Querem “autonomia” para Levy? Que ele dispute eleição. E vença
A oposição (formal), a mídia e o mercado se contradizem ao tentar se aproveitar do perfil supostamente mais ortodoxo do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para atacar a presidente reeleita valendo-se de duas teses antagônicas: nomeá-lo significa render-se aos neoliberais e, ao mesmo tempo, a nomeação do técnico não é para valer.
Do lado da oposição tucana, por exemplo, entre tantos outros o candidato derrotado à Presidência Aécio Neves, na última sexta-feira, no Jornal Nacional, deu a seguinte declaração:
“Na verdade, o que eu vejo é uma grande contradição entre o discurso anunciado pela equipe econômica e a ação do seu próprio governo, porque no momento em que a equipe anuncia uma política fiscal mais transparente, a necessidade de ajustes, aqueles mesmos que ela negava durante a campanha eleitoral, o seu governo patrocina no Congresso Nacional uma enorme violência à lei de responsabilidade fiscal. A presidente Dilma deveria estar envergonhada de ter que se encontrar com a candidata Dilma nos corredores do Palácio do Planalto”.
Aécio, para variar, distorce os fatos. Dilma jamais negou a necessidade de ajustes na economia. Sobre ajuste fiscal, por exemplo, o que ela disse durante a campanha é que “Não é necessário um ajuste fiscal profundo”. Dilma reconheceu várias vezes, durante a campanha, que ajustes são necessários e pontuou que o que diferia os ajustes que faria dos ajustes que Aécio e Marina fariam seria a intensidade. Ponto.
Um dia antes da entrevista ao Jornal Nacional, porém, em entrevista a uma rádio gaúcha, o tucano cobrou de Dilma “autonomia” para o novo ministro da Fazenda trabalhar.
“Vamos ver se ele terá autonomia para fazer o que é necessário”
Ora, ora… Ao mesmo tempo em que os tucanos (assumidos e enrustidos) dizem que Dilma está adotando o programa deles – ou o de Marina, ainda mais radical em termos de “ajustes” –, duvidam de que ela o fará…
PSDB, contradição é o teu nome.
Mas, como de costume, os tucanos papagaiam o mercado financeiro. A verdadeira posição dos conservadores não é a de achar que Dilma cometeu estelionato eleitoral e está adotando o programa de governo que foi derrotado nas urnas. Isso fica claro nas opiniões dos “especialistas” do mercado.
Na avaliação de Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, a escolha de Levy é “um passo na direção certa”, mas sua maior dificuldade será a “interlocução com a presidente”. “Qual será o espaço político que Levy terá para fazer as tão esperadas reformas? O governo estará disposto a lhe dar carta branca para tomar medidas duras, mas necessárias, para cobrir o rombo fiscal?”, questiona.
Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, concorda: “Levy é um economista excepcional. Mas há dúvidas sobre se terá autonomia em relação à presidente para fazer as reformas necessárias”.
Já André Pereira Perfeito, economista-chefe do Gradual Investimentos, acredita que ainda é cedo para fazer essa avaliação, já que a equipe completa e as medidas a serem tomadas por Levy ainda não foram anunciadas. “O anúncio do ministro é a cereja do bolo, mas ainda não sabemos do bolo inteiro”, diz.
“Carta branca”? “Autonomia”? No way… Nunca houve um ministro do governo Dilma Rousseff com “carta branca”. Muito pelo contrário: a mídia tucana sempre afirmou que o “defeito” da presidente é ser “centralizadora”.
Nesse aspecto, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse o óbvio. Até porque, dizer o óbvio muitas vezes é necessário. Carvalho saiu em defesa de Dilma lembrando que, “Ao contrário do que dizem na imprensa, não é a presidente Dilma quem aderiu ao programa econômico de Levy, é ele quem aderiu ao dela”.
A escolha de Levy foi feita muito mais para que um técnico considerado de linha mais ortodoxa possa referendar a política econômica para o mercado. Isso já começou a ocorrer no mesmo Jornal Nacional, na quinta-feira passada. Matéria sobre a indicação da nova equipe econômica disse, com todas as letras, que Levy considera que o Brasil NÃO está em crise, ao contrário do que dizem a mídia, o PSDB e o mercado.
É grotesco dizerem que Dilma tem que dar “carta branca” a um subordinado. O papel dele será o de fiador de que não estão ocorrendo no país as desgraças que a mídia vem anunciando, e que o grau de ajustes será adequado. Afinal, é diferente um ministro independente como Guido Mantega dizer isso e um técnico “do mercado” dizê-lo.
Se querem que Levy tenha “carta branca”, que o convidem para ser candidato do PSDB ou do PSB à Presidência em 2018 e elejam-no. Até lá, ele será apenas mais um auxiliar daquela que, desde 1º de janeiro de 2011, tem dado a última palavra sobre cada ato do governo. E que acaba de ser reeleita com 54 milhões de votos.