Movimento Tea Party e o fascismo à brasileira
Atualizado às 12h50m de 3 de novembro de 2010
O resultado da eleição presidencial no Brasil, com a vitória da centro-esquerda governista contra uma coalizão oposicionista que ia da centro-direita à ultra-direita radical e que inclui, dizem a boca pequena, até movimentos neonazistas, suscita temor quanto à possibilidade de ocorrer por aqui o que ocorre neste exato momento nos Estados Unidos, com a “entrada triunfal” do movimento radical conservador Tea Party no congresso.
O Tea Party (em inglês: Tea Party movement) é um movimento social, político, conservador e liberal surgido nos Estados Unidos nos últimos anos através de uma série de protestos em resposta a diversas leis federais como o Plano de resgate econômico de 2008, a Lei de Recuperação e Reinvestimento dos Estados Unidos de 2009 e projetos de reforma do sistema de saúde estadunidense.
O caráter fascista – ou nazista – do Tea Party é inegável pelo seu lado obscuro e não assumido, que guarda similitude com movimentos racistas anti-imigrantes que ganham corpo na Europa Central, onde asiáticos, latinos, africanos e gays chegam a ser atacados por jovens que cultuam idéias nazistas que em nada perdem para as que se vê em redes sociais no Brasil, com manifestação explícita contra nordestinos,sobretudo, mas também contra negros e homossexuais. E, lógico, contra o aborto.
Durante a recente campanha eleitoral brasileira, com o abalo da candidatura Dilma Rousseff ao fim do primeiro turno por conta de movimentos conservadores cristãos radicais sob orquestração da campanha do tucano José Serra, com táticas de panfletagem difamatória contra a adversária, com sites acusando-a de “homossexualismo” e com criação de pretextos para violência como o factóide da bolinha de papel atirada na careca de Serra, que gerou suspeita de que fora atirada por um dos seus próprios seguranças, tudo isso concede fôlego às teorias de que a ascensão da ultra-direita neonazista ocorre em nível planetário.
A “entrada triunfal” do movimento Tea Party no congresso norte-americano após a eleição legislativa desta semana sugere a institucionalização de movimentos ultra-conservadores em uma democracia que tanto exerce influência sobre os usos e costumes da nossa política.
As dificuldades que Obama enfrenta devido à resiliência da crise econômica o têm obrigado a assistir impotente à direita do partido Democrata assumir o controle de seu governo, dando asas à ultra-direita republicana.
Esse fenômeno ainda não está no campo de visão brasileiro, mas os crimes de racismo de movimentos neonazistas e de inocentes úteis na internet e o surgimento – ainda insipiente – de violência em nossas relações políticas devem colocar os democratas brasileiros com as barbas de molho.
Há leis neste país que podem – e precisam – ser usadas contra a onda neonazista que vem promovendo agressões verbais a negros, nordestinos e homossexuais em redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter. Lamentavelmente, a liberdade para essas manifestações odiosas ainda é tanta que até mesmo jovens de classe média alta as praticam despreocupadamente, muitas vezes sem perceber que estão cometendo crimes.
É inevitável a associação entre os movimentos cristãos radicais e as forças ultra-conservadoras que se aglutinaram no entorno da candidatura do PSDB, do DEM e do PPS à Presidência. É inevitável supor, também, que a tolerância da Polícia Federal e do Ministério Público com os movimentos racistas e ultra-conservadores nas redes sociais pode ter relação com existência de simpatizantes desses grupos nos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
Faz-se urgente que não só o presidente Lula mas também a presidente eleita, Dilma Rousseff, comecem a se inteirar e a se manifestar contra essas ameaças à democracia e ao Estado de Direito. O que não faltam são indícios de que um câncer social tenta se infiltrar no seio de uma sociedade em que os alvos do preconceito e da intolerância são freqüentemente vitimados sem que punições exemplares ocorram.
Vídeo mostra manifestações de racismo em redes sociais
Por Ju Freitas