Globo terá que torcer por Haddad/Lula

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De todas as ironias mais poéticas que já se viu neste país, a campeã é a quase obrigatoriedade para que a Globo torça muito para que Fernando Haddad vença a eleição, porque sua arqui-inimiga mortal, a Record, fechou acordo com Bolsonaro e, se ele vencer, o poder de Estado será usado para fortalecer a emissora de Edir Macedo. A Globo só colhe o que plantou.

Para os que possam achar que a vantagem de Bolsonaro foi muito grande no primeiro turno, vale lembrar que ele se beneficiou da objetividade da direita, que concentrou seus votos no candidato fascista e abandonou os de centro direita – Alckmin e os candidatos banqueiros – enquanto que a esquerda pulverizou seus votos entre Ciro Gomes e Marina Silva.

Além disso, pesquisa Datafolha mostrou que Haddad vai herdar a maioria dos votos de Geraldo Alckmin, porque os eleitores de direita dele foram todos para Bolsonaro e só lhe sobrou os realmente social-democratas.

Mas a grande ironia, uma justiça divina, reside no fato de que a Globo vai ter que torcer muito pela vitória de Fernando Haddad. A colunista de O Globo, Miriam Leitão, deixa claro isso texto denunciando o privilégio ilegal que a Record concedeu a Bolsonaro.

Diz a colunista que:

“Jair Bolsonaro, o líder das pesquisas, tem feito o que quer. A violência que ele sofreu não revogou as leis eleitorais, mas o TSE tem se mantido numa inquietante aquiescência. É preciso dar espaços equânimes aos candidatos. [Enquanto que na Globo] os candidatos se submetiam ao contraditório (…) Bolsonaro falava para uma emissora [Record] na qual o chefe, o bispo Edir Macedo, já declarou seu voto nele”

Miriam Leitão acertou. Foi crime eleitoral. A Record, por lei, era obrigada a ter dado espaço para todos os candidatos mais fortes, mas deu somente a Bolsonaro.

Mas a questão nem é essa. A preocupação da Globo é que, ironia das ironias, a Record vai percorrer o mesmo caminho que a emissora da família Marinho percorreu na ditadura militar, enchendo os bolsos de dinheiro público para falar bem do regime.

Bolsonaro não quis acordo com a Globo porque é um candidato de discurso moralista e a Globo tem em sua programação (novelas, etc.) casais homossexuais, cenas liberais de romances (insinuação sexual) etc.

Como o eleitorado de Bolsonaro é essencialmente machista, fanático religioso e homofóbico, e as exigências da Record seriam menores se ele vencesse o segundo turno, aderiu à emissora de Edir Macedo, que será a tevê do regime, se vitória fascista houver.

Se Bolsonaro se eleger, não dará apenas dinheiro público aos montes para a Record; irá moldar a legislação para favorecer sua rede particular de televisão, como a Globo conseguiu que sucessivos governos fizessem, tendo, até o governo FHC, poder para nomear e vetar ministros etc.

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