A estratégia de Dilma para atravessar 2015

Análise

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Eis que chegamos ao último post de 2014, ano que termina em meio à antecipação de medidas que irão viger no segundo governo Dilma Rousseff – a saber, os anúncios de parte do novo ministério e de redução de BENEFÍCIOS trabalhistas.

Tanto o que diz respeito à composição política do novo governo quanto o que a mídia oposicionista vem chamando de “redução de direitos trabalhistas” integram estratégia montada pela presidente e sua equipe para vencer um ano que será o mais duro enfrentado pelos governos do PT desde que começou a governar o país, em 2003.

Vale registrar que desde que foi anunciada redução de BENEFÍCIOS trabalhistas nos telejornais da noite de segunda-feira (29) que o autor desta página vem sendo procurado por leitores que pedem sua interpretação dessa redução.

Antes de adentrar o tema central do texto (a estratégia político-econômica do governo para o ano que chega), há que analisar que condições são essas que fazem de 2015 o ano mais difícil para o governo do PT desde que o partido chegou ao poder.

O quadro abaixo mostra que partidos ganharam e que partidos perderam representação na Câmara dos Deputados na próxima Legislatura. Analisemos.

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Apesar de o PT ter eleito a maior bancada da Câmara, essa bancada sofreu forte redução. O mesmo se deu com o PMDB. Assim, com a perda de representação dos dois maiores partidos da base aliada, essa base será menor no segundo governo Dilma, enquanto que a oposição chega reforçada ao novo Congresso, com o PSDB ganhando força e liderança para fustigar o novo governo.

Enquanto isso, analistas econômicos já preveem que a política irá prejudicar a economia, sobretudo porque o suspense que as autoridades judiciárias e o Ministério Público estão fazendo sobre os envolvidos na operação Lava Jato torna incerto o futuro, o que inibe ainda mais os investimentos.

Então ficamos assim: governo politicamente mais fraco no Legislativo e economia quase sub judice – exageros à parte. E, como se não bastasse, mídia e oposição vêm flertando abertamente com a ideia de interromper o novo mandato de Dilma, caso o cavalo lhes passe encilhado à porta.

A estratégia dos adversários de Dilma para 2015 fica clara nos comentários políticos na mídia que sucederam o anúncio de redução de certos BENEFÍCIOS trabalhistas. Tomemos como exemplo o seguro desemprego. Pelas novas regras, só será pago após um ano e meio seguido de trabalho e não mais após seis meses.

Antes de prosseguir, vale analisar a história do seguro-desemprego, implantado no Brasil durante o governo José Sarney.

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A matéria acima é de 1998, no estertor do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso. Como se vê na matéria, àquela época o país tinha 4,4 milhões de desempregados para uma população de 158 milhões. Hoje, o Brasil tem 1,2 milhões de desempregados para uma população de mais de 200 milhões.

Não é segredo para ninguém que o país hoje, apesar da crise, vive uma situação de quase pleno emprego – em novembro, a Pesquisa Mensal do Emprego, do IBGE, detectou 4,8% de desempregados em um país que há pouco mais de dez anos tinha cerca de 12% de desemprego.

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Como se vê, mudar a regra do seguro desemprego, neste momento, faz todo sentido porque a massa desempregada é muito pequena, praticamente residual.

Por outro lado, as novas medidas do governo no que diz respeito ao Trabalho, também se amparam em lógica, em redução de bondades exageradas que vêm custando caro ao país sem necessidade.

Matéria da Folha de São Paulo do último dia 29 de dezembro sobre endurecimento das regras de concessão de pensões por morte reflete o problema que as medidas do governo corrigiram.

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Independentemente disso tudo, porém, o que se vê é uma manipulação descarada dos fatos. No mesmo jornal que apresentou dados corretos, vemos um colunista dizendo que Dilma estaria cometendo estelionato eleitoral ao mudar concessão de BENEFÍCIOS trabalhistas exagerados que, adequados à realidade, podem melhorar as contas públicas.

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O leitor deve ter notado que a palavra BENEFÍCIO aparece em destaque ao longo do texto. Isso se deve ao fato de que não houve redução alguma de direitos trabalhistas. O que sofreu redução foram benefícios. Direitos do trabalhador que Dilma prometeu não tocar, durante a campanha, referem-se a fundo de garantia, 13º salário etc., etc.

Não é de hoje que o PSDB flerta com redução desses direitos. E, à diferença do que diz o colunista da Folha, as medidas adotadas por Dilma estão longe de ser “duras”.

Esse preâmbulo serviu para contextualizar o ambiente em que Dilma começa o primeiro mandato. Os entusiastas de arrocho salarial e supressão de DIREITOS trabalhistas se farão de indignados com medidas necessárias de ajuste na economia.

Essas medidas de ajuste se fazem necessárias porque, para impedir que o povo sentisse a crise, o governo acabou permitindo certa piora nas contas públicas que poderá ser corrigida com medidas brandas como as anunciadas nesta semana.

Ao contrário do que dizem, Dilma não disse, durante a campanha eleitoral, que não faria ajustes na economia. O que ela disse foi que a intensidade dos seus ajustes seria muito menor do que a dos adversários Marina Silva ou Aécio Neves, sobretudo no que diz respeito ao nível de emprego.

Com a base aliada mais fraca e menos fiel no Congresso, Dilma optou por um novo ministério composto por articuladores políticos que ajudarão a fidelizar mais essa base aliada. Além disso, já começou a adotar medidas que devem pôr em ordem as contas públicas sem maiores sacrifícios para o trabalhador.

Por último, os fatos mostram que a Comunicação receberá prioridade no segundo mandato. As indicações de Ricardo Berzoini para o Ministério das Comunicações e de Alessandro Molon (*)(PT_MG) para a Secom revelam essa estratégia.

Berzoini é conhecido dos leitores desta página. Já o entrevistei algumas vezes. Só em 2014 foram duas  – aqui e aqui. Quanto a Molon, ele é, simplesmente, o patrono do Marco Civil da Internet.

Agora, se me perguntarem se essa estratégia de Dilma para enfrentar o golpismo tucano-midiático em 2015 será suficiente ou adequada, terei que responder que não sei, que me falta uma bola de cristal. Porém, para mim está claro que Dilma não está cochilando.

(*) Após a confirmação dos nomes de ministros que faltavam, ficou-se sabendo que Thomas Trauman será mantido na Secom.