Segundo governo Dilma será muito mais de esquerda que o primeiro

Análise

 

Chegamos à véspera daquela que talvez seja a eleição mais importante da história deste país. Desde o golpe de 1964 não se via levante da direita tal qual ocorreu ao longo dos últimos 15 meses. Esse processo ensinou muita coisa a Dilma Rousseff e ao PT.

O plano da direita para retomar o poder é literalmente estarrecedor. Marina Silva, liderança antiga da esquerda, mudou de lado. Porém, sem dizer nada. Com isso, conseguiu articular o plano mais diabólico que já testemunhei.

A “Rede” de Marina engabelou partidos realmente de esquerda, mas da esquerda de oposição ao governo do PT. Com isso, fez os bem-intencionados partidos esquerdistas ajudá-la a derrubar a popularidade de Dilma com as “jornadas de junho”.

Ao longo das últimas semanas, porém, várias lideranças de partidos como o PSOL se deram conta do que aquelas manifestações, sob a eminência parda Marina Silva, pretendiam. Assim, com espírito público e humildade o PSOL tem sido imprescindível para tentar evitar a volta da direita ao poder.

No segundo turno, apenas o PSOL, oficiosamente, passou a apoiar o PT. E, claro, alguns segmentos do PSB, os segmentos legitimamente de esquerda, como o ex-presidente do partido Roberto Amaral.

Oficiosamente, porém, toda a esquerda está com Dilma neste segundo turno.

O efeito dessa reaproximação do PT e de Dilma com a esquerda mais autêntica terá como subproduto um segundo governo petista muito mais de esquerda. Até porque, Dilma percebeu o que não percebia: não há contemporização possível com a direita midiática.

Em 2015, os Poderes Executivo e Legislativo se situarão em campos opostos. Não é novidade para ninguém que os fenômenos relatados acima desembocaram no Congresso mais conservador desde a ditadura militar.

O avanço da direita no Legislativo, porém, a partir da próxima legislatura irá se contrapor a um poder executivo que a direita empurrou para a esquerda.

Primeira mudança: no final de setembro, a presidente da República garantiu a este Blog, em entrevista, que, em seu segundo mandato, travará o bom combate contra a direita midiática.

Segunda mudança: os apoios decididos de lideranças psolistas como Jean Willys, Marcelo Freixo e outras farão o PSOL ser tratado de outra forma pela presidente reeleita e pelo PT. Não se exclui a possibilidade de o PSOL ser convidado a participar do novo governo.

Terceira mudança: a aproximação de Dilma com o movimento sindical e com os movimentos sociais será muito maior. Até pelo bem do Brasil.

Quarta mudança: Dilma e o PT finalmente entenderam que um marco regulatório da mídia e a democratização das comunicações são agendas urgentes para o país. E devem trabalhar para que essas políticas sejam postas em prática.

Quinta mudança: acabou o tempo de Dilma apanhar calada da mídia e da oposição.

Sexta mudança: Dilma deverá buscar mais apoio da sociedade a políticas públicas de seu interesse. Recorrerá às ruas para pressionar o Congresso mais conservador.

O efeito disso será imediato. A direita tentará derrubar Dilma com um “golpe branco”, via impeachment. Essa é uma certeza. E isso ocorrerá mesmo se a presidente fizer acenos e concessões à direita. Desse modo, será melhor nem tentar. Será enganada.

Não se pode prever, portanto, um segundo mandato mais tranquilo, do ponto de vista político. Todavia, em um país injusto como o Brasil a “paz” política que tivemos no primeiro mandato é a paz dos cemitérios.

Que venha o embate, pois. A esquerda, unida, não pode ser vencida. Governa para o povo. A divisão é que fez a direita se erguer dessa forma. Unida, a esquerda poderá extrair das ruas o apoio que possa vir a lhe faltar no Congresso.

A PSOL, PSTU, PCO, PCB e congêneres, envio uma mensagem: o país conta com vocês. Se a direita conseguir derrubar Dilma em seu provável segundo mandato, o retrocesso dizimará a esquerda brasileira. Vamos à luta.