O protesto de um combatente da ditadura por Marielle

Crônica

Quem Matou Marielle?

No dia 28 de março de 1968, o ano que foi instituído o AI5, o jovem Edson Luís, estudante, pobre, oriundo do norte do Brasil, foi assassinado pela PM do Rio de janeiro, quando jantava no Calabouço, restaurante popular gratuito, que atendia a massa pobre de jovens estudantes, especialmente os secundaristas. Quem puxou o gatilho foi o comandante da guarnição que invadiu o Calabouço, o aspirante a oficial Aloísio Raposo, e ‘calou a boca do moço’*, para sempre.

O assassinato de Edson Luís ficou para história, quem puxou o gatilho, ninguém lembra, por que havia a consciência da sociedade e dos historiadores, de que Edson Luís fora assassinado pela Ditadura Militar.

Como em 68, também agora, quem matou a Marielle e o Anderson foi o Golpe, foi a Ditadura dos canalhas, marionetes dos EUA, que quando não privatiza, terceiriza inclusive a morte.

Os que puxaram os gatilhos, provavelmente serão descobertos, como as balas, conforme noticiado, já o foram como desviadas da Policia Federal . Os donos do Golpe sabem quem são, e apresentarão os autores, vivos ou mortos, e irão se postar como os benfeitores, na busca desesperada do governo estancar a impopularidade, dar sobrevida ao fracasso da intervenção militar no Rio e na tentativa vã de alçar voo eleitoral.

Quando na verdade , política e ideológica, os gatilhos foram puxados pelo fascismo, que está no cio no país, atraindo e gerando o ódio.

Os golpistas e a rede Globo são os verdadeiros assassinos das Marielles e Andersons.

A vereadora Marielle, antes de ser executada, havia postado no facebook, com o título ‘Somos todos Acari, parem de nos matar’, o seguinte apelo: “Precisamos gritar pra que todos saibam o que está acontecendo em Acari nesse momento. O 41º Batalhão da Polícia do Rio, está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana, dois jovens foram mortos e jogados em um valão, ontem, a polícia andou pelas ruas, ameaçando os moradores. Acontece desde sempre, e com a intervenção ficou ainda pior” , e ela orientava que os leitores viralizassem a denúncia.

Marielle Franco e Anderson Pedro Gomes, foram mortos no dia 14 de março, próximo das 22 horas, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Na mesma data, há 135 anos, Karl Marx falecia. Desnecessário sublinhar o legado de Marx, mas fundamental sublinhar a trajetória de luta vitoriosa de Marielle, que nasceu, viveu e lutou na favela da Maré, e sobreviveu, até que esses tiros de profissionais da morte, a retirassem dessa vida, deixando o legado de combatente dos Direitos Humanos, de protagonista da política, de coragem, assertividade e ética, não se intimidou com as dificuldades de uma favelada e ultrapassou a média estatística de educação dos pobres e negros, se transformando em socióloga e mestra em Administração Pública.

Conheci e frequentei o restaurante Calabouço, como líder estudantil que fui nos anos 60, a mensagem que enviamos à sociedade naquela efeméride foi: ” Mataram um estudante, poderia ser seu filho”.

Não é exagero comparar Marielle a uma rosa e declamar: “Morreu uma rosa da favela”. Mas temos que ir além da poesia, além da denúncia, é preciso canalizar a dor da perda, a solidariedade do sentimento e a indignação aos assassinatos de Marielle, do Anderson e do Edison, em ações políticas.

O enredo da escola de samba Paraíso do Tuiuti e a declaração do General Villas Boas, pleiteando salvo contudo para matar, foram premonitórias.

A marcha rancho cede passagem à marcha fúnebre de Acari, os tamborins, as caixas e os atabaques, silenciam, e o surdo de marcação soa o lamento da saudade… Não é carnaval, mas é chegada a hora do Morro descer, como foi ensinado pela Paraíso do Tuiuti, o cativeiro social está aqui, ali, em todo o Brasil, é preciso que os quilombos das favelas, os comitês pela democracia, se unam nessa guerra pela libertação do cativeiro social, pois na luta de classes não existe o hoje sem o amanhã.

E que o morro desça já na passagem do sétimo dia dos falecimentos dos companheiros Marielle e Anderson, num massivo ato ecumênico, no seu sentido literal de busca da unidade, tanto religioso quanto político.

Assassinaram a Rosa da Favela, como querem assassinar, politicamente, o Lula, guerreiro do povo brasileiro.