Indígenas repudiam pastor para cuidar de povos isolados

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A indicação do pastor evangélico e ex-missionário Ricardo Lopes Dias para chefiar a área de índios isolados da Fundação Nacional do Índio (Funai) levou a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), uma das principais ONGs do setor, a divulgar uma nota de repúdio contra sua nomeação para o cargo.

Segundo a Coiab, o País estará sujeito a “crimes de genocídio e etnocídio que serão cometidos contra os nossos parentes isolados e de recente contato caso se concretize a nomeação de uma pessoa ligada às atividades de proselitismo religioso para o setor da Funai que atua com esses nossos parentes”.

Ao Estado, Ricardo Lopes Dias confirmou que foi indicado para o posto, mas ainda aguarda a oficialização de seu nome pela diretoria da Funai e publicação no Diário Oficial da União.

A Coiab afirma que os indígenas “sofreram historicamente com a atuação de missionários proselitistas – muitos deles da Missão Novas tribos do Brasil (MNTB) – que fizeram contato forçado com nossos avôs e avós”.

Ricardo Lopes Dias já foi ligado MNTB e atuava como missionário, evangelizando índios na região da terra indígena Vale do Javari, no Amazonas, uma das maiores terras indígenas demarcadas do País, com mais de 8 milhões de hectares e que concentra o maior número de registros de povos indígenas isolados em todo o mundo.

Segundo a Coiab, o contato forçado foi feito através de mentiras, violência e ameaças de morte. “Em outras investidas de contato para nos evangelizar nos ofereceram presentes para atrair e nos enganar, muitas vezes esses presentes estavam contaminados com doenças, o que levou muitos de nossos parentes à morte”, declara a organização.

“Temos o direito de pensar e viver diferente da sociedade não-indígena. Temos o direito a nossos territórios! Não vamos deixar que tais igrejas e esses fundamentalistas religiosos façam com nossos parentes isolados o que fizeram com nossas famílias no passado!”, conclui a Coiab. A Funai não se manifestou a respeito.

Estadão.