Dirceu: Bolsonaro renuncia a projeto de desenvolvimento nacional

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É possível um pais da dimensão do Brasil, em população, território, riquezas naturais e economia, construir uma sociedade não apenas justa, mas compatível com o século 21 e seus desafios ambientais e humanitários em liberdade e em paz?

Acredito que sim, nosso Brasil pode. Após séculos de vida, quando predominaram a exploração e a pobreza para a maioria da população, a escravidão, o analfabetismo, o coronelismo e voto de cabresto, tudo que hoje é história custou décadas de lutas e rebeliões, revoluções, golpes de estado. Foi um longo processo de formação histórica de nosso Brasil atual, com as classes trabalhadoras e empresarias, a classe média, os interesses, a cultura e a ideologia, as entidades e os partidos, os líderes e suas vitórias e derrotas.

Nossa democracia sempre teve vida curta, cortada por golpes e ditaduras.

Somos a sexta economia do mundo, estamos entre os maiores países em população e território, somos ricos e industrializados, temos energia, terra e água e uma das mais modernas agriculturas e pecuárias do mundo, riqueza mineral e de óleo e gás, um setor de serviços moderno – mas não conseguimos construir uma sociedade justa e igualitária. Pelo contrário, estamos entre os piores países do mundo em distribuição de renda e desigualdade social, e a pobreza é um escárnio diante de um país rico e desenvolvido.

A causa principal não é a falta de riqueza, é a concentração da propriedade, da riqueza e da renda, com agravantes de uma sistema financeiro, tributário e agora uma política de Estado que agrava a desigualdade.

O desmonte do Estado nacional e de bem-estar social construído nas últimas décadas tem vários nomes: desindustrialização, privatização, desregulamentação, abertura comercial e financeira, juros altos, câmbio valorizado, custo tributário e logístico, tudo colocando em risco as bases do desenvolvimento do país e de sua indústria na era 4.0, depois do tempo perdido na 3.0.

Sem independência financeira e tecnologia o Brasil não ocupará seu lugar no mundo e alienará sua soberania e oportunidade de retomar sua industrialização abortada.

Seus bancos públicos, sua estatais, suas universidades e seus centros de pesquisa e tecnologia, seu mercado interno são a condição para interromper a decadência de nossa indústria.

É uma triste ilusão imaginar um Brasil apoiado apenas na economia agrícola, mineral, exportadora e nos serviços e comércio, onde avançam a precarização do trabalho e os baixos salários, mesmo com o crescimento da produtividade e queda da participação do salário na renda nacional, além do atrofiamento do mercado interno.

Ao renunciar a um projeto de desenvolvimento nacional, entregar a riqueza e a renda do petróleo, privatizar suas estatais e bancos públicos, o atual governo coloca em risco não apenas a construção de um sociedade justa, mas a própria soberania nacional, a independência da nação brasileira e sua liderança natural na América do Sul, condição para sua presença autônoma no mundo atual.

Metrópoles.