiz Inácio. Eu to falando de exercícios físicos. É bom você entrar em forma, hein. Senão, nem no time da esquina vão te deixar jogar.

Lula – Companheira, e eu sou homem de jogar em time da esquina? Eu to interessado numa vaguinha do time da companheira Dilma, isso sim. Aliás, aproveita a oportunidade, vai lá, liga pra ela e pergunta se eu já to escalado.

Marisa – Não adianta nada ligar pra ela. O time dela já tá completo…

Lula – Não tem problema, companheira – diz, desconsolado. – Eu posso até ficar fora do time, mas eu vou ser o juiz do jogo, a autoridade máxima.

Marisa – Que “autoridade máxima”, o quê! Desapega, Luiz Inácio, você não apita mais nada.

Lula – Pára com isso… Marisa, esse aparelho aí, é o que? – pergunta, examinando a esteira de exercícios.

Marisa – Isso aqui é uma esteira ergométrica, entendeu. Você anda, anda, anda e não sai do lugar.

Lula – Esse exercício eu já fiz muito. Fiquei marcando passo durante oito anos… Marisa, pra que que serve (sic) esse botãozinho aqui, ó?

Marisa – Isso aqui é pra regular a inclinação da esteira, entendeu. Olha só: assim, dá a impressão que você tá subindo uma rampa…

Lula – Subindo a rampa? Marisa, pelo amor de Deus, deixa eu treinar aqui assim – com um pulinho lépido, sobe na esteira. – Ó!, to subindo a rampa, Marisa. Ai que saudade que eu tenho!

Marisa – Desapega, Luiz Inácio! Esse negócio de subir rampa não é mais pra você… Olha só: por que você não pega um pesinho e faz uma musculação, hein?

Lula – Fazer uma musculação – flexiona o braço direito com o peso em punho. – Não, deixa quieto. Deixa isso aqui quieto, Marisa. Você sabe que pegar no pesado não é comigo. Eu já sei o que eu vou fazer: eu vou dar uma corridinha pela praça. Fazer uns Cooper (sic), he, he.

Marisa – Ah, sei… Essa corrida, você vai se preparar pra corrida que vai ter daqui a quatro anos – diz enquanto “Lula” abre a porta da rua. – Você volta pro jantar, Luiz Inácio?

Lula – Volto. Essa corrida vai ser longa, mas eu volto. Depois que acostuma, a gente sempre quer voltar – olhando para a câmera com um sorriso maroto.

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