Mitos sobre a aprovação a Dilma
O Datafolha é o único grande instituto que vem fazendo sondagens periódicas – e, portanto, comparáveis entre si – sobre a popularidade de Dilma Rousseff. Sua pesquisa divulgada pela Folha de São Paulo neste domingo (sem chamada na primeira página) já é a terceira em 2011, enquanto que outros institutos (Ibope e Vox Populi) têm divulgado pesquisas “soltas”, mas que concordam com os números do concorrente.
Pesquisas de opinião pública são fascinantes. Sobretudo as que versam sobre política. A leitura delas demanda mente aberta e baixo teor de idiossincrasia de quem as lê para que possa enxergar o que mostram. É fácil fazer com que um número bom seja apresentado como ruim e com que um número ruim seja apresentado como bom.
A aprovação de Dilma pela população, nesse aspecto, desde o primeiro resultado divulgado neste ano já denotava uma situação que merece ser analisada sem a lente da idiossincrasia.
Aliás, vale dizer que este blog foi pioneiro nessa questão ao divulgar, antes, pesquisa de um instituto desconhecido que antecipou o resultado das pesquisas Datafolha, Ibope e Vox Populi feitas neste ano. Aquela sondagem saiu em março, antes da primeira do Datafolha. Foi feita pelo Instituto Análise, do sociólogo Carlos Alberto de Almeida, autor de “A Cabeça do Eleitor”, e já mostrava o que as outras mostrariam, que Dilma tem ao redor de 50% de bom e ótimo.
Aquela foi a primeira pesquisa sobre a popularidade de Dilma que a comparava com a de Lula em 2003. Foi divulgada aqui em 12 de março e a primeira pesquisa Datafolha só sairia no dia 21 daquele mês. Posteriormente, outras pesquisas compararam a popularidade da presidente com a do antecessor no início de seu primeiro mandato.
O ex-presidente Lula encerrou seu governo no auge de sua popularidade. Após oito anos, o Datafolha detectou que 83% dos brasileiros avaliavam sua gestão como ótima ou boa e 4% consideravam-na ruim ou péssima. Porém, em março de 2003 tinha 43% de bom e ótimo e 10% de ruim ou péssimo.
Já a pesquisa Datafolha realizada em março mostrava que 47% dos brasileiros consideravam a gestão Dilma boa ou ótima e 7% consideravam-na ruim ou péssima. Hoje, na terceira edição do Datafolha, o governo é considerado bom ou ótimo por 48% e o índice de ruim ou péssimo foi a 11%.
O que aconteceu para que mais de um terço dos brasileiros deixasse de considerar o governo bom ou ótimo? Foi só a mudança de nomes ou essa massa humana enxerga algo mais de negativo, preocupante ou pelo menos incerto no atual governo?
Outros presidentes lograram marcas similares. Em junho de 1990, Fernando Collor era considerado ótimo ou bom por 36% dos entrevistados e ruim ou péssimo por 19%; em período equivalente de seu primeiro mandato, Fernando Henrique Cardoso tinha 39% de bom e ótimo contra 16% de ruim ou péssimo.
A grande pergunta que precisa ser feita neste momento, portanto, é a seguinte: é correto comparar o governo Dilma, em seu início, com governos anteriores quando começaram?
Em primeiro lugar, há que se ter em mente que o governo Dilma não é propriamente um governo novo. Ela foi eleita sob a fiança de Lula e isso ninguém discute. Na verdade, portanto, seu governo tem oito anos e sete meses, no mínimo. Até porque, Lula tem se mostrado presente e participante do governo da sucessora, apesar de a mídia vir insistindo na tese de ruptura entre eles.
Um dado da nova pesquisa Datafolha chama atenção, o considerável aumento do índice de ruim e péssimo de Dilma, que aumentou quase 60% desde a posse, indo de 7% para 11%. São milhões de brasileiros que se juntaram àqueles 4% que atravessaram o governo Lula considerando ruim ou péssimo um presidente que só os mais desatinados conseguem negar que mudou o Brasil para muito melhor.
As causas da piora dos dados relativos sobre a popularidade de Dilma são assunto para outro post. Neste, o que se quer destacar é que as coisas não caminham tão bem quanto a própria mídia tucana, na opinião deste blog, quer fazer parecer para que Dilma, que a mesma mídia acaba de elogiar ao noticiar que enterrou o projeto de regulação da mídia deixado por Franklin Martins, prossiga na mesma rota perigosa.