Na surdina, Ibope e Datafolha fizeram a Bolsa despencar
Foi-se o tempo em que a direita midiática alardeava aos quatro ventos as quedas da Bolsa a fim de tentar prejudicar a campanha de Dilma Rousseff à Presidência. A dinâmica da eleição presidencial de 2014 transformou o que seria prejuízo para a petista, em lucro.
Agora, pelo visto, queda na Bolsa será inconveniente para a campanha de Aécio por sugerir que a adversária está ganhando terreno, de modo que Bolsa caindo não irá mais gerar alarde.
O Brasil é um país gozado. Formou-se a crença em que “o mercado” tem informações privilegiadas sobre o sobe-e-desce dos candidatos a presidente e, assim, sabe antes quando algum deles está se fortalecendo ou enfraquecendo.
Aliás, está longe de ser mera crença dizer que o mercado tem informações privilegiadas sobre pesquisas. Como tem sido visto, trata-se de um fato.
Nesse contexto, a semana que termina foi de forte alta do Ibovespa, que antecipava que Aécio apareceria bem à frente de Dilma nas pesquisas, dando continuidade à trajetória ascendente que o fez ultrapassar Marina Silva e chegar ao segundo turno.
Até quinta-feira, o Ibovespa disparou. Houve dia em que subiu 7,99% na máxima do dia. Mas foi só até quinta, quando, no final do dia, foram divulgadas as pesquisas Datafolha e Ibope. Por conta delas, nesta sexta a Bolsa despencou 3,42%, anulando boa parte dos ganhos da semana.
Só repassando os fatos: as duas pesquisas deram o mesmo resultado, inclusive numericamente. Dilma (49%) e Aécio Neves (51%) apareceram empatados tecnicamente, com vantagem do tucano apenas dentro da margem de erro.
Apesar de haver petista que não gostou e de haver tucano que gostou, quem entende do traçado e quer que Aécio vença, não gostou. Ou seja: “o mercado” não gostou das duas pesquisas. Achou que dão a Dilma “expectativa razoável” de vitória sobre Aécio.
Quem diz não é este que escreve, mas Eduardo Velho, economista-chefe da corretora Invx Global. Segundo ele, Datafolha e Ibope mostraram “pequena margem” de Aécio sobre Dilma. “A Bolsa, então, cai com os investidores embolsando lucros diante da expectativa razoável de que Dilma ganhe e dê continuidade a sua política econômica e fiscal”, diz o executivo.
Outro especulador da Bolsa que enxergou da mesma forma as pesquisas Datafolha e Ibope foi Pedro Galdi, da SLW Corretora, para quem os investidores decidiram “realizar lucro” porque as pesquisas mostraram “margem menor para Aécio do que era esperada pelo mercado”.
Galdi, porém, mantém a esperança em pesquisas “melhores” para a especulação financeira. Diz que “Neste final de semana saem duas pesquisas que devem trazer já a percepção de como essas notícias [sobre o escândalo da Petrobrás] vão impactar cada candidatura”.
Seja como for, ao menos no que diz respeito às pesquisas publicadas na última quinta-feira, os analistas estão certos: elas foram boas para Dilma e razoavelmente decepcionantes para Aécio devido ao fato de que a onda que se criou ao fim do 1º turno gerou expectativa de que ele apareceria com vantagem real sobre a adversária, não apenas dentro da margem de erro.
As duas pesquisas mostram, para depressão do “mercado”, que Dilma não só está no jogo, mas que conseguiu absorver parte dos votos de outros candidatos do primeiro turno, ainda que menor do que a parte de Aécio, quem, por outro lado, precisava mesmo crescer mais.
Aliás, apesar de os dois especuladores supracitados terem atribuído parte da forte queda da Bolsa na sexta ao “cenário externo”, o fato é que esse cenário externo ruim – que Armínio Fraga nega que exista – esteve sempre aí. O que houve de novo foram mesmo as pesquisas.
Agora, resta esperar as pesquisas deste fim de semana para ver no que deu a mais nova denúncia pré-eleitoral desta eleição contra o PT. Apesar de essas denúncias virem pingando ao longo de todo o primeiro turno, espera-se que o diminuto contingente do eleitorado que ainda não se decidiu penda para Aécio achando que ele, sim, é honesto para mais de metro.
Ciente desse fato, o programa eleitoral de Dilma Rousseff de sexta-feira (10) bateu duro em Aécio, no PSDB e até em Fernando Henrique Cardoso. Contudo, não disse uma palavra sobre o bombardeio de Dilma pela mídia. Talvez à espera de queda dela nas pesquisas…