Tensão EUA-Irã pode ameaçar economia brasileira

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A preocupação com possíveis desdobramentos do ataque americano que causou a morte do general iraniano Qassem Soleimani, levou o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, a cair 1,2% na abertura dos negócios. Acabou encerrando em queda de 0,73%, aos 117.706 pontos, depois de ter registrado um novo recorde na véspera.

Em Nova York, o índice Dow Jones recuou 0,81%, e o S&P, 0,71%. Já o barril do petróleo tipo Brent encerrou em alta de 4,09%, cotado a US$ 68,70.

Com isso, o cenário externo ficou mais ameaçador para a economia brasileira, que ensaia uma recuperação mais forte.

Economistas ainda esperam o desdobramento da ação americana para avaliar as consequências na economia mundial e brasileira, mas, a curto prazo, espera-se impacto no preço do petróleo e na cotação do dólar, bem como uma maior aversão a risco dos investidores globais a emergentes como o Brasil.

Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet), acredita que o protecionismo, que já cresceu nos últimos anos, deve aumentar. No ano passado, as restrições, barreiras e sanções comerciais cresceram 27% frente a 2018, diz Lima:

— Não deve ser um evento passageiro, como tivemos em 2019 (com o bombardeio por drones de uma refinaria na Arábia Saudita). Há motivações políticas dentro do Irã, que já estava se ressentindo do embargo por causa das armas nucleares. Há eleições nos Estados Unidos este ano, e o evento pode melhorar a popularidade de Donald Trump. Por esses motivos, talvez tenhamos um conflito mais acentuado do que no ano passado. Isso tende a aumentar o protecionismo.

Citi vê Brent a US$ 70
A Capital Economics estima que o conflito no Oriente Médio pode reduzir o PIB global em 0,3% este ano.

– Esse evento (o ataque) provocou uma mudança do clima, que estava positivo nos últimos dias. Agora, os possíveis desdobramentos são pouco claros, o que, no curto prazo, gera uma aversão a risco — diz Silvio Campos Neto, economista da Tendências.

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Para Armando Castelar, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), ainda é cedo para traçar um quadro mais claro das consequências do ataque:

— Há muito mais o receio do que pode vir pela frente do que o fato isolado. Do ponto de vista da economia é ruim, gera mais risco de tumulto na região e implicações para o preço do petróleo. O episódio pode sair do radar daqui a três dias, ou ganhar uma dimensão maior.

Castelar lembra que os americanos são muito sensíveis à alta dos preços dos combustíveis, o que não seria muito interessante para a Casa Branca em ano de eleição.

— Nesse sentido, uma escalada nesse conflito me surpreenderia — diz Castelar, em opinião contrária à de Lima, que vê ganhos eleitorais para Trump.

O Citibank estima que o barril do Brent pode superar os US$ 70. Mas, para o economista Rodrigo Leão, coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), uma alta mais significativa dependerá de como os países da região, Rússia e China vão se posicionar em relação ao ataque:

— Veremos oscilações, e pode haver um aumento relevante. Em um Brasil que importa 17% do consumo interno, bem mais que os 5% de 2009, vai haver pressão para repasse nos preços.

Para André Hachem, analista de Óleo e Gás do Itaú BBA, a valorização da commodity é boa para a Petrobras, que é exportadora e atua em uma região sem conflitos.

— Estamos em uma região estável, e a produção brasileira não deve ser afetada. O risco é os preços do diesel e da gasolina aumentarem. A Petrobras tem estoque e um bom nível de hedge (proteção contra oscilações na cotação). Ela não precisa necessariamente ajustar agora. A companhia tem sido muito hábil em administrar esses momentos. Em setembro, quando a cotação aumentou 13%, ela não repassou imediatamente.

O Globo.