Nem a mídia crê em veto a Toffoli
Quem assistiu ao Jornal Nacional na noite de véspera do início do “maior espetáculo da Terra” no qual a mídia pretende converter o julgamento do mensalão e depois leu os jornais na manhã que antecedeu o início desse julgamento pode ter acreditado que o ministro do STF José Antonio Dias Toffoli irá ceder às pressões midiáticas e se declarar impedido de julgar.
O fato é um só: tudo isso, toda essa superprodução do julgamento do mensalão, não passa de produto do medo. Pense bem, leitor: se a condenação dos “mensaleiros” (assim, indistintamente, sem estabelecer as mais que evidentes inocências e gradações de culpa) fosse tão certa, por que a mídia faria tanta pressão? Seria só esperar as condenações e correr pro abraço, certo?
Está tudo muito longe disso. Aliás, ao pôr o ministro do STF Marco Aurélio Mello para falar em hipótese sobre a Corte que integra vir a ter que analisar um suposto impedimento de Toffoli que poderia ser pedido por uma das partes do processo (acusação ou defesa), o Jornal Nacional só quis semear o discurso que adotará caso José Dirceu seja absolvido – dirá que o STF amaciou para ele.
A Globo quis demonstrar, também, que haveria ressonância no STF à tese de impedimento de Toffoli e que, portanto, poderia arrancar esse impedimento. Talvez até pudesse. Já se sabe que a acusação (leia-se Roberto Gurgel, procurador-geral da República) atua em consonância com a mídia e a oposição e, assim, poderia propor àquela Corte uma votação sobre a participação de Toffoli.
Gurgel não fará isso e a própria mídia reconhece. E não fará porque, primeiro, se fizer poderá atrasar o início do julgamento do mensalão e, assim, perder o voto tido como “certo” pela condenação de Dirceu que é imputado ao ministro Cezar Peluzo, que terá que se aposentar ao completar 70 anos, em 3 de setembro.
Em segundo lugar, além de correr o risco de jogar o julgamento do mensalão para depois das eleições se tentar impedir Toffoli, o conclave entre mídia, oposição, Procuradoria Geral da República e parte dos ministros do Supremo sabe muito bem que não é só Gurgel que pode pedir o impedimento de um dos juízes.
Analisando sob hipótese, o eventual impedimento de Toffoli teria como conseqüência um pedido de mais de um dos réus do processo para impedir o ministro Gilmar Mendes, cujo impedimento ético, pelos critérios da mídia, é bem maior do que o do ministro que a direita midiático-judicial não quer que julgue porque acha que votará a favor de Dirceu.
Não é à toa que a mídia esconde os questionamentos que estão sendo feitos à participação de Gilmar Mendes no julgamento do mensalão.
Há mais: a recente polêmica entre Gilmar e Lula em que aquele acusou este e foi desmentido por Nelson Jobim, as críticas e denúncias públicas todas que Gilmar fez ao governo Lula durante sua vigência – e que faz até hoje – e a própria condição de também ter integrado o governo federal dos adversários do PT são motivos tão bons quanto os que há contra Toffoli.
A mídia tem é medo. Medo da absolvição de José Dirceu. Acima da absolvição de qualquer outro “mensaleiro”, a do ex-chefe da Casa Civil afastaria o caso de Lula e desmontaria, de maneira irremediável, a tese sobre esquema do governo anterior para comprar apoio no Congresso.
A absolvição de Dirceu é um cenário impensável para a mídia. Arrasaria o que resta – se é que resta – de sua credibilidade junto ao povo. A mídia deu um rosto ao mensalão e esse rosto é o do ex-ministro. Ele tem que ser condenado a qualquer preço. Nenhuma outra condenação poderia, no entender da mídia, mudar a opinião do povo sobre o governo Lula
A mídia costuma confundir opinião publicada – que chama de “opinião pública” – com a opinião do povo sobre Lula e seu governo revolucionário que pôs o Brasil entre as grandes potências mundiais, que melhorou a vida do povo brasileiro como nunca antes na história deste país e que até hoje é aprovado com entusiasmo por esse povo.
O povo já julgou o mensalão, sim. A mídia diz que julgou e condenou os “mensaleiros”, mas isso é outra tremenda bobagem. Se o povo desse bola pra isso não teria reeleito Lula em 2006 e, em 2010, não teria votado em quem ele indicou para suceder a si mesmo. A condenação de Dirceu não retiraria os ganhos sociais e econômicos que Lula gerou ao povo brasileiro.
O clima de juízo final para o PT, por fim, é a mãe de todas as bobagens. Como diz Paulo Henrique Amorim, o mensalão “não passa de Resende”. Ou seja, não passa de São Paulo. Sim, acho que torna mais difícil a situação de Fernando Haddad, mas acho que é até bom que ele seja confrontado duramente com o mensalão durante a campanha.
Não entendeu, leitor? Explico: está acontecendo o seguinte: a mídia está promovendo uma avalanche de acusações contra o PT pelo mensalão e se o partido levasse esse tema para o espaço considerável que terá na mídia durante o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV poderia ser questionado na Justiça Eleitoral por desvio do objetivo daquele espaço.
Agora, se os adversários de Haddad usarem o julgamento contra ele obviamente que terá o direito de se defender. As tentativas que serão feitas de criminalizar todo o PT por conta de membros do partido que estarão sendo julgados permitirá a ele não só obter seguidas vitórias na Justiça Eleitoral, mas usar o horário eleitoral para dizer o que a mídia não deixa.
Entre 2005 e 2006, este blog foi firme ao dizer que a mídia daria com os burros n’água ao achar que poderia ir sangrando Lula até chegar a eleição para, então, eleger o tucano de plantão que com ele disputaria a Presidência. Agora eu repito: os prejuízos eleitorais ao PT que o julgamento do mensalão causará serão bem localizados (São Paulo).
Para concluir análise sobre o quadro político que começou como análise do impedimento ou não de Toffoli, entra em pauta um fato sobre o qual a mídia já refletiu muito: a eventual absolvição de Dirceu. Se for condenado, o mundo continuará tão longe de acabar para o PT quanto está hoje. Para a mídia, porém, sua absolvição será um cataclismo, uma tragédia.