Avanço da direita em SP ameaça Nordeste e América do Sul
É inquestionável: São Paulo liderou avanço sem precedentes da direita brasileira nas eleições de domingo. Apesar de as eleições de governadores terem trazido boas notícias para o PT, é evidente que o fortalecimento surpreendente de Aécio Neves na reta final faz a eleição presidencial entrar no segundo turno muito mais indefinida do que fora possível prever.
O responsável por esse avanço conservador foi, basicamente, São Paulo. O movimento pró Aécio tomou conta do maior colégio eleitoral do país. No domingo, o chamamento do tucano a que as pessoas fossem votar usando camisas verde-amarelas foi um sucesso em SP.
Apesar de o candidato a governador pelo PT, Alexandre Padilha, ter tido votação muito acima da prevista pelas pesquisas, a força do PSDB no Estado mais rico e populoso do país anulou o que teria sido uma boa notícia para os petistas.
Por outro lado, o Nordeste tornou-se o reduto petista e protagonizará a grande resistência a um processo que, se vingar, representará um forte revés para o soerguimento nordestino durante a década passada.
Com efeito, durante os governos Lula e Dilma o Nordeste foi a região que mais lucrou. A grande mobilidade social que se instalou no país entre 2003 e 2014 ocorreu, acima de tudo, no Nordeste. Durante os governos do PT, o Sudeste e, mais especificamente, São Paulo não chegaram a experimentar o fenômeno nordestino, o que fez o Estado sentir que permaneceu estagnado.
Chega-se ao segundo turno com o país dividido. Pesquisa Datafolha recente mostrou que Aécio deve ficar com ¾ dos votos de Marina e Dilma, com ¼. Desse modo, se Dilma teve quase 44% dos votos válidos, se herdar 5% dos mais de 20% que teve Marina, chegará a cerca de 49% no segundo, enquanto que Aécio chegaria a 51%.
Essa “conta de português”, em um primeiro momento, pode sofrer influências da onda Aécio que tomou São Paulo na reta final do primeiro turno. Em 2010, na primeira semana após o primeiro turno José Serra chegou praticamente ao empate técnico com Dilma e, depois, foi decaindo.
Seja como for, para o resto da América do Sul o avanço conservador no Brasil é uma péssima notícia. Pelo peso do país na região, pelo tamanho de nossa economia e por nossa influência geopolítica, países que vêm sendo atacados pela campanha tucana, tais como Bolívia e Venezuela, podem prever que um governo do PSDB trataria de romper acordos de comércio que têm sido vitais para vários de nossos vizinhos.
Hoje, a grande maioria da América do Sul é governada pela esquerda. Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Peru, Venezuela e Uruguai têm governos que mantém relações muito próximas conosco e que, em um eventual governo do PSDB, serão literalmente lançados ao mar.
Governado pelo PSDB, o Brasil por certo se tornaria representante da aversão de Washington aos governos progressistas sul-americanos. Haveria retaliação econômica, a princípio, suave, mas progressivamente mais intensa contra os vizinhos governados pela esquerda.
No médio prazo, Washington conta com a literal destruição do Mercosul e o retorno sul-americano ao quintal norte-americano.
Voltando ao Brasil, a campanha de Dilma ainda padece do efeito segundo turno que ocorreu, também, em 2010. O comando da campanha petista previu que se desse a lógica e houvesse segundo turno, o desânimo sobreviria entre a militância, como há quatro anos. Por isso pedia para não se falar em vitória no primeiro turno.
Todavia, assim como na eleição presidencial passada, muitas forças políticas progressistas se darão conta, nas próximas semanas, do que representaria não só para o Brasil, mas para toda a América Latina a volta de um governo de direita.
Marina, magoada com o PT, deve apoiar Aécio. Contudo, sua decisão não significa, necessariamente, que todos os seus eleitores adiram a um candidato e a um partido de direita. A maioria pode aderir, mas não a totalidade.
Apesar de tantos pontos negativos para o PT gerados pela arrancada de Aécio na reta final, o cenário político fica mais claro a partir de agora. Caberá ao PT explicar aos brasileiros o que representaria a volta do PSDB. Sobretudo aos eleitores do Norte e do Nordeste, regiões que avançaram muito mais do que o Sul e o Sudeste de 2003 para cá.
No segundo turno não haverá o bombardeio de todos os candidatos contra Dilma que permeou o primeiro turno, mas a mídia entrará em campo com seus dossiês e delações, que, em São Paulo, foram um sucesso. Porém, não se descarta a possibilidade de o resto do Brasil vir a entender que aderir a São Paulo pode vir a ser bom só para São Paulo.
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PS: no domingo, estive meio fora do ar porque, após 1,5 ano fora do Brasil, minha filha que reside na Austrália chegou ao país para passar algumas semanas, razão pela qual o domingo foi dia de festa na família, apesar das notícias menos auspiciosas na política. A partir de agora, volto com tudo.