Citação de Aécio na Lava Jato mostra que vazamentos são seletivos
No começo da noite de quarta-feira, o site do jornal O Estado de São Paulo surpreendeu o país com a informação de que o candidato derrotado à Presidência da República Aécio Neves fora citado pelo doleiro Alberto Yousseff “no final do ano passado” no “termo de colaboração número 20” por supostamente ter recebido propina da estatal do setor elétrico Furnas.
A revelação de Youssef não chega a ser novidade. Diz respeito à mais do que conhecida “Lista de Furnas”, que tem até verbete na Wikipedia e que jamais foi investigada com seriedade. Confira, abaixo, o que diz a “enciclopédia” eletrônica
“A Lista de Furnas é o nome atribuído ao esquema de corrupção e lavagem de dinheiro ocorrido nos anos 2000 e que envolve a empresa estatal Furnas Centrais Elétricas, com sede na cidade do Rio de Janeiro, para abastecer a campanha de políticos em sua maioria do Partido da Social Democracia Brasileira e Partido da Frente Liberal nas eleições de 2002. O escândalo foi originalmente divulgado pela revista Carta Capital em 2006, denunciando políticos, magistrados e empresários de receberem dinheiro ilegal através do então diretor da empresa Furnas Centrais Elétricas, Dimas Toledo e do publicitário Marcos Valério (…)”
Provavelmente, Ministério Público e Justiça Federal não têm acesso à Wikipedia.
Seja como for, a denúncia contra Aécio saiu junto com a negativa de que esteja envolvido em alguma coisa graças a uma suposta rejeição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a uma acusação de um doleiro que só é levado a sério pela mídia, pelo MP, pela PF e pela oposição quando acusa o PT. Político tucano é outra coisa.
E mesmo tendo sido “absolvido” na mesma notícia que o acusou, Aécio não poderia aparecer na mídia como tendo sido acusado sozinho. Havia que acusar aquela que o derrotou na eleição presidencial passada, mesmo ao custo de requentar uma matéria imoral que foi condenada pela Justiça Eleitoral e publicada três dias antes da eleição em segundo turno.
A revista Veja antecipou sua edição da última semana de outubro de 2014 para dar tempo de espalhar suposta acusação de Yousseff a Dilma Rousseff e a Lula. Nunca se soube o número do “termo de colaboração” assinado pelo doleiro, no qual a presidente e seu antecessor teriam sido acusados, e muito menos ficou-se sabendo que o então candidato adversário naquele segundo turno, Aécio, também fora citado pelo mesmo doleiro.
Porém, para Aécio não aparecer sozinho como tendo sido acusado por Yousseff, a Folha de São Paulo acaba de requentar a matéria da Veja que tentou mudar o rumo da eleição presidencial de 2014 – e que quase conseguiu.
A menção a Dilma na primeira página da Folha baseia-se na reportagem de Veja, mas omite que Lula, que a revista afirmou, ano passado, que fora citado pelo doleiro tanto quanto a presidente da República, jamais foi sequer investigado. E que não pensem que o ex-presidente pode figurar na lista do procurador-geral da República, pois pode ser investigado por qualquer promotor público e responder a inquéritos em primeira instância da Justiça, o que aliás vem acontecendo devido a denúncias sem provas do réu dos mensalões petista e tucano Marcos Valério.
Ao fim e ao cabo, descobrimos que a matéria de Veja que tentou mudar o rumo da eleição presidencial poderia conter, também, o nome de Aécio Neves. Aquela capa infame da edição de 24 de outubro de 2014 poderia ter três rostos, o de Dilma, o de Lula e o de Aécio.
Se houvesse um mínimo de seriedade na dita “grande imprensa” brasileira, ela admitiria que vem publicando vazamentos seletivos. Denúncias sem provas – e, talvez, até inventadas – que prejudicam petistas e acobertam tucanos.
Vale comentar que essa manchete da Folha de São Paulo é um escândalo. Foi buscar, lá atrás, um meio de não citar só Aécio como alvo de denúncia de Yousseff. E o que é pior, sem ter nem certeza de que a menção a Dilma de fato foi feita pelo doleiro no ano passado.