Se acusação de Veja sair na TV, Dilma ganha direito de resposta no sábado
A antecipação da distribuição da edição da revista Veja desta semana para esta sexta-feira (deveria chegar às bancas só no próximo sábado) tem um objetivo claro: permitir que a acusação de que Dilma Rousseff e Lula saberiam sobre corrupção na Petrobrás seja reproduzida nos telejornais e no programa de Aécio Neves na TV.
Veja, porém, não tem o alcance nem a instantaneidade da mídia eletrônica, ou seja, da TV. Desse modo, para que a denúncia se espalhe a tempo de interferir na eleição de domingo, tem que ser divulgada em rede nacional. Nesse aspecto, o último programa eleitoral de Aécio e o Jornal Nacional são as grandes apostas da revista e do PSDB.
As informações que você lerá a seguir foram obtidas junto a fonte no TSE que, obviamente, só aceitou falar ao Blog sob a condição de anonimato.
O que acontece é o seguinte: não há uma única dúvida de que Veja cometeu um crime eleitoral. Se Dilma entrar na Justiça contra a revista, pode pedir milhões de reais de indenização e dificilmente deixará de conseguir. A menos que o doleiro Yousseff confirme oficialmente tudo que Veja diz que ele disse. Dessa forma, a revista terá apenas exercido seu direito e o seu dever de informar.
Ocorre que a “denúncia” de Veja é tão fraca que os jornais O Globo e Estado de São Paulo desta sexta-feira trataram o assunto com reservas, ressaltando que o advogado do doleiro nega que seu cliente tenha acusado Dilma e Lula. Além disso, a Folha de São Paulo nem sequer divulgou a notícia em sua edição impressa.
Ou seja: Yousseff disse a Veja o que não disse nem ao seu advogado. Parece piada, mas não é. Veja quer que alguém acredite nisso.
Porém, a intenção de Veja não é ser levada a sério por pessoas informadas e por veículos que ainda prezam a própria imagem, mas, sim, a de contaminar um pequeno contingente de eleitores que poderia decidir uma eleição que as pesquisas feitas pela mídia dizem ser “apertada”, ainda que as sondagens do PT mostrem que não está tão “apertada” assim.
Um fato é indicativo de batalha judicial que deve ocorrer a poucas horas da eleição de domingo: nos últimos dias do segundo turno, o TSE suspendeu várias propagandas de Dilma e de Aécio na TV e no rádio que continham acusações que ainda não podem ser provadas. Até mesmo críticas ao aeroporto que Aécio mandou construir nas terras de sua família foram vetadas.
Não é o fato de Veja supostamente ser um órgão de imprensa que a torna diferente dos candidatos. A revista até pode veicular acusação desse calibre contra a presidente da República às vésperas de uma eleição e sem apresentar ao menos uma única prova, mas está sujeita a sanções posteriores.
Contudo, calúnia, difamação e injúria são medidas de acordo com o veículo usado para espalhá-las. Veiculação desses crimes em um Blog não tem o mesmo peso – e a mesma punibilidade – que se ocorresse em um meio de comunicação do porte de uma TV Globo, por exemplo.
Por falta de provas e pelo evidente intuito de Veja de influir na eleição, é até possível que o TSE conceda apreensão dos exemplares da revista. Contudo, se o Jornal Nacional ou qualquer outro telejornal reproduzirem a acusação sem provas da revista, tudo muda de figura.
Há pouca dúvida de que, se as tevês reproduzirem a acusação sem provas de Veja, o TSE concederá direito de resposta a Dilma no sábado, um dia antes da eleição e com a propaganda eleitoral encerrada.
Essa, porém, é uma faca de dois gumes. Uma resposta de Dilma pode ser pior do que nenhuma resposta, pois iria conferir publicidade a uma acusação que já vai perdendo força devido ao desmentido do advogado de Yousseff, que está sendo amplamente divulgado na internet – e, até agora, a denúncia de Veja só repercutiu na internet.
A proximidade da eleição é outro fator que joga a favor de Dilma. A parcela do eleitorado que pode comprar uma acusação tão fraca quanto a de Veja é menos informada, pertencente às classes C e D, e pode nem tomar conhecimento dessa acusação antes de domingo. De resto, o eleitorado de Dilma vem desprezando solenemente as acusações da mídia.
As “delações premiadas” vêm acusando o PT – e Dilma e Lula por tabela – há meses. A crença em que o eleitorado de Dilma comprará agora a suposta acusação de Youssef por ter sido feita diretamente à presidente só funcionaria se houvesse uma prova inquestionável dessa acusação, como um vídeo ou uma gravação. Do contrário, será vista como tentativa de ajudar Aécio.
Claro, porém, que não se exclui a possibilidade de Globo, Folha e Estadão estarem agindo de comum acordo com Veja para fazer, na noite desta sexta ou no sábado, alguma acusação que Dilma não possa responder a tempo mesmo que o TSE conceda direito de resposta.
O que fica de tudo isso é que o TSE, tão cioso de suas responsabilidades de impedir acusações sem provas no que diz respeito aos candidatos, estará sob escrutínio da sociedade e dos agentes políticos durante seu desempenho frente a esse previsível golpe de última hora de Veja. Os membros dessa Corte terão que pensar na própria imagem.