Noticiário sobre corrupção na gestão Kassab troca Serra por Haddad
Na esteira do transbordamento das práticas do império tucano em São Paulo ao longo dos últimos quase vinte anos, no mês passado foi revelado amplo esquema de corrupção envolvendo a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab. E, a cada dia, surgem mais denúncias, as quais já levam esse escândalo à casa das centenas de milhões de reais.
O esquema de corrupção de servidores da prefeitura da capital paulista teve início em 2006, ainda na gestão do então prefeito José Serra, e prosseguiu na gestão do então vice-prefeito, Gilberto Kassab, que, entre 2006 e 2008, substituiu o titular, que se candidatou ao governo do Estado e foi eleito. E entre 2008 e 2012, durante a segunda gestão Kassab, o esquema de corrupção perdurou.
Em janeiro de 2013, Fernando Haddad chega à prefeitura e, já nos primeiros dias, cria a Controladoria Geral do Município. Ao longo deste ano, o órgão recém-criado mostra a que veio e desvenda o esquema de corrupção que funcionou por seis anos sob os olhos dos prefeitos José Serra – tido como eminência parda na prefeitura paulistana mesmo quando foi governador do Estado – e Gilberto Kassab.
Logo após a explosão da denúncia, porém, surge um fato inusitado: durante as investigações conduzidas por ação expressa do governo Haddad, o atual secretário de governo da prefeitura, vereador Antonio Donato (PT), é citado em uma escuta contra os suspeitos. Ex-companheira do auditor fiscal Luís Alexandre Magalhães, apontado como um dos membros da quadrilha, afirmou que ele teria dado R$ 200 mil à campanha de Donato.
Até agora, apesar de não se ter confirmação dessa doação – que, mesmo que tivesse existido, não constituiria, por si só, prova alguma –, e apesar Donato ser um dos autores da investigação ao lado de Haddad, a mídia paulista vem superfaturando especulações malucas sobre a atual gestão – que investigou e denunciou o esquema corrupto – também estar envolvida.
Mais impressionante ainda é que José Serra, o grande responsável pela gestão Kassab, alguém que não apenas apadrinhou o ex-prefeito na política como fez dele seu vice-prefeito, e que, depois que deixou o cargo, monitorou e controlou cada passo do sucessor até a campanha eleitoral de 2012, não foi citado pela imprensa paulista nem uma só vez.
O tamanho do esquema de corrupção na administração Serra-Kassab na capital paulista vai sendo conhecido na imprensa dia após dia, mas pode-se dizer que a gestão Haddad, que desmascarou tal esquema, tem sido mais citada pelo noticiário do que os que governaram a cidade durante 100% do tempo em que a roubalheira foi praticada.
Na última segunda-feira, por exemplo, editorial do jornal Folha de São Paulo tenta confundir usando informações truncadas.
Abaixo, o trecho em que esse jornal tenta confundir o leitor:
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“(…) O episódio suscita questões embaraçosas para o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Por que agiam com tamanha certeza de impunidade? Sobrava proteção a essas práticas ou faltava investigação por parte dos órgãos públicos? Tampouco está livre de questionamento o prefeito Fernando Haddad (PT). É que Ronilson Bezerra Rodrigues, apontado como chefe do esquema, foi nomeado diretor de finanças da SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal) na atual administração. Além disso, o nome de Antonio Donato, secretário de Governo do petista, já apareceu ligado a Magalhães em escuta autorizada pela Justiça (…)”.
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Questionamento ao prefeito Fernando Haddad? Como assim? Então José Serra, responsável pela chegada de Kassab à prefeitura e eminência parda de seu governo entre 2006 e 2012, não é questionado de forma alguma e Haddad e seu secretário de governo, que desbarataram o esquema corrupto, “não estão livres de questionamento”?
Sobre a nomeação do ex-diretor de finanças Ronilson Bezerra Rodrigues pela gestão Haddad, a Folha só esqueceu de mencionar que esse servidor foi indicado por Kassab para a equipe de transição do governo anterior para o atual, e que Haddad já explicou que esse indivíduo foi mantido no cargo para que não desconfiasse das investigações de que estava sendo alvo.
Quanto à suposta doação do auditor fiscal Luís Alexandre Magalhães – um dos envolvidos no esquema de corrupção – à campanha eleitoral do secretário Antonio Donato, nem mesmo foi confirmada. E, mesmo se vier a ser, terá sido feita sem que o beneficiado tivesse como retribuir, até por então ser da oposição ao governo em que a corrupção funcionou.
Quer dizer que Haddad e Donato, que criaram o órgão que desbaratou o esquema de corrupção, que trabalharam o ano inteiro para que isso ocorresse e que poderiam, inclusive, nem ter criado o órgão ou investigado nada são acusados, mas Serra, que tem tanta responsabilidade na questão quanto Kassab, é escandalosamente poupado?
Há que repetir quanto for preciso: Haddad e Donato são os grandes responsáveis por a prefeitura de São Paulo ter denunciado o esquema que ela mesma abrigou entre 2006 e 2012. Poderiam não ter investigado, mas investigaram e denunciaram o que descobriram. É uma sandice, pois, insinuar que possam ter qualquer envolvimento no caso.
Aliás, sandice não: é má fé mesmo. Politicagem barata. Assim como o escandaloso acobertamento da responsabilidade de José Serra nisso tudo. Responsabilidade que, na opinião deste blog, é até maior do que a de Kassab. E que, sob qualquer critério minimamente sério, no mínimo existe e é muito grande.