Família de Queiroz testemunha hoje

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Estão previstos para hoje, no Ministério Público do Rio, os depoimentos da mulher e das duas filhas de Fabrício Queiroz, assessor parlamentar do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), cuja movimentação bancária foi considerada atípica pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Queiroz, durante um ano, movimentou em sua conta R$ 1,2 milhão, dinheiro considerado incompatível com os seus salários como policial militar e funcionário lotado no gabinete de Flávio Bolsonaro. Senador eleito, Flávio foi convidado pelo MP a depor, nesta quinta-feira, mas o comparecimento não é obrigatório.

Há quase duas semanas, numa entrevista ao SBT, Queiroz rompeu o silêncio de 20 dias e justificou os altos valores com a suposta venda de automóveis – “Sou um cara de negócios, eu faço dinheiro” – e afirmou que por meio da conta bancária geria o dinheiro da família. O Coaf identificou depósitos da mulher, Márcia Aguiar, e das filhas Nathalia e Evelyn, na conta de Queiroz. Elas também trabalharam como funcionárias de Flávio e devem confirmar a versão do ex-coordenador de segurança do parlamentar.

Advogado de Queiroz, Márcia, Nathalia e Evelyn, Paulo Klein negou ao Valor que a propalada facilidade do cliente em ganhar dinheiro seria uma contradição com o empréstimo de R$ 40 mil que Queiroz teria tomado do presidente Jair Bolsonaro. Na movimentação bancária, consta um pagamento em cheque à hoje primeira-dama Michele Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil. “Aquilo foi em outro momento. E tem outra. Às vezes você vai fechar um negócio; tem R$ 60 mil e apareceu oportunidade de comprar um carro de R$ 160 mil, e não tenho. Peço a um amigo e depois devolvo para ele. Às vezes é questão de fluxo financeiro, não que seja incompatível”, disse Klein. A declaração do advogado foi dada durante entrevista exclusiva concedida ao Valor no dia seguinte à fala de Queiroz no SBT. Procurado desde sexta-feira, no entanto, Klein não respondeu a telefonemas nem a mensagens por WhatsApp.

O silêncio do advogado vem depois de afirmações negativas de Bolsonaro e do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, na semana passada. Na primeira entrevista após tomar posse, Bolsonaro disse não “ter nada a ver com essa história” e qualificou os negócios de Queiroz como “rolo”. “Ele disse que vendia carros, sei que fazia rolo, mas quem vai ter que responder é ele”, afirmou. Augusto Heleno disse não ter achado a explicação de Queiroz “absolutamente consistente” e considerou necessária a comprovação de que ele realmente vendia automóveis. “O que quem está de fora espera? Uma declaração: ‘Está aqui o recibo’. Uma coisa provada”, afirmou o ministro à GloboNews. Ao Valor, o advogado Paulo Klein disse que seu cliente “está reunindo a documentação”.

Queiroz faltou quatro vezes a audiências marcadas pelo MP do Rio, e justificou as últimas duas ausências pela necessidade de diagnosticar e tratar um câncer recém-descoberto no intestino. Duas das principais questões ainda não explicadas pelo ex-assessor e pelo advogado – eles dizem que isso só será tratado em depoimento ao MP – são os depósitos recebidos de outros funcionários de gabinete de Flávio Bolsonaro e a coincidência dessas transferências com a data de pagamento aos servidores da Assembleia Legislativa do Rio. A suspeita é que Queiroz era um ‘laranja’ e sua conta servia de instrumento para recolher parte ou todo o salário de assessores de Flávio Bolsonaro. A prática, conhecida como “rachadinha”, configura crime de peculato. Alguns funcionários eram aparentemente “fantasmas” e não compareciam regularmente ao trabalho.

Do Valor