Golpistas se recusam a entender fracasso do golpe
O golpe fracassou. Claro que continua governando o Brasil – e não me refiro a Michel Temer, que nunca chegou a governar de fato. Refiro-me aos poderes dissimulados que moveram as peças e financiaram a derrubada de Dilma Rousseff através da sabotagem da economia, a única fórmula que funcionaria para tirar o PT do poder.
Entre 2005 e 2013, foi tentada, furiosamente, a desmoralização do PT e dos presidentes petistas através de um noticiário massacrante. Acusações desmoralizantes se valendo de uma pseudo ética, porém, nunca haviam funcionado; a boa situação da economia, o enriquecimento progressivo dos brasileiros ao longo de uma década inteira faziam a esmagadora maioria do povo simplesmente ignorar as acusações da mídia.
Porém, junho de 2013, desencadeado de uma forma jamais explicada, com base em uma “razão” inacreditável, míseros 20 centavos de aumento nas passagens de ônibus em São Paulo, criou um estado de comoção mental em setores radicais de esquerda que atraiu a extrema-direita e desencadeou um processo que levou dúvidas aos investidores que moviam a economia brasileira fazendo fila para despejar bilhões de dólares no Brasil em projetos de médio e longo prazos, fenômeno jamais visto no país no pós-redemocratização.
As manifestações violentas de junho de 2013, acompanhadas de depredações e sob explicação inverossímil sobre “mudar o país” quebrando vidraças, queimando pneus e interrompendo o fluxo normal da cidade de São Paulo – a princípio – fez o investimento começar a se retrair.
O investimento interno e externo, porém, era o que estava financiando o rápido desenvolvimento brasileiro. Sem junho de 2013, o Brasil talvez já estivesse às portas de ingressar no rol dos países desenvolvidos, com uma população mais rica, educada e produtiva.
A insensatez de amplos setores da esquerda e um erro colossal de Dilma Rousseff, cometido no âmbito do encurralamento gerado pelas manifestações daquele 2013 com vistas a mostrar novidade no combate à corrupção, criou a lei 12.850/13, a dita “Lei da Delação Premiada”, que permitiria que corruptos fossem pressionados pela nascitura operação Lava Jato, outra obra de Dilma, a acusarem o PT – e só o PT – para se livrarem da cadeia.
A “flexibilização” das garantias constitucionais permitiu prisões sem sustentação legal mínima contra controladores do setor da construção pesada, o setor que mais dinheiro movimentava no país e que respondia, sozinho, por nada mais, nada menos do que 3% do PIB.
Donos de empreiteiras foram encarcerados “preventivamente” até que aceitassem acusar petistas, com vistas a chegar a Lula, o cobiçado prêmio da direita brasileira.
A operação Lava Jato paralisou a economia brasileira. A queda de arrecadação de impostos e o sumiço do investimento privado interno e externo fizeram o resto do serviço; a economia brasileira entrou em coma.
Dilma Rousseff optou por ir à campanha eleitoral da própria reeleição negando os problemas da economia tal como fizera o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cerca de uma década e meia antes, em 1998, quando ele negou que teria que desvalorizar o real assim que começasse seu segundo mandato, de forma a impedir a vitória de Lula.
Dilma, porém, tem uma desculpa a seu favor: agiu assim porque não imaginava que seria sabotada por Eduardo Cunha e pela própria esquerda. Um breve ajuste fiscal no primeiro semestre de 2015 permitiria reequilibrar as contas públicas e manter a rota de crescimento, mas a oposição se recusava a aceitar a derrota eleitoral.
Paralelamente, Eduardo Cunha, com a Lava Jato já no seu encalço, exigiu de Dilma que mandasse parar a investigação contra si. A negativa da presidente exasperou hordas de congressistas picaretas que seriam atingidos pelas investigações e que passaram a bloquear todas as medidas para calibrar a economia.
Surgem, então, as pautas-bomba de Eduardo Cunha, que autorizavam gastos quando era preciso austeridade. Paralelamente, a paralisação da construção pesada via empreiteiras ceifou praticamente todo o crescimento do primeiro ano do segundo mandato.
A economia começou a parar e essa foi a oportunidade perfeita para a mídia convocar manifestações contra o governo. Grandes redes de televisão, rádio e portais de internet conseguiram colocar multidões nas ruas.
Ao mesmo tempo, o Congresso viu na queda de Dilma a possibilidade de interromper investigações contra caciques políticos instalados na Câmara e no Senado. Votou um impeachment sob razões fajutas achando que poderia reativar a economia quando quisesse, pensamento compartilhado pela mídia.
A ideia era retirar do povo tudo que os governos petistas deram, criando condições para exterminar a CLT, os programas sociais e ressuscitando as legiões de mão-de-obra barata para o capital explorar.
De quebra, a burguesia não teria mais que ver gente de pele escura e chinelo de dedo em aeroportos e favelados virando doutores.
Não poderia dar certo. Essa massa empobrecida que Lula resgatou da indignidade lá em 2003 e levou a um estilo de vida que ela jamais pensou que poderia ter, provou o fruto proibido: uma vida digna e esperança (real) de vencer na vida.
O golpe de 2016, em pouco tempo começou a se revelar um embuste. A vida começou a piorar cada vez mais rapidamente. A renda começou a se reconcentrar em escala industrial. A pobreza começou a explodir. A fome voltou.
O próprio empresariado não está colhendo tanto quanto esperava. Economizou uns caraminguás com salários, mas as vendas despencaram. A margem de lucro é maior, mas a escala de vendas é uma fração do que era.
A mídia golpista até que ensaiou o alarde de uma “retomada” do crescimento, mas era muito mais wishful thinking (desejo) ou meramente mentira do que análise realista dos fatos.
Não há como o Brasil retomar o crescimento simplesmente porque, para crescer, como disse Lula quando eclodiu a crise econômica mundial em 2008, “a roda da economia precisa girar”. Afinal, se o trabalhador está empobrecendo, gastará menos. Se gastar menos, o empresário lucrará menos.
Claro que os negócios dos vendedores de artigos de alto luxo vão faturar mais quando você tira do pobre e dá ao rico, mas o que gira a economia do país é o mercado de consumo de massa – e, por favor, não façam esse trocadilho pobre…
O golpe fracassou porque a historieta das “reformas” que levariam o Brasil ao paraíso mostrou-se mera artimanha para tirar do pobre e dar ao rico. Quem for mandado embora do emprego, hoje, sem receber seus direitos, ou for roubado pelo empregador na rescisão, não terá como entrar na Justiça devido à reforma trabalhista.
A direitalha acha que todo mundo é idiota… Sim, há muito idiota no Brasil, e todos eles compraram a conversa fiada dos golpistas e ficaram contra Dilma, Lula e o PT. Mas quando o cinto começa a apertar, nem a idiotia mais galopante resiste.
Prova disso é que os candidatos de direita estão chafurdando nos últimos lugares das pesquisas, à exceção do protótipo de Hitler que não chegará a lugar algum. Um mês de horário eleitoral gratuito bastará para transformar Bolsonaro em pó.
Que candidato terá coragem de defender a reforma da Previdência?
Que candidato conseguirá se eleger sem prometer reverter a reforma trabalhista?
E por aí vai…
A campanha eleitoral de 2018 será muito divertida — para o lado de cá.