Lula, sua força e o fim da masmorra

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Por Meire Cavalcante

 

Acabou. A prisão em segunda instância foi derrubada no fim na noite do dia 07 de novembro de 2018, para o bem da letra constitucional. Por isso, no último dia 06 participei, ao lado do meu amigo Eduardo Guimarães, da última entrevista de Lula na MASMORRA de Curitiba.
 
Agora que meu coração se aquieta por saber que, muito brevemente, Lula voltará à sua família e aos braços do povo, sinto-me mais leve para contar a experiência de entrevistá-lo em sua prisão política.
Quando cheguei pela manhã à Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, meu coração ficou apertado. Ao lado de uma porta de metal de pintura já gasta estava a palavra “custódia”. Atrás daquela porta insignificante permanecia preso, injustamente, o maior líder popular que este país já teve.
 
Fomos muito bem tratados pelos funcionários públicos que nos receberam. Cordiais, cederam-nos as credencias, fizeram a revista e nos encaminharam à sala de entrevista.
 
Lula chegou, como sempre, sorridente. Mas havia que se observar o semblante carregado de quem está em isolamento absoluto por 580 dias. QUINHENTOS E OITENTA dias. O isolamento é, diga-se, um dos instrumentos de punição no sistema carcerário.
 
Fizemos cerca de 13 perguntas. Ele queria falar. Ele precisava falar. O encarceramento de um homem do povo e de um ser político como ele é avassalador. Uma hora era muito pouco tempo para tanta coisa entalada em sua garganta. Por muitas vezes, Lula se exaltava. Estava bravo, revoltado não só com sua prisão injusta, mas, principalmente, com as barbaridades que estão acontecendo no Brasil e com o que o atual  governo está fazendo contra o povo.
 
Em certo momento, fiz uma pergunta que lhe fez botar para fora, de maneira contundente, sua indignação. Ele me olhava nos olhos e deles não esquivava. Foram minutos de resposta sem que ele tirasse seus olhos dos meus. Isso não é pouca coisa, em um mundo em que as pessoas mentem e evitam olhares demorados. A impressão que me dava é que, junto com as palavras, a alma daquele homem também fluía para chegar à interlocutora.
O que quero dizer é que parte da mensagem de Lula não é possível capturar por meio do vídeo, porque boa parte do que Lula é se consolida quando ele entra em contato com o outro. Este homem não se tornou a figura política mais importante do país tendo nojo de pegar nas mãos sujas e calejadas do trabalhador; evitando o cheiro de suor que escorre da testa de quem produz a riqueza deste país desigual sem ter o direito de dela desfrutar.
Quantas centenas de fotos já vimos em que Lula abraça, beija, cumprimenta pessoas do povo, sem fazer distinção, sem dar mais ou menos importância por considerar a roupa, a cor da pele, o local de origem ou qualquer atributo? E, para além disso, quantas são as imagens que flagram o olhar deste homem que encontra sempre os olhos do  outro? O mesmo que me impactou e que me fez entender melhor a força que Lula tem.
Eduardo disse ontem, na transmissão ao vivo pós julgamento do STF, que Lula perdeu os bens, a liberdade, a mulher, o irmão, o neto… mas não perdeu a dignidade, o amor ao povo e seu compromisso com o país. É isso e mais: ele ainda sonha, ele ainda quer ajudar a reconstruir o Brasil, ele não quer vingança, ele quer casar. Ele fala de paz e de amor. Essa foi sua mensagem, já ao final do encontro, quando lhe perguntei se quem sairia dali seria “Lulinha paz e amor” ou “Lula jararaca”.  Ele riu da pergunta, respirou e disse: “sou uma pessoa do bem, não tenho ódio”.
Ao final de nosso breve encontro, eu disse ao presidente que esperava que nossa próxima entrevista fosse aqui fora, com ele em liberdade. Ninguém pode imaginar a minha alegria de saber que isso se realizará em tão pouco tempo. Desejo justiça para Lula. E paz para o Brasil.
Veja a íntegra da entrevista: